Em São Paulo, segundo dados divulgados pelo governador Geraldo Alckmin no começo de 2016, os homens somaram 77% dos mortos em acidentes de trânsito. Apesar dessa estatística ser do estado de São Paulo, por todo o Brasil são noticiados dados semelhantes: os homens lideram mortes no trânsito. Mas por quê?
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A resposta para esse cenário parece óbvia, afinal, os homens também representam a maior parte das CNHs emitidas. Mas especialistas apontam que o comportamento dos homens no volante e a distração são alguns dos motivos que explicam o porquê de eles serem as principais vítimas no trânsito.
Em uma entrevista para o jornal Último Segundo, a professora de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e representante do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, a médica Júlia Maria D’Andréa.
Greve explicou que o fato dos motoristas homens de se arriscarem mais do que as mulheres está diretamente ligada aos acidentes. “Eles normalmente são mais confiantes como condutores e costumam se colocar em situações de risco, principalmente quando são jovens. É um aspecto cultural”.
O especialista em Engenharia de Transportes e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alexandre Rojas concorda com a opinião da médica. “O homem normalmente parece usar o tempo para fazer outras coisas, perdendo o foco naquela atividade que realmente está fazendo”, opina ele. “A mulher é mais centrada em suas atividades”.
Não é à toa que o seguro de carro é mais caro para os homens: inúmeros estudos já foram divulgados sobre as principais diferenças entre os gêneros atrás do volante, e as companhias de seguro parecem estar em dia com todos eles.
Outro comportamento nocivo que pode contribuir para esse cenário é o consumo de bebidas alcoólicas. Segundo um levantamento do CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) apontou que as mulheres apresentam maior prevalência de abstinência (59%) e os homens bebem mais frequentemente, ou seja, 39% dos homens bebem pelo menos 1 vez por semana, e, entre eles, 11% bebem diariamente.
A quantidade de bebida por ocasião de consumo também difere conforme o sexo, ou seja, enquanto a maioria das mulheres (68%) bebeu até 2 doses de álcool na última ocasião, 38% dos homens beberam 5 ou mais doses, dos quais 11% beberam 12 ou mais doses na última ocasião.
É claro que essa diferença de comportamento se reflete no hábito de beber e dirigir: entre os indivíduos que consumiram álcool nos últimos 12 meses e dirigem, 53,5% dos homens e 86,4% das mulheres afirmaram que nunca beberam e dirigiram.
Ou seja: os homens se arriscam muito mais atrás do volante e por isso são as principais vítimas dos acidentes de trânsito.
Essas estatísticas não vão mudar se o comportamento nocivo no trânsito não mudar. Todos os dias somos impactados por notícias trágicas de mortes causadas pela mistura de bebida e direção, e não são raras as notícias que reportam brigas no trânsito que terminam da pior maneira possível.
Um artigo de psicologia realizado em 2012 apontou que a agressividade no trânsito pode surgir como consequência de três principais características e comportamentos: a impaciência, a luta de forças e a negligência.
Esse comportamento agressivo, então, surge do histórico de comportamento agressivo em outras áreas da vida: se você trabalha em um ambiente dominado pelo estresse, por exemplo, provavelmente vai ser mais impaciente atrás do volante.
É fundamental compreender e respeitar seus limites e reconhecer os perigos do trânsito. Entender que em determinadas situações você pode, sim, ter errado. Compreender que a rua é um espaço público e que você não precisa tirar vantagem sobre outros motoristas para se sentir um motorista superior.
Enquanto essa consciência não existir, não vamos conseguir mudar o quadro de mortes de trânsito no Brasil.