Por que Chorão foi ídolo (a ponto de merecer um documentário só dele)

O documentário "Chorão: Marginal Alado" conta a história do último rockstar brasileiro. Descubra por que o vocalista do Charlie Brown Jr. foi tudo isso mesmo.

Se você era muito novo no começo dos anos 2000 (ou ainda nem tinha nascido), pode ter crescido sem que Chorão ou Charlie Brown Jr. fossem nomes presentes em sua vida. É capaz de nunca ter nem ouvido um rock skatista ou algo parecido. E deve estar surpreso de descobrir agora que o vocalista ganhou um documentário só sobre ele.

Pois bem, o recém-lançado “Chorão: Marginal Alado”, disponível nos cinemas (que estiverem abertos) e nas plataformas digitais NOW, Google Play, Apple TV, Vivo Play e YouTube, é uma boa oportunidade para conhecer mais sobre tudo isso. A obra conta a história de Alexandre Magno Abrão, o Chorão, vocalista da banda santista Charlie Brown Jr. O grupo explodiu ainda no fim dos anos 90 e acumulou sucessos, polêmicas e brigas ao longo de sua existência.

Chorão morreu em 2013, vítima de uma overdose de cocaína. Morreu como ídolo de toda uma geração. E agora vamos entender por quê.

Muita inspiração e personalidade

Charlie Brown Jr. no palco

Alexandre Magno nasceu e São Paulo em 1970 e se mudou para Santos quando era jovem. Mau aluno e inadimplente, trocou várias aulas pelo skate e pela música. Desde adolescente, tinha planos de montar uma banda de sucesso. E conseguiu.

As pessoas próximas a ele contam que foi a dedicação do jovem compositor (viciado em escrever letras) que moveu o Charlie Brown Jr. durante os primeiros anos da banda. Com o trabalho veio muito sucesso, o que despertou amor e ódio pelo país. Se Chorão era idolatrado por uma legião de fãs, também costumava ser criticado pela classe artística.

A música era boa

Com um som meio punk-rock-skate bem anos 1990 misturado ao rap e ao reggae, o CBJR foi a expressão máxima no Brasil de um movimento muito forte em todo o mundo. “Transpiração Contínua Prolongada”, seu primeiro disco, de 1997, tinha tudo o que uma geração inteira de jovens de cidades grandes queria ouvir.

Em 1998 veio o primeiro prêmio no VMB (Video Music Brasil) da MTV. Era a maior premiação musical que existia no Brasil na época. Nos anos seguintes, o Charlie Brown Jr. emplacou músicas na novela “Malhação”, da TV Globo. “Te Levar Daqui” e “Lutar Pelo O Que É Meu” combinaram tanto com a proposta do programa que permaneceram tema de abertura da novela teen até 2007.

O auge veio em 2003, com a gravação do Acústico MTV – na época, o canal convidava artistas para gravarem seus sucessos em um esquema mais intimista. Até hoje a muitos fãs da banda apontam a versão do CBJR como um de seus melhores álbuns (se não o melhor). O DVD do show (outros tempos) foi um dos mais vendidos no país.

A relação com o skate

Chorão e o Skate

Apesar de hoje você só ouvir falar em crossfit e variados, o skate sempre foi um dos esportes mais praticados no Brasil. Chorão era do mundo do skate e sempre esteve em contato com esse estilo de vida, frequentando diversas pistas em São Paulo e em Santos.

No litoral, virou ícone do skate para a garotada santista. Tanto que criou um projeto para construir uma pista aberta ao público, para que tanto ele como os amigos e fãs pudessem curtir juntos. O Chorão Skate Park foi inaugurado em 2005 e serviu como local para shows da banda, matérias da MTV e vários eventos do skate até ser demolido em 2014.

Várias campanhas de fãs brasileiros já foram feitas para que o músico virasse um personagem da série de jogos de videogame Tony Hawk’s Pro Skater. Em 2020, esses pedidos foram em parte atendidos. O skatista brasileiro (e personagem do jogo) Bob Burnquist pediu ao próprio Tony Hawk que ele fizesse uma homenagem a Chorão, e a música “Confisco” do CBJR virou trilha sonora oficial do remake “Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2”.

A vida de rockstar

Chorão com Pelé, vida de estrela

Os músicos/influencers que você segue no Instagram não aguentariam cinco minutos em uma sala com Chorão, provavelmente. Não é sem exagero que muitos o chamam de “o último rockstar brasileiro”. Ao mesmo tempo que pavimentou o caminho para as quase duas décadas de sucesso, sua personalidade forte também gerou desavenças internas e abertas.

A banda passou por algumas mudanças de integrantes ao longo de sua história. Entre as várias brigas ficaram famosas a tretas e conciliações com o baixista Champignon (que se matou seis meses após a morte de Chorão). Além disso, o vocalista do Ratos de Porão, João Gordo, já disse que ele e Chorão quase brigaram em uma edição do VMB. Quem não escapou foi Marcelo Camelo, ex-vocalista do Los Hermanos que acabou agredido depois de falar mal da banda de Santos. Falou, levou.

Além da fama de bad boy, Chorão também herdou, infelizmente, outras características dos rockstars das antigas. Era dependente químico, viciado em cocaína desde pelo menos o começo dos anos 2000. Sua morte, por overdose, escancarou o problema e comoveu o país na época.

O estilo Chorão

O estilo de Chorão e Champignon

A estética do Charlie Brown Jr. era um mix das referências de moda jovem e urbana que estavam em alta na época. Assim, Chorão imortalizou as peças que o skate e o rap tinham incorporado, como as camisetas largas, as bermudas super compridas e os bonés de aba reta. Os tênis de skate, cordões e tatuagens ajudavam a completar o visual.

Acredite, a quantidade de jovens das grandes cidades que tentaram copiar esse estilo não foi pequena. E o que mais qualificaria um ídolo senão influenciar pessoas a usarem roupas horríveis por causa dele? Isso sem contar 20 anos de carreira, dez álbuns, milhões de cópias vendidas, dois prêmios Grammy Latino, um filme (“O Magnata”, produzido por ele), uma legião de fãs e outra de inimigos.

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Felipe Blumen
Felipe Blumen

Historiador, jornalista de lifestyle e fã de foguetes, Corinthians, gibis e outras bagunças.

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