A Ásia é o novo centro da moda; o que isso muda para nós?

Uma asiática é a empresa de moda mais valiosa do mundo. Além disso, o mercado da moda se volta para a Ásia como nunca antes. E o Brasil?

A Ásia é o novo centro da moda; o que isso muda para nós?

O mundo da moda está mudando. Não apenas na relação entre consumidores e marcas, impulsionada pela pandemia, mas também no ponto de vista geográfico e, possivelmente, cultural. O centro da moda, agora, é a Ásia. E isso pode mudar as coisas aqui para nossos lados.

Economicamente, os resultados já são claros. A japonesa Fast Retailing, empresa mãe da Uniqlo e de outras marcas, se tornou a companhia de moda mais valiosa do mundo em fevereiro. Valendo 105 bilhões de dólares, superou a espanhola Inditex, proprietária da Zara.

Em termos de receita, a japonesa ainda está atrás da espanhola e da sueca H&M. Mas a alta constante no preço de suas ações desde o meio de 2020 indica um movimento maior. E isso tem sido impulsionado por vários fatores.

Contexto favorável a mudanças

Em primeiro lugar, a Uniqlo, que responde por mais de 83% da receita da empresa, estava no lugar certo e na hora certa. Especializada em roupas casuais e confortáveis, ideais para “ficar em casa”, ela surfou na onda do home office compulsório causada pela pandemia.

Além disso, a Fast Retailing já tinha investido em uma transformação digital. A mudança para o e-commerce, também impulsionada pela crise, parece ter vindo para ficar. A empresa apostou em tecnologia e tem usado a inteligência artificial do Google para identificar melhor as tendências de produtos e prever a demanda, aprimorando sua experiência de vendas.

A nova loja da Zara em Beijing é a maior da empresa na Ásia

O fator mais importante dessa valorização, contudo, pode ter sido a escolha estratégica de, em vez de abrir lojas pelo Ocidente – como no Brasil, onde faria sucesso – a Fast Retailing ter decidido manter seu foco na Ásia, especialmente na China. São mais de 2.000 lojas em todo o mundo, sendo 60% delas no continente asiático e mais de 800 só na China.

O país asiático teve uma gestão bem-sucedida da crise provocada pela pandemia, controlando o vírus e proporcionando uma recuperação econômica em forma de V, algo que poucas outras economias conseguiram. Enquanto os principais mercados da moda estão na Europa e nos Estados Unidos, e seus governos sofrem para controlar o Covid-19 e recuperar suas economias, o PIB da China tem ido muito bem, obrigado. A economia chinesa cresceu 2,3% em 2020 – foi o único grande mercado a fazer isso.

O mundo da moda vai à Ásia

Em 2019, a China já tinha ultrapassado os Estados Unidos como o maior mercado de moda do mundo, de acordo o relatório da consultoria McKinsey. A pandemia aumentou essa diferença, mas nem só de China se faz um continente.

A Fast Retailing, que planeja ter 3.000 lojas só na China, quer aumentar sua presença em outras partes da Ásia. Recentemente se voltou para a Índia, a segunda nação mais populosa do mundo e provavelmente o próximo grande campo de batalha para marcas de moda globais.

Até a Zara está abrindo lojas indianas e já tem 20% de suas lojas no continente asiático. Embora continue dependendo da Europa e dos Estados Unidos (onde estão 70% de suas lojas), a marca espanhola quer mudar esses números. Sua maior loja asiática, em Pequim, foi inaugurada em outubro de 2020, por exemplo.

A nova loja da Zara em Beijing é a maior da empresa na Ásia

O que muda agora?

A moda sempre foi dominada pelo Ocidente. A indústria se acostumou a ter na Europa e os nos Estados suas maiores fontes de demanda de consumo, bem como o lar dos produtos mais valiosos desse universo. Agora, uma gigante japonesa com presença dominante na Ásia é a empresa de moda mais valiosa do mundo. E isso é visto por especialistas como um reflexo do quanto a pandemia está acelerando o deslocamento da moda global para o Oriente.

Isso significa que todos precisarão se adaptar: reajustar desde suas estruturas organizacionais até sua variedade de produtos e suas estratégias de marketing nas redes sociais. Nessa história, a região da América Latina pode perder influência, ficando sempre como a terceira opção de mercado para as marcas globais. De lançamentos a comunicação com consumidores, é provável que a atenção não esteja em nós por um bom tempo. E que os próprio produtos não sejam pensados para cá ou trazidos em grandes quantidades. Em última análise, é capaz que o seu número de roupa mude. O padrão asiático de tamanhos é menor que o nosso, e comprando roupas de lá precisamos sempre adicionar um tamanho a mais.

A tendência global já era de foco em e-commerce, sustentabilidade e revenda. Então não é absurdo imaginar um mundo em que os brasileiros que consomem moda masculina, por exemplo, tenham que importar produtos da Ásia e que o mercado nacional se apresente como, senão tão rentável quando o asiático, mais aberto a opções sustentáveis e disposto a abraçar novas relações de compra e venda.

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Felipe Blumen
Felipe Blumen

Historiador, jornalista de lifestyle e fã de foguetes, Corinthians, gibis e outras bagunças.

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