Se você passou batido no noticiário ou nas redes sociais nas últimas horas, deve ter perdido a história de DJ Ivis passando na tela mais próxima. O músico foi flagrado em mais de um vídeo batendo (batendo muito mesmo) na ex-mulher, Pamella Holanda. O caso explodiu e gerou repúdio e críticas de diversos artistas e personalidades (principalmente do forró, gênero com o qual o DJ trabalha). E, para nós do MHM, é um caso que exemplifica bem como funciona a agressão a mulheres no Brasil.
- Violência doméstica: como denunciar e impedir mais agressões contra a mulher
- Quem se cala com a violência contra a mulher se torna cúmplice
DJ Ivis é um músico promissor que surfou na onda da pisadinha no Brasil – sim, é daí que vieram os Barões da Pisadinha (que podem ensinar alguma coisa sobre relacionamentos para você). Chamado Iverson de Souza Araújo, ele saiu dos bastidores das músicas para se tornar um tipo de “super DJ” que transforma qualquer som em hit – mais ou menos como aconteceu no funk nos últimos anos.
Depois dos vídeos vierem à tona, divulgados pela própria ex-mulher, algumas consequências piores do que o sucesso vieram: ele foi demitido, está sendo boicotado e deixou de ser seguido por artistas e amigos próximos. Se você for em suas redes sociais agora, contudo, vai ver que o número de seguidores do cara não para de crescer. E, para piorar, ele acha que tem razão em tudo.
Alguns fatores explicam isso. Vamos a eles.
Isso aqui é Brasil
A violência contra a mulher é praticamente institucionalizada no Brasil. Uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência no último ano no, por exemplo, segundo pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgada há alguns meses.
Isso significa que cerca de 17 milhões de mulheres (24,4%) sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano. Em sua maioria, são mulheres jovens, pretas e separadas ou divorciadas. Os agressores, por sua vez, são quase sempre os maridos/namorados/companheiros ou os ex.
Mas há um problema. A maioria dos casos acaba não sendo denunciada às autoridades, normalmente por medo da mulher ou por quem poderia fazer a denúncia achar que isso é um problema “doméstico” (o estúpido ditado de que em briga de marido e mulher não se mete a colher). Quando é feita, ela só vai para a frente diante de provas materiais ou do flagrante (como no caso do DJ Ivis). E o cara ainda pode se safar, dependendo do processo jurídico.
A questão do “monstro” que bate em mulheres
Além dos números e procedimentos legais e criminais, há outro fator que mostra como o caso do DJ é exemplar. Segundo ele, a culpada das agressões (foram muitas ao longo dos anos) é sua ex-mulher. Não vale a pena entrar nos argumentos, mas sua linha de defesa aponta nessa direção. Isso faz dele um monstro, certo? Errado.
Gostaríamos de dizer que o homem que bate e ainda coloca a culpa na mulher por apanhar não é homem – que é algum doente, monstro, etc. Mas isso não ajuda. Infelizmente, agressores não seguem o padrão de vilão de desenho animado ou de novela. Na grande maioria das vezes, são caras que agem normalmente na sociedade e cometem esses crimes entre quatro paredes. Mas por quê?
Segundo o PhD, neurocientista, neuropsicólogo e biólogo Fabiano de Abreu, há uma combinação de disfunções em regiões específicas do cérebro e fatores culturais e educacionais que levam à agressão. “A informação é modulada por fatores culturais e sociais e pode ser distorcida por déficits de processamento que pode ser influenciada por esquemas negativos secundários ao estresse do desenvolvimento, traumas ou experiências negativas duradouras. Assim como o uso abusivo de álcool e/ou drogas”, explica o neurocientista.
Ou seja, caras que crescem aprendendo coisas erradas (é aceitável bater em mulher se ela der motivo, mulher não presta, etc.) são possíveis agressores se colocados diante de situações estressantes ou traumáticas o suficiente. Pode ser até um amigo seu, um famoso, um parente, etc.
Como denunciar a violência doméstica
Se você sabe de algum DJ Ivis no seu círculo de amigos ou conhecidos, denuncie. Saber de violência doméstica e não denunciar te torna cúmplice.
A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 registra e encaminha denúncias aos órgão competentes. O serviço também fornece informações sobre os direitos da mulher, como os locais de atendimento mais próximos e apropriados para cada caso: Casa da Mulher Brasileira, Centros de Referências, Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam), Defensorias Públicas, Núcleos Integrados de Atendimento às Mulheres, entre outros.
A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. São atendidas todas as pessoas que ligam relatando eventos de violência contra a mulher. O Ligue 180 atende todo o território nacional e também pode ser acessado em outros países. Em caso de emergência, ligue para a Polícia no 190.
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