Quem já viu filmes, séries ou leu livros sobre a Segunda Guerra Mundial sabe um pouco o básico da história: a Europa inteira foi transformada em um campo de batalha; Alemanha, a Itália e o Japão lutando contra a Inglaterra, os Estados Unidos e a União Soviética; batalha de Stalingrado e o dia D; o Holocausto. Mas o que nem todo mundo sabe é da participação do Exército Brasileiro nessa bagunça.
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Sim, o Brasil foi à guerra e lutou ao lado dos Aliados, tendo participação importante em batalhas realizadas na Itália. Quase 80 anos depois desses acontecimentos, relembramos alguns fatos que resumem (bastante) essa a participação do Exército Brasileiro na Segunda Guerra Mundial. Veja a seguir.
Em cima do muro
A declaração de guerra do Brasil ao Eixo não foi surpreendente só pelo tamanho de uma decisão geopolítica dessas. Mas principalmente porque o país passou os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial em cima do muro.
Os setores mais liberais do governo e da sociedade, incluindo o ministro das Relações Exteriores Oswaldo Aranha, apoiavam os Aliados. Ao mesmo tempo, o ministro da Guerra Góis Monteiro e o chefe da Polícia Política Filinto Müller declaravam abertamente seu apoio aos nazistas. O próprio presidente Getúlio Vargas, então visto como ditador por parte da população, flertava com os dois lados. Só em 1942, e após alguns incidentes graves como um navio afundado, o Brasil rompeu relações com o Eixo.
Entram em cena os “pracinhas”
Logo após a declaração de guerra, o Brasil começou a mobilizar soldados para que fossem enviados à batalha. Foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), integrada por soldados de diferentes partes do país. Ao todo, mais de 25 mil militares foram reunidos, com diferentes graus de preparo e experiência. Eles ficariam para sempre conhecidos como “pracinhas”.
O apelido vem da expressão “sentar praça”, que significa se alistar nas Forças Armadas. Foi usado para se referir aos soldados das patentes mais baixas da hierarquia militar. A imensa maioria dos 25 mil homens, portanto. De todos esses, aproximadamente 450 morreram em combate.
Sem roupa para a Europa
Sabe quando você não tem roupa para viajar para um lugar frio? Isso aconteceu com os pracinhas. Muitos acharam que iriam para o norte da África e sequer imaginavam entrar em combate. Quando foram enviados para a Itália, se depararam com um dos piores invernos da história da Europa, com temperaturas de até 20 °C negativos.
Os uniformes eram inadequados e muitos foram obrigados a forrar as roupas e coturnos com palha e jornal. Outros chegaram a ganhar casacos brancos para se camuflar na neve – e também para diferenciar dos inimigos alemães, que também usavam verde-oliva. Essa história é contada no podcast do Manual do Homem Moderno, no episódio “Sem roupa para o combate”, que você pode ouvir abaixo.
A quinta é a da sorte
A campanha do Exército Brasileiro na Segunda Guerra Mundial na libertação da Itália durou 239 dias, entre setembro de 1944 e maio de 1945. O principal objetivo atribuído à FEB era tomar Monte Castello, no norte do país. As quatro primeiras tentativas deram errado, e o local só foi conquistado em 21 de fevereiro de 1945, com um ataque planejado pelo tenente-coronel Humberto de Alencar Castelo Branco (sim, o futuro presidente do Brasil na Ditadura Militar). Foram 12 mortos na tomada.
Depois disso, em abril, a FEB ainda enfrentaria um grande desafio: a tomada da cidade de Montese. Ajudados por tanques americanos, os brasileiros enfrentaram o exército nazista de maneira exemplar. Libertaram a cidade, que em gratidão aos pracinhas batizou uma de suas praças como piazza Brasile.
A cobra vai fumar
Toda essa participação do exército brasileiro na Segunda Guerra era algo impensável para boa parte da população brasileira. Até alguns países aliados duvidavam da capacidade da FEB de realmente ajudar em alguma coisa. Na época, dizia-se que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na Guerra.
Quando o Brasil entrou na guerra, a Força Expedicionária Brasileira escolheu a “cobra fumando” como símbolo. Até o jornalzinho editado nas linhas de frente pelos integrantes do 1° Batalhão do 6° Regimento de Infantaria da FEB foi batizado de “E a Cobra Fumou”.
Fim da guerra, fim do governo
A década anterior viu um grande participação dos militares – mais especificamente, tenentes – na política brasileira. Foram eles que lideraram a revolução que levou Getúlio ao poder, por exemplo. Depois da guerra, o governo temia que os veteranos capitalizassem politicamente a vitória aliada e decidiu desmontar a FEB antes mesmo que eles voltassem ao Brasil.
Não foi suficiente. A sociedade civil já estava repensando sua relação com um governo de características ditatoriais como o Estado Novo de Vargas. Depois de lutar contra governos totalitários fora do Brasil, uma ditadura caseira não fazia mais sentido. Em 1945, Getúlio foi deposto.
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