Como o TikTok está mudando o mundo (e por que isso não é ruim)

Você pode nunca ter usado o TikTok, mas com certeza recebe algum vídeo saído de lá todos os dias. E esse sucesso está provocando mudanças interessantes.

Como o TikTok está mudando o mundo

Mesmo que você não tenha baixado e se cadastrado no aplicativo TikTok nos últimos anos, com certeza já foi impactado por algum vídeo saído de lá na sua rede social favorita (o MHM está lá, caso você não saiba). Hoje, Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp e Telegram se alimentam do conteúdo do app. E isso está influenciando vários aspectos das nossas vidas – mesmo que não estejamos percebendo.

Primeiro app de mídia social criado fora do Vale do Silício a explodir em popularidade, o chinês TikTok popularizou o formato de vídeo curto e desenvolveu um algoritmo de recomendação cativante (e bizarro) para se tornar uma das redes de vídeo mais fortes do mundo.

Mas enquanto os adultos estavam tentando entender a plataforma, os jovens e adolescentes dominaram a poderosa ferramenta de criação de conteúdo. Hoje, é o app mais baixado do mundo (já foram mais de 3 bilhões de downloads). E é responsável por mudar muito mais coisas do que apenas a forma como consumimos mídia online.

Vejamos algumas dessas mudanças.

A era da atenção picada

Marcas no TikTok

No TikTok, os usuários são incentivados a pular de pessoa a pessoa, tendência em tendência. A plataforma coloca seus usuários automaticamente em grupos de amigos com ideias semelhantes para que todos sejam expostos a um fluxo constante de conteúdo e feedback instantâneo. Ao contrário do Facebook, Instagram, LinkedIn e Twitter, onde um feed de atividades de amigos é a primeira coisa que você vê ao entrar, um usuário TikTok abre o app e já vê uma página de vídeos selecionados chamada “Para você”.

Assim como o YouTube, esse algoritmo do TikTok recomenda o conteúdo que você inconscientemente deseja ver (embora não saiba). Mas, ao contrário do YouTube, esses vídeos têm menos de um minuto de duração. Isso significa que, em uma entrada no app, você pode consumir muitos vídeos – muitos mesmo. E seu cérebro precisa dar conta de absorver toda aquela informação.

Estudos recentes apontam que a enxurrada de estímulos online já se reflete no tempo médio de atenção que os jovens conseguem manter. A Geração Z (nascidos entre o fim dos 90 e começo dos 00) permanece atenta, em média, por períodos de 8 segundos. Isso não é necessariamente ruim, já que esses jovens detectam anúncios e publicidade muito mais rapidamente e são mais avessos a esse tipo de conteúdo. O que pode significar que as marcas vão ter que pensar em novas formas de inundar as redes sociais.

O conteúdo como forma de expressão

TikTok no celular

O YouTube transformou muitas pessoas em criadores de conteúdo. Só era preciso ter um computador, um equipamento decente e conhecimentos em edição. Agora, o TikTok está transformando ainda mais pessoas em criadores de conteúdo – mas só é preciso ter um celular qualquer. Os TikTokkers usam seus smartphones para filmar em qualquer lugar ou num momento livre em casa, já editam no aplicativo e postam instantaneamente. Há pouca pressão em termos de roteiro e menos ainda em estética.

O resultado imediato disso é que, antes do TikTok, o mundo era dividido entre influenciadores e pessoas normais. Você podia tirar uma foto perfeita e postá-la no Instagram e ainda assim ter 0,1% dos likes de uma imagem qualquer de uma Kardashian. Agora, um vídeo engraçado tem a mesma chance de viralizar no mundo inteiro se a pessoa tem 0 ou 1 milhão de seguidores. Isso nem sempre é positivo, mas estabelece uma nova ordem na internet.

Essa mudança leva a um efeito interessante: se expressar, a partir de agora, pode virar sinônimo de criar um conteúdo sobre você mesmo. E quem se expressa melhor não vai ser necessariamente o bom orador ou escritor, mas alguém que sabe se filmar. Se isso vai ser bom ou ruim a médio e longo prazo não podemos dizer, mas definitivamente é uma mudança em prol das pessoas “comuns” dentro de espaços antes dominados por celebridades. Enquanto as marcas tomam conta do Instagram com seus orçamentos de marketing e publis, os TikTokkers estão livres (por enquanto) para conquistar um mundo para além dos algoritmos.

O novo formato do humor na internet

Lzmaario no TikTok

O tipo de humor que faz sucesso no TikTok é bem único. Com só um minuto para desenvolver toda a piada e poucos segundos para prender o espectador antes que ele só passe direto, o truque é ser o mais absurdo possível. Com um pano de prato na cabeça, por exemplo, alguém vira instantaneamente uma mulher. Uma peruca já cria dois personagens diferentes. Às vezes, um ângulo de câmera já basta.

Parte desse humor absurdo já existe na mídia convencional. Mas ele ganha vida própria em uma plataforma que valoriza o estranho, o rápido e os detalhes. E o público está bem mais atento a eles – talvez por assistir ao conteúdo na mão, sozinho, num ambiente muito mais íntimo do que a TV jamais proporcionou.

Isso leva ao fato de que o TikTok talvez tenha criado um novo gênero de humor. Uma piada sem “punchline” (a frase de efeito no fim) em que a graça está em sua própria e curta experiência. Você não vai gargalhar (geralmente) no aplicativo, mas pode passar o tempo todo pensando que aquilo que está vendo é engraçado. Não à toa ele faz tanto sucesso em um mundo em que muitas vezes não há motivos para rir (embora sorrir mais faça bem para a saúde).

Um novo nível de arte colaborativa

Musical Ratatouille TikTok

Toda rede social surge como uma nova oportunidade para músicos e outros artistas independentes venderem seu trabalho, viralizarem e atingirem o sucesso. Mas o TikTok apresentou um novo nível para isso ao tonar a arte colaborativa algo sem limites.

Caso você não tenha visto isso (em qualquer rede social), alguns TikTokkers escreveram e gravaram juntos um musical baseado na animação “Ratatouille”. Sim, é isso mesmo. Algumas pessoas desconhecidas começaram a cantar e dançar juntas letras e coreografias. Como o app incentiva “duetos” (quando uma pessoa grava em cima do vídeo de outra), ele se tornou a ferramenta perfeita para que mais pessoas pudessem completar as músicas e danças. O resultado é uma produção totalmente caseira (feita em várias casas diferentes) com coreografias, figurinos, arte, atores, maquiagens e até mesmo uma equipe de bastidores. Um musical, só que colaborativo e virtual.

Em breve, as marcas devem tentar invadir e conquistar o TikTok com ideias semelhantes. Mas, até que isso aconteça, a história do rato Remy mostra como a arte colaborativa – e o uso das redes sociais para a produção de conteúdo – atingiu um novo nível.

Felipe Blumen
Felipe Blumen

Historiador, jornalista de lifestyle e fã de foguetes, Corinthians, gibis e outras bagunças.

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