Se a crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus deixou marcas em diferentes áreas, na moda não seria diferente. Boa parte das pessoas repensou a maneira de consumir tudo, incluindo suas roupas. E a grande lição que pode ficar para o futuro da moda masculina – que começa a partir de agora já- é que o “menos é mais” pode virar lei.
Basicamente, as pessoas querem comprar menos peças, mais básicas, sustentáveis e mais duradoras. E, graças à crise, as marcas também têm interesse nisso.
A crise
Mesmo antes do coronavírus a indústria da moda já passava por um momento delicado. Muito estoque e muito desconto fizeram com que, segundo especialistas, apenas 60% das peças serem vendidas pelo preço total. A conta não fechava.
Durante a pandemia, a situação piorou. Segundo o relatório State of Fashion, produzido todos os anos pela consultoria McKinsey em parceria com o Business of Fashion, os pedidos caíram 33% apenas nos primeiros três meses de 2020. Embora algumas empresas tenham encontrado maneiras criativas de limpar o estoque indesejado – com sites especiais, coleções antigas sendo vendidas com desconto, etc. – outras marcas estão segurando as pontas na esperança de um aumento das vendas em 2021.
O novo consumidor de moda
O que o relatório sugere é que o problema do excesso de estoque só vai piorar no futuro se as empresas não conseguirem se adaptar à nova mentalidade do consumidor. A pandemia fez com que as pessoas adotassem a abordagem “menos é mais”: cerca de 65% dos entrevistados planejam comprar itens mais básicos, duradouros e de alta qualidade. Os ouvidos também consideram a “novidade” um dos fatores menos importantes ao fazer compras.
A sustentabilidade também ganhou ainda mais peso. Mais da metade dos consumidores disse que o foco em sustentabilidade das marcas é um fator importante na hora de decidir comprar algo – e o mercado se voltou para isso. A Reserva é uma das marcas que têm uma linha de produtos de algodão reciclado, usando sobras de roupas para fazer outras. Até a Adidas anunciou que lançará tênis plant-based, feitos com couro de cogumelo.
“Aparentemente, a pandemia não só acelerou uma crítica pré-existente ao consumismo, mas também o aumento da importância da sustentabilidade nas decisões de compra e o surgimento de modelos de negócios circulares (especialmente revenda)”, diz o documento. Ou seja: brechós continuam com tudo, sobretudo os que vendam coisas boas e duráveis.
Menos produtos, mais efetividade
A nova realidade para as marcas, defende o relatório, é se concentrar em três pontos principais: deixar de produzir tanto e mudar em direção a um modelo orientado pela demanda; reduzir a complexidade do processo produtivo e recalibrar a relação preço-volume.
A Reebok, por exemplo, tomou em 2020 algumas decisões sobre projetos baseadas em votos dos consumidores – tocando em frente apenas os que ultrapassaram um limite mínimo de demanda. Até a Nike tirou do papel modelos de pré-venda e produção sob medida, nos quais os consumidores compram itens antes deles serem produzidos e os recebem várias semanas ou até meses depois.
Está claro para quem é da indústria que existe um movimento em curso para transformar a cadeia produtiva.
A moda em 2021
“Esperamos que as marcas aprimorem suas redes usando análises de alta qualidade e testem mais produtos com os consumidores antes da produção”, projeta o relatório para 2021. “Isso pode levar a uma mudança permanente de mentalidade entre os consumidores”, conclui o texto.
Ou seja, quem produz moda masculina (e feminina, e genderless) precisará se tornar mais ágil e inteligente para adotar uma abordagem mais na medida e sensata na produção. Afinal, é isso que o consumidor parece querer daqui em diante.
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