O vício em pornografia e masturbação não veio de uma vez na minha vida. Ele foi se instalando aos poucos e tomando conta de tudo até eu perder o controle. Tenho 27 anos e há 2 anos, aproximadamente, me reconheço como um viciado.
Na adolescência descobri a masturbação (acredito que a maioria das pessoas passou por essa fase) e como todo adolescente eu vivia “fazendo justiça com as próprias mãos”. Nessa época, o acesso a pornografia era bem mais restrito.
Tudo o que nós tínhamos eram revistas, filmes do Cine Privé da Band (ficar até a madrugada de sábado acordado para ver peitos e ainda correndo o risco da mãe acordar e ver você na sala assistindo filme erótico) e filmes em vídeo cassete ou cds pra assistir no computador.
A internet ainda estava num período bem precário, a conexão era discada (o telefone ficava o final de semana todo ocupado), não havia grandes sites de busca e levava-se mais de um final de semana inteiro para baixar um vídeo de poucos minutos em programas como o Emule.
Portanto, apesar da masturbação sempre fazer parte da minha vida, a pornografia ainda não era uma constante. A partir do momento que eu mudei para uma cidade grande, cerca de 7 anos atrás, e assinei um plano de internet banda larga e foi aí que a situação mudou.
Havia uma infinidade de sites, atrizes pornôs, categorias de sexo das mais variadas, era um mundo totalmente novo. O que me interessava era simplesmente o sexo heterossexual entre duas pessoas.
Não me interessava em sexo grupal, achava gangbang algo exagerado, e fugia vídeos de travestis. Consumia pornografia algumas vezes por semana, pois ocupava o tempo com faculdade, trabalho, sair com amigos e outras coisas.
Mas com o tempo a frequência com que eu consumia pornografia foi aumentando. Como tinha um computador que ficava no quarto que eu dividia com meu irmão, eu aproveitava os momentos que não tinha ninguém por perto e ia me masturbar com pornografia.
Algumas vezes eu preferia ficar em casa a noite do que sair com amigos. Mesmo assim, nunca havia pensado que isso pudesse ser o início de um vício.
Terminei a faculdade e logo comecei a trabalhar. Ficava o dia todo no trabalho e nas oportunidades que ficava sozinho no escritório, ia no banheiro me masturbar. Mas me masturbar sem pornografia não me satisfazia.
Nesse período iniciei o relacionamento com minha atual namorada. Fiquei algum tempo longe da pornografia, porque fazíamos sexo com muita frequência. Mas logo fui voltando aos sites pornôs.
Conforme a masturbação e a pornografia iam aumentando, o sexo real com minha namorada ficava cada vez mais sem graça para mim. Eu precisava pensar em atrizes pornôs para chegar ao orgasmo.
Algum tempo depois fui demitido. Resolvi que ia usar o dinheiro do FGTS e do seguro desemprego para estudar e passar em um concurso público. Assim, ficava o dia todo em casa para estudar. O que eu achei que seria uma ótima ideia foi apenas uma armadilha.
Dividia o estudo com os sites pornográficos. O sexo convencional começou a perder a graça e passei a ver vídeos de gangbang, humilhação, travestis, masoquismo e outras categorias que nunca haviam me despertado interesse.
Comecei a ficar cada vez mais recluso, não gostava de sair de casa e nem de receber visitas. Não tinha prazer em mais nada a não ser assistir pornografia e me masturbar. Conforme minha vida social ia diminuindo, crescia em mim uma forte fobia social.
Me sentia ansioso em ir em qualquer lugar que tivesse muitas pessoas. Minha vida pessoal também piorou. Procrastinar virou algo normal para mim. Como não conseguia ter controle da minha vida fiquei cada vez mais depressivo.
No entanto eu não achava que toda essa bagunça na minha vida tivesse qualquer relação com o vício em pornografia. Eu pensava que era um momento difícil por estar sem emprego e que a pornografia estava me ajudando a aguentar isso.
Até que um dia, por acaso, encontrei no Youtube um vídeo do Gary Wilson onde ele falava do vício em pornografia.
Eu me vi ali. Tudo que ele falou era o que estava acontecendo na minha vida. Percebi, finalmente, que eu estava viciado em pornografia, masturbação e orgasmo (que costumamos chamar de PMO).
Ao pesquisar sobre o assunto, encontrei fóruns com várias pessoas que passavam pelo mesmo que eu. Com a ajuda dessas pessoas, decidi iniciar meu processo para me livrar desse vício.
O vício em PMO, assim como vários outros vícios, começa com uma busca pelo prazer. Com o tempo todas as outras coisas vão ficando sem graça e você sente que só PMO pode te dar prazer. Mas até os vídeos pornôs começam a ficar sem graça pois seu cérebro fica anestesiado de tanto assistir a mesma coisa.
A partir daí seu cérebro começa a procura estimular, além do prazer, a novidade. Coisas que nunca te traziam interesse começam a te dar tesão.
Você começa a utilizar PMO para enfrentar qualquer problema. Se está nervoso, você se masturba, se está ansioso também, se está triste também. Chega um momento em que você vira refém disso.
Um dos métodos sugeridos pelos especialistas, e que ex-viciados garantem que funciona, é o reboot. O reboot é um processo de “desintoxicação” onde deve-se abrir mão de PMO por 90 dias. Eu sei, parece algo absurdo ficar tanto tempo sem isso. Mas, segundo especialistas, esse período serve para seu cérebro se rearranjar e para que a pessoa volte a sentir prazer em outras coisas.
O principal objetivo do reboot é ficar longe da pornografia, que é o mais viciante. Assim, se a pessoa não conseguir se controlar, que pratique a masturbação sem recorrer a pornografia. O sexo durante o reboot pode ajudar também. Mas para um viciado é muito difícil concluir o reboot.
O período mais longo que eu consegui ficar sem PMO foi de 32 dias. Num final de semana sozinho eu recaí e fiquei durante 6 horas seguidas me masturbando compulsivamente.
Esse é um problema dos viciados, quer seja em pornografia ou em substâncias como álcool e drogas. A abstinência é muito forte e o seu cérebro tenta encontrar diversas desculpas para voltar ao vício.
“Só uma última vez e depois você para”, “você sente que venceu o vício, então não custa nada experimentar para testar”, são frases que vêm à cabeça constantemente e que quase te fazem recair.
Hoje percebo que sou um viciado e que não há uso seguro de pornografia para mim. Basta assistir um vídeo para perder o controle e querer cada vez mais.
Muitas pessoas passam por essa mesma situação e não sabem como superar. Por isso recomendo que pesquisem sobre o assunto e procurem ajuda, seja com psicólogos ou com pessoas que passam pela mesma situação.
Não se deixem levar por comentários de pessoas que acham que pornografia não vicia. Assim como eu bebo álcool de forma controlada, eu sei que algumas pessoas não conseguem ter controle com bebidas alcoólicas. O vício atinge pessoas de forma totalmente diferentes, portanto, não dá pra medir o mundo pela minha régua.
E para encerrar, todo esse movimento para alertar pessoas sobre o mal da pornografia tem como objetivo ajudar a enfrentar o vício. Não sou uma pessoa que quer acabar com a indústria pornográfica, nem quero impor dogmas religiosos (aliás, isso não tem a ver com religião).
A pornografia em excesso pode trazer inúmeros malefícios na vida de homens e mulheres e muitas vezes as pessoas só percebem isso quando já estão viciadas. Falar sobre o assunto é a melhor forma de conscientizar sobre o vício.
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