Homem não chora, não expressa sentimentos, homem de verdade é bruto, não pode cuidar da aparência. Quantas vezes você ouviu como deveria se comportar? Quantas vezes outras pessoas te disseram como você deveria se sentir e se expressar? Quantas vezes você já não se sentiu preso em ideais impostos para se sentir mais homem?
- Brasil é o 4º país com mais mortes no trabalho
- Descubra tudo sobre o câncer de próstata
- Homens lideram mortes no trânsito. Por quê?
Longe de mim dizer como um homem deve se portar, afinal, eu sou mulher. Mas nenhum outro homem deveria mandar em você. Não existe uma cartilha que todo homem deve seguir para ser considerado um homem. Você, e só você, sabe quem você é.
Masculinidade é um conceito que vem mudando ao longo dos anos e antes de você torcer o nariz, bater na mesa e dizer que a ideia antiga de masculinidade é a certa, dê uma lida nessas 3 razões pelas quais você deveria mudar sua ideia sobre o assunto:
O que é a ideia antiga de masculinidade, ou masculinidade tóxica?
Segundo centenas de artigos publicados, a “Masculinidade tóxica é uma descrição estreita e repressiva da masculinidade que a designa como definida por violência, sexo, status e agressão, é o ideal cultural da masculinidade, onde a força é tudo, enquanto as emoções são uma fraqueza; sexo e brutalidade são padrões pelos quais os homens são avaliados, enquanto traços supostamente ‘femininos’ – que podem variar de vulnerabilidade emocional a simplesmente não serem hipersexuais – são os meios pelos quais seu status como ‘homem’ pode ser removido. Alguns do efeitos da masculinidade tóxica estão a supressão de sentimentos, encorajamento da violência, falta de incentivo em procurar ajuda, até coisas ainda mais graves, como perpetuação encorajamento de estupro, homofobia, misoginia e racismo”.
Ao ler a descrição acima, você pode não entender o ponto em um primeiro momento, mas essa masculinidade tóxica não é extremamente tóxica apenas para as pessoas ao redor, é tóxica para os próprios homens que sofrem com ela. Essa masculinidade tóxica pode te matar por te fazer exercer um comportamento de risco, e também pode te transformar em um cara extremamente infeliz.
A masculinidade tóxica pode te matar no trânsito
Em São Paulo, segundo dados divulgados pelo governador Geraldo Alckmin no começo de 2016, os homens somaram 77% dos mortos em acidentes de trânsito. Apesar dessa estatística ser do estado de São Paulo, por todo o Brasil são noticiados dados semelhantes: os homens lideram mortes no trânsito.
A resposta para esse cenário parece bem óbvia, afinal, os homens também representam a maior parte das CNHs emitidas. Porém, especialistas apontam que o comportamento dos homens no volante é um dos motivos para explicar esse cenário triste.
Em uma entrevista para o jornal Último Segundo, a professora de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e representante do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, a médica Júlia Maria D’Andréa Greve explicou que o fato dos motoristas homens de se arriscarem mais do que as mulheres está diretamente ligada aos acidentes. “Eles normalmente são mais confiantes como condutores e costumam se colocar em situações de risco, principalmente quando são jovens. É um aspecto cultura”.
Ou seja: a ideia de que masculinidade é reforçada por um comportamento agressivo pode tirar a sua vida no trânsito.
A masculinidade tóxica pode te matar no hospital
Mas não é só atrás do volante que isso pode matar. Muitos homens não procuram ajuda médica por achar que não precisam: o câncer de próstata, por exemplo, mata muitos homens no Brasil e no mundo. A estimativa do Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), por exemplo, para 2016 era que o Brasil registrasse 61.200 novos casos de câncer de próstata.
E muitos homens ainda se sentem inseguros sobre a realização do exame de próstata e, por falta de informação ou preconceito, postergam a visita ao médico. Esse comportamento faz com que os homens só percebam a presença do tumor quando o quadro já é praticamente irreversível e, por isso, o tratamento se torna bastante complicado.
A masculinidade tóxica pode te matar numa briga ou no trabalho
Além de doenças, o comportamento agressivo exigido pela ideia tóxica de masculinidade pode fazer com que homens briguem mais com outros homens, abracem discussões desnecessárias e até se coloquem em risco em determinados ambientes de trabalho, como fábricas, por exemplo.
O Brasil é o 4º país com mais mortos em acidentes de trabalho. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, acontecem, anualmente, 270 milhões de acidentes de trabalho em todo o mundo. Aproximadamente 2,2 milhões deles acabam em mortes. No Brasil, segundo esse mesmo relatório, são 1,3 milhão de casos e, no ranking mundial divulgado em maio deste ano, nosso país ocupa a quarta posição, ficando atrás apenas da China, Estados Unidos e Rússia.
Entre vários motivos, como por exemplo as más condições de trabalho e a necessidade de produzir mais em menos tempo, o homem, principalmente aquele inserido em um ambiente hostil, cresce em uma sociedade que o cobra constantemente sobre seu papel de “homem”. Um “homem” precisa ser forte, não pode ter medo, não deve ter inseguranças, precisa mostrar para todos que é “homem” e, por isso, não pode ter “frescuras”.
Como já dissemos em um matéria aqui no MHM, um homem precisa ser bruto. Quando um eletricista ou um peão de obra pensa: “não preciso dessa luva agora, eu faço rápido”, ou “isso é frescura, meu pai trabalhava sem todas essas coisas e nunca aconteceu nada com ele”, ele está colocando a própria vida em risco e, mesmo sem perceber, sendo vítima hereditária de conceitos e preconceitos internos. Em um Trabalho de Conclusão de Curso para a Fundação Oswaldo Cruz desenvolvido pela estudante Tânia da Silva Barbosa, uma pesquisa com funcionários de uma fábrica mostrou que “a expressão frescura aparece nos diálogos do grupo”.
Ou seja: a ideia tóxica de masculinidade mata homens em vários lugares.
Vale a pena pensar assim?