Para quem já imaginava, a ciência comprovou: o medo da solidão te faz aceitar relacionamentos abusivos ou pouco estimulantes – e tantos homens quanto mulheres podem cair nessa furada.
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Uma pesquisa conduzida na Universidade de Toronto, com uma ampla amostra de mulheres e de homens (americanos e canadenses de várias origens étnicas e de variadas idades), foi publicada no Journal of Personality and Social Psychology e concluiu que, se uma pessoa está muito tempo solteira, ela tenderá naturalmente a ficar menos crítica em relação aos seus relacionamentos, engajando-se em qualquer tipo de relação amorosa.
O curioso é que mesmo estando não satisfeitas e, inclusive, “sabendo” que os seus parceiros não são aquilo que esperavam, elas ainda assim permanecem no relacionamento ruim pelo medo da solidão.
Como falei no início, essa correlação faz total sentido – e o argumento do medo da solidão já foi usado por muitos psicólogos e até cientistas sociais para explicar o motivo pelo qual muitas pessoas acabam entrando em relacionamentos tóxicos.
O negócio é que o nível de ansiedade causado pelo medo de ficar solteiro é tão impactante que as pessoas preferem ficar em relacionamentos ruins.
Saiba diferenciar o apego do amor
Quando se trata de relacionamentos, muitas pessoas querem encontrar alguém comprometido, leal e dedicado apenas a elas. Mas há uma linha tênue entre devoção e obsessão. Então, como você sabe se sua parceira está realmente apaixonada ou apenas obcecada por você? E quais são os perigos do segundo caso?
Para ser justa, é fácil confundir os dois. Como Mark B. Borg, Jr. Ph.D, psicólogo clínico e autor de Relationship Sanity diz a Bustle: “A maioria de nós começa nossas relações amorosas em um estado elevado de insegurança e ansiedade”.
Apaixonar-se leva muito risco. Para estar em um relacionamento verdadeiramente emocionalmente satisfatório, você precisa ser capaz de ser vulnerável e permitir que outra pessoa entre. Para muitas pessoas, isso pode ser bastante assustador quando você não sabe como sua parceira se sente.
Esse estado do desconhecido pode criar uma sensação de ansiedade que não vai realmente desaparecer até que você tenha certeza de que sua parceira retribui seus sentimentos, diz Borg.
Em um relacionamento saudável, os dois poderão dizer como estão se sentindo e a ansiedade deve desaparecer.
Mas se esse sentimento de ansiedade ainda estiver presente, isso pode levar à obsessão. Então, se as coisas estão indo rápido demais para vocês, se sua parceira controla a sua vida, suas saídas, suas mensagens no celular, não desgruda de você o tempo todo e, além disso, quer que toda a sua atenção seja dela, é bem provável que o amor verdadeiro esteja fora da equação – o mesmo vale se você fizer o mesmo.
Seja analítico para entender a situação com clareza
“Temos operando em nosso cérebro um sistema automático e muito primitivo que, desde nossos antepassados, nos faz buscar a proteção do outro”, diz Cristiano Nabuco, psicólogo com Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Esse “impulso mental” pode ser visto operando também nos animais e explica o fato de andarem em bando, pois junto com o grupo, a alimentação, o acasalamento e a proteção se dão de forma mais efetiva, garantindo uma maior sobrevivência.
Por causa disso, quando crescemos, também buscamos instintivamente apoio e proteção de nossos pais para que depois, com a passagem do tempo, possamos perseguir na vida adulta uma nova figura de apego que nos proteja. No caso, os parceiros românticos.
“Desta maneira, biologicamente falando, o mecanismo de apego sempre se manifesta antes do afeto, pois primeiro precisamos nos sentir protegidos para depois podermos estar seguros para gostar de alguém. Isso equivaleria dizer: a existência de uma “lei de sobrevivência” cerebral, ou seja, a busca de apoio vem sempre antes”, ele explica.
“Vejamos, quando o sentimento de proteção se faz manifesto, portanto, ficamos livres para estarmos ligados (afeiçoados) a alguém. Perceba, assim, que, sentir-se protegido, não é a mesma coisa do que sentir-se querido, pois são circuitos mentais distintos que são acionados. Entretanto, as coisas nem sempre saem como esperado. Nosso cérebro sempre nos impulsiona a desenvolver relações de apego e busca de segurança, mesmo naqueles casos onde o apego recebido não é dos mais expressivos”, completa.
É por isso que, muitas vezes, gostamos de uma pessoa, mas não nos sentimos tão protegidos por ela. Isso explicaria, em parte, por que muitos indivíduos desenvolvem relações paralelas (casos extraconjugais) com outras pessoas – não apoiando esse comportamento, é claro.
“Isso pode acontecer porque em uma pessoa se manifesta o apego e em outra o afeto. As relações mais duradouras são, na verdade, aquelas nas quais a figura de afeto é ocupada pela mesma figura de apego”, explica o psicólogo.
Isto é, equivale dizer que conseguimos gostar de alguém que também nos traz a sensação de proteção. Desta forma, as relações românticas mais satisfatórias são aquelas que nos fornecem ambas as coisas (sensação de afeto junto com a de apego) e que são popularmente denominadas de “relações de cumplicidade”. Moral de história: nestes casos, gostamos de alguém que também nos protege.
O que a pesquisa levanta, no fim das contas, é que na ausência de uma boa figura de afeto, acabemos nos contentando com uma que, pelo menos, nos forneça sensação de proteção, ainda que fiquemos infelizes.
Cristiano conclui: “Isso explica também a razão pela qual sempre temos algum conhecido que passa uma vida inteira com alguém que não lhe traz a felicidade, ou seja, ainda que não exista afeto evidente, possivelmente existe a percepção desta pessoa de um sentimento de proteção.”
Ou seja, aquela analogia clássica segue valendo: quando o amor não estiver sendo servido, saia da mesa.
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