A advogada Tatiane Spitzner, 29, foi agredida pelo marido, o professor Luís Felipe Manvailer, 29, antes de cair do quarto andar do prédio onde morava, em Guarapuava (PR), no final de julho. Porém, algumas imagens das câmeras de segurança do edifício, obtidas pela polícia, mostram os momentos que antecederam a morte de Tatiane.
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Antes de entrar na garagem do prédio onde morava, o professor para o carro no meio da rua e dá dois tapas na cabeça da mulher. Pelas imagens, conseguimos ver que ele repete agressões em seguida.
Já no estacionamento do prédio, ele retira Tatiane à força do carro. Quando consegue retirá-la, ele a pressiona contra o carro, segurando-a pelo pescoço e a golpeando com mais um tapa no rosto.
Como Impedir a Violência Contra a Mulher
Em seguida, enquanto aguardam a chegada do elevador, a mulher tenta fugir. Porém, o marido corre atrás e arrasta a advogada até o elevador. Ela tenta fugir de novo, parando em outro andar, mas é impedida de descer e sofre novas agressões.
Quando chegam ao quarto andar, o marido a empurra em direção ao corredor, e ela cai. As câmeras também registraram o momento em que Tatiane cai da sacada. As imagens são extremamente fortes, e mostram que o marido foi ao térreo e carrega a advogada de volta pelo elevador.
Ele volta para limpar os vestígios de sangue e parece visivelmente abalado. Pouco depois das 3 horas da manhã, a polícia chega ao local para averiguar o que teria ocorrido, mas Manvailer consegue fugir pela garagem – ele segue e se afasta cerca de 300km do local das agressões e da morte da advogada.
Precisamos falar sobre violência contra a mulher
No Brasil, 13 mulheres são mortas por dia. No total, 4,8 em cada 100 mil mulheres morrem por violência doméstica – essa taxa coloca o Brasil em quinto lugar no ranking de violência doméstica criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A cada 1 hora e meia, uma mulher morre no Brasil por causas violentas – e, nesse cenário, o marido ou namorado é responsável por mais de 80% dos casos.
Esses dados, divulgados por pesquisas da Ipea, Mapa da Violência e do SESC, são assustadores. Dentro desse contexto, precisamos lembrar que a violência contra a mulher é uma violência de gênero que se enquadra em outro tipo de crime: os dados levantados acima são apurados pela causa da violência que acontece pelas mãos de maridos e namorados.
Esse tipo de crime tem outra origem e não é consequência da violência social, por exemplo, da criminalidade dos grandes centros urbanos ou de acidentes de transito. Esse tipo de crime tem origem no ódio.
Para aquecermos ainda mais a discussão, basta pesquisarmos em ferramentas de busca como o Google, por exemplo, a seguinte frase: “namorado com ciúmes”. O resultado? Inúmeras notícias publicadas em um espaço curtíssimo de tempo relatando exatamente a violência contra a mulher dentro de relacionamentos.
Ou seja: precisamos urgentemente quebrar o silêncio e ouvir o que as mulheres dentro dos relacionamentos abusivos estão dizendo. Entre todos os casos de mortes por violência de gênero, podemos encontrar um fator em comum: muitas mulheres denunciaram seus agressores antes de serem brutalmente assassinadas. Porém, mesmo com as denúncias, nada foi feito.
A chacina em Campinas
No ano novo de 2016, um caso de violência contra a mulher chocou o Brasil – e o mundo.
Maria da Penha Filier era a mãe de Isamara Filier, 41 anos, assassinada pelo ex-marido, o técnico de laboratório Sidnei Ramis de Araújo, 46 anos, na noite de réveillon.
Ele pulou o muro da casa onde a família celebrava o ano-novo e invadiu a festa a tiros. Sidnei matou o próprio filho, João Victor Filier de Araújo, 8 anos, e outras 10 pessoas – 9 mulheres no total – que compartilhavam laços de sangue.
A ex-sogra de Sidnei faleceu 10 meses antes da chacina de Campinas. Ela também estava na lista dos que seriam vitimados por ele, que planejava o massacre havia muito tempo.
Sidnei registrou sua raiva pelas mulheres da família Filier em uma carta e em áudios. Referia-se às vítimas como “vadias” e “vagabundas”.
Na carta, ele dedicou trechos especialmente odiosos à Maria da Penha, a ex-sogra, a quem chamava de “vadia da Penha”. O assassino escreveu que gostaria de ser enterrado de cabeça para baixo para “ir pro inferno buscar a velha vadia.”
Reforçando o que falamos anteriormente, a ex-mulher chegou a registrar cinco boletins de ocorrência por ameaça, violência doméstica e agressão. As parentes testemunharam a favor de Isamara quando ela acusou o ex-marido de abusar sexualmente do filho. Na sentença do caso, o juiz afirmou não ter provas cabais do abuso, mas determinou visitas monitoradas do pai a João Victor a cada 15 dias. Sidnei demonstrou inconformismo com a situação no bilhete que deixou.
Ou seja: este caso exemplifica exatamente o ódio que precisamos combater.
O que podemos fazer para ajudar
A denúncia de violência doméstica pode ser feita em qualquer delegacia, com o registro de um boletim de ocorrência, ou pela Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), serviço da Secretaria de Políticas para as Mulheres.
Vale lembrar: a denúncia é anônima e gratuita, disponível 24 horas, em todo o país. Para proteger e ajudar as mulheres a entenderem quais são seus direitos, em 2014, a Secretaria lançou um aplicativo para celular (Clique 180) que traz diversas informações importantes, como os tópicos da Lei Maria da Penha.
As prefeituras também oferecem centros atendimento, que acolhem as mulheres em situação de violência. Em São Paulo, por exemplo, os Centros de Atendimento para Mulheres Vítimas de Violência contam com 11 unidades, que oferecem apoio social, jurídico e psicológico sem precisar de boletim de ocorrência.
Por isso, denuncie. A mulher que está dentro do relacionamento não enxerga o abuso físico e verbal porque está envolvida e é dependente emocionalmente e, muitas vezes, e financeiramente.
Você pode salvar vidas se meter a colher dentro da “briga de marido e mulher”.
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