Por que você deveria parar de ver pornô (e como fazer isso)

De problemas físicos a psicológicos - em você ou em outras pessoas - há motivos suficientes para você considerar parar de ver pornô.

Talvez você não saiba, mas achar que seu pinto é pequeno, ter problemas no sexo ou nos relacionamentos e se sentir incompatível ou objetificando constantemente mulheres são questões que podem têm uma origem em comum. A pornografia. Então saiba que esse é um texto que vai tentar explicar esse processo – e terminar com uma recomendação: você deveria considerar seriamente parar de ver pornô (ou pelo menos diminuir seu consumo).

Vamos lá. Um pouco de contexto primeiro. O acesso à pornografia está mais fácil do que nunca. Graças à internet móvel e acessível, vídeos e imagens explícitas estão a apenas alguns toques de distância – como tudo na vida moderna. Não é surpreendente, então, que estudos mostrem que a maioria de nós já viu algum tipo de pornô de alguma forma pelo menos uma vez.

O problema é que há quem não se canse da coisa. Um experimento recente do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cambridge descobriu que pessoas com “comportamento sexual compulsivo” mostram diferentes padrões de atividade cerebral ao visualizar imagens eróticas se comparados com pessoas “saudáveis”. Esses padrões são semelhantes aos observados no uso de drogas. Diversos cientistas defendem que a dependência em pornografia existe e é real. E, mesmo que não seja o seu caso, você, como consumidor de pornografia, deveria saber sobre isso.

É fácil comer, pagar e sair. Mas está na hora de conhecer a cozinha do lugar em que você consome.

Os bastidores da indústria pornográfica

Os bastidores da indústria pornô

Há até pouquíssimo tempo, não se falava quase nada sobre os bastidores dos filmes pornôs. Atores do gênero sempre foram super valorizados e a pornografia era vista como um universo fantasioso e incrível. Ninguém falava em parar de ver pornô, só em como conseguir ver mais.

Mas a facilitação do acesso ao conteúdo também serviu para que os consumidores conhecessem mais sobre a parte atrás das câmeras – e aí começaram a aparecer os podres. Histórias de abusos e exploração das atrizes são comuns, assim como as mais diversas formas de estupros e crimes.

Veja o exemplo do Pornhub. O site de pornografia mais acessado do mundo, com 40 bilhões de visitas por ano, foi obrigado a fazer uma limpa em seu acervo depois que denúncias de abusos vieram à tona e patrocinadores começaram a pular fora. Cerca de 80% dos vídeos subidos por usuários do site foram deletados. Em números: mais de 10 milhões de vídeos contendo estupros, abuso sexual e até infantil foram apagados.

O problema com as atrizes pornô

Tráfico sexual na pornografia

O que nos leva a outra questão. A ideia de que atrizes pornô são famosas e bem-sucedidas é como pensar que todo jogador de futebol é rico e conhecido. Em 95% dos casos, isso é mentira.

Nos últimos anos, as mesmas denúncias que jogaram luz sobre os abusos alertaram para um problema igualmente grave, o tráfico sexual. Funciona assim: algumas produtoras convidam meninas de outros países para participar de um filme normal, pagando passagem e hospedagem e prometendo cachês justos; mas quando elas chegam no lugar, os produtores revelam que trata-se de um filme pornô.

Essas atrizes são frequentemente submetidas à violência e à coerção durante as filmagens. Com frequência, reclamam e tentam parar ou desistir, mas são ignoradas e pressionadas. Além disso, a remuneração “justa” para uma ponta em um filme convencional acaba virando um peço simbólico (quando pago) para quem se expôs transando em vídeo. E filmes que foram prometidos apenas para algum mercado específico, como um país determinado, acabam sendo distribuídos em diversos continentes, replicados por diversos sites pornôs. Tudo isso se enquadra na definição de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual.

Abusos de atrizes de pornô

Exploradas, algumas dessas mulheres acabam tendo suas vidas destruídas e se voltando à prostituição ou às drogas – muitas se tornam dependentes enquanto estão gravando, usando substâncias que “facilitem” o trabalho. Isso sem falar nas atrizes “amadoras” que tiveram vídeos íntimos vazados e nunca conseguiram rastreá-los e apagá-los dos milhões de acervos pornográficos existentes no mundo.

Então, sim, temos um grande problema aí.

Os problemas com quem consome pornô

Visão errada da pornografia

Ok, bem longe fisicamente de toda essa exploração, a milhares de quilômetros e uma tela de distância, está você, querendo saber como tudo isso te afeta. Cada caso é um caso, mas há várias formas.

Segundo pesquisas, atualmente os jovens começam a ver pornografia entre os 9 e os 11 anos, em média. Em sociedades que não discutem a educação sexual nas escolas, a pornografia vira sala de aula. Se aprende que aquilo é o normal e que os grandes pintos, as vaginas sem pelos, as transas de uma hora e os orgasmos exagerados são o padrão. E aí o jovem quebra a cara ao chegar no sexo real – quando chega.

Pornografia como escola errada

Há diversos estudos ligando a pornografia aos problemas de relacionamento: pornô faz homens terem menos interesse em suas parceiras ou parceiros, podem levar a menos prazer durante relações sexuais e também ser, estatisticamente, sinal de que a separação está a caminho.

Há ainda os que ligam o pornô a problemas de saúde, dizendo que assistir pornografia faz diminuir a parte do cérebro ligada ao prazer e a sensibilidade do pênis, levando à disfunção erétil.

Para todos esses estudos existem também argumentos contrários, claro. Mas é importante saber que eles existem.

Como parar de ver pornô?

Por que parar de ver pornô

Veja bem, a intenção desde texto não é ser moralista ou controlar o que você consome. Pelo contrário, o MHM é um grande defensor da masturbação e já fez muitos textos exaltando a pornografia. Mas chegou a hora de deixar claras duas coisas: primeiro, que a indústria do pornô é uma merda e, segundo, que, quando consumido em excesso (como tudo), o pornô vai acabar com você.

Se quiser começar a parar de ver pornô, há algumas coisas que você deve ter em mente. Vamos a elas:

  • Pornografia e masturbação são coisas diferentes. Não precisa parar as duas ao tentar consumir menos pornô. Você vai sentir vontade de se masturbar e deve saciá-la, o que é normal e saudável – estudos dizem que três ejaculações por semana fazem bem a qualquer um.
  • Há muitas formas de se excitar e se masturbar. Você pode usar a boa e velha imaginação, pode trocar mensagens sacanas com as pessoas com quem está saindo (veja aqui como fazer isso) e pode recorrer à memória ou (com autorização e muito cuidado) manter no seu celular fotos e vídeos da sua parceira ou parceiro para usar quando quiser.
  • Fale sobre isso. Você não sabe se tem um problema com pornografia? Desabafe com amigos, parceiros, conhecidos, terapeutas (por R$ 1 você consegue agendar uma consulta), qualquer pessoa. Pergunte e compare seu nível de consumo com os deles, diga que você tem dúvidas. Todo mundo se masturba e todo mundo vê ou já viu pornografia, então não tenha vergonha de lançar o assunto.
Compartilhe
Felipe Blumen
Felipe Blumen

Historiador, jornalista de lifestyle e fã de foguetes, Corinthians, gibis e outras bagunças.

Comentários
Importante - Os comentários realizados nesse artigo são de inteira responsabilidade do autor (você), antes de expressar sua opinião sobre temas sensíveis, leia nossos termos de uso