Quem se cala com a violência contra a mulher se torna cúmplice

Não se silencie. Quem fica calado ao ver um caso de agressão contra uma mulher se torna cúmplice do ato

Quem fica calado ao ver uma agressão se torna cúmplice

► “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me preocupa é o silêncio dos bons.” – Martin Luther King.

Aconteceu com uma amiga nossa, mas acontece todos os dias e todos os lugares e camadas sociais no país. Quem nunca viu um cara que se dá ao direito de agarrar a força “sua presa” na balada só porque ele quer?

São Paulo. Show do David Guetta. Pista lotada. Um rapaz tenta de qualquer forma beijar uma garota, puxando e torcendo o braço dela. Mas desta vez foi diferente, porque uma outra mulher tentou impedir a conquista: “Segura ai cara, deixa a garota.”

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A resposta? Ele larga sua “presa” e dá um soco na boca daquela que tentou impedir sua tática de sedução. Seus amigos, tão machos quanto ele, entram no meio para brigar com a garota que tentou intervir no ato. Por sorte, algumas pessoas conseguem puxar a garota agredida e a briga termina apenas no soco.

Ninguém faz nada e os três “machos para caralho” (reparem estas aspas) voltam para casa impunes, para repetir o ato de novo. E de novo. E de novo.

O ano é 2015 e muitos homens ainda se comportam como se vivessem na idade da pedra. E a culpa é sua.

O culpado é você

Segundo uma pesquisa do Data Popular, apesar de 91% dos homens achar errado bater em mulher, uma entre cada 5 mulheres afirma já ter sofrido algum tipo de agressão por parte do namorado ou marido.

77% das mulheres que relatam viver em situação de violência sofrem agressões semanais ou diariamente. Piora. Só 35% das vítimas denunciam o agressor à polícia.

Muitas mulheres não denunciam os parceiros por dificuldades financeiras. Algumas por medo, vergonha, por se sentir culpada, por achar que isso é normal. Mas muitas não denunciam porque simplesmente dependem financeiramente do cara, não dariam conta de viver sozinha, de se sustentar e sustentar os filhos.

Mesmo em países que possuem uma lei forte para a defesa das mulheres, muitas continuam a ser vítimas de discriminação, violência e falta de acesso adequado a serviços jurídicos e de saúde. E a conivência das pessoas que estão próximas a casos de agressão só piora as coisas.

Quando você fica quieto você está fazendo duas afirmações. A primeira é que você prova para quem bate na mulher que ele pode sentar a mão nela, que não vai dar em nada. A segunda é que você afirma para a mulher que não adianta ela gritar e implorar por ajuda, ninguém vai fazer nada por ela.

Não silencie!

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Você que ouve uma briga na casa ao lado e aumenta o volume da TV. Você que vê uma briga na rua, vira a cabeça e atravessa a calçada. Você que vê aquela colega chegar de olho roxo no trabalho.

Você é cúmplice e culpado de toda essa situação. O seu silêncio e sua omissão, permite que todos os dias esse ato se repita por ai. E não precisa se envolver fisicamente na parada.

A Secretaria de Política para Mulheres tem um disque-denúncia que funciona 24 horas por dia. Basta discar o número 180. As denúncias são recebidas e encaminhadas à Segurança Pública e ao Ministério Público de cada Estado. Depois, os atendentes orientam a qual delegacia ou serviço a mulher precisa procurar de acordo com sua necessidade. Qualquer pessoa pode denunciar, e não apenas as vítimas.

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“Ah, mas em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. Cara, em muito casos em que a mulher é agredia, ela se sente a culpada e chega até a dar razão para o agressor. Não significa que você precise agir assim.

Vivemos um mundo difícil, duro e por muitas vezes podre. Todos os dias, alguém reclama de um político corrupto ou de algum ato de impunidade, mas poucas pessoas se esforçam para fazer o mundo melhor. É fazer a diferença nesses pequenos atos que pode fazer com essa porra fique melhor.

Você pode fazer várias coisas, desde denunciar até a polícia, ser um ombro amigo para uma vítima ou tentar tocar uma ideia com o agressor. Você pode fazer a diferença na vida de alguma pessoa. Mas será que você faz isso?

Cobrar é fácil, mas e você faz o que?

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Minha amiga que tomou um soco durante o show do David Gueta não foi o primeiro caso de mulher que eu conheço sendo agredida. Já aconteceu comigo antes e dentro da minha casa.

É a primeira vez que revelo isso publicamente, mas eu já vi o namorado da minha mãe tentar agredir ela. Só que desta vez eu pude fazer algo e eu quase matei o sujeito. Se quiser saber um pouco mais sobre a história leia esse texto.

Ouvir aos 27 anos minha mãe pedindo ajuda enquanto um cara batia nela com certeza me marcou para o resto da vida. Agora, imagina o que isso faz para uma criança?

Nem todas as mulheres do mundo tem um filho disposto a ir as últimas consequências para protege-las da violência física e muitas delas não possuem coragem ou forças para buscar ajuda. Faça a diferença e faça a sua parte.

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► NOTA DO AUTOR: Ao escrever esse texto, eu esqueci de um porém. Que invés de ser alguém que testemunha ou pode testemunhar agressão contra mulheres, você seja o agressor.

Peço: Pare tudo o que está fazendo e vá buscar ajuda. Familiar, psicológica ou religiosa. Nenhum tipo de amor envolve violência de nenhuma forma.

Agora, se você acha que não precisa de ajuda e se orgulha do que está fazendo, aguarde. Se a justiça não vier nessa vida, eu acredito que tenha um lugar especial no inferno para pessoas com você.

Edson Castro
Edson Castro

Jornalista, ilustrador, apaixonado pela vida e por viver aventuras. Coleciona HQs, tênis e boas histórias para contar.

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