Ela deixou de gostar de mim porque sou de centro-esquerda

O cronista fala sobre uma combinação do Tinder que deu errado por causa de política.

O relacionamento que deu errado por causa de política

O Tinder, essa invenção maravilhosa em que você se expõe como uma máquina de brinquedos: esse não, esse talvez, esse nem pensar. Sou adepto, tenho muitas histórias boas e outras nem tanto. Como a garota que falava inglês tão bem quanto Paul McCartney mas não sabia diferenciar a gente de James Bond. Ou a outra que não gostava de rock ‘n roll.

E foi num desses “matches” que conheci a menina que tinha um nome bonito. Aquele nome sonoro, que não convém citar aqui. Eram 32 interesses em comum, caras! Minha alma gêmea? Todo dia, toda hora, ela vinha falar comigo. E vice-versa.

A gente falava de política, eu de centro-esquerda, ela do PSOL. Tínhamos até candidatos em comum. Só não dava pra se aprofundar muito sobre música, ela era aquela que não gostava de rock e eu… não sei lidar muito bem com isso.

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Depois de muito conversar, resolvemos o encontro, uma coisa meio precipitada pra se levar alguém que não conheço: o aniversário do meu amigo mais antigo. Chegamos tarde, a festa já estava acabando e não ficamos tão à vontade. Todos já bêbados falando como sou foda não parece ter caído muito bem, nem pra mim, nem pra ela. Tudo bem, nos beijamos diversas vezes naquele sábado chuvoso e quase… Resolvi segurar a barra.

Na segunda-feira seguinte, encontro na Pedra do Sal. Para quem não conhece, é um lugar histórico no Rio de Janeiro onde foi praticamente fundado o samba, um símbolo de resistência em que acontece a famosa roda todo começo de semana.

Apresentei outros amigos, todos sorrindo e de mãos dadas. Foi bem divertido, até que chega uma amiga dela, cujo “affair” estava com outra menina. Fomos retirados de lá às pressas para a Lapa, bairro vizinho. No caminho, fui proibido de tocar no assunto.

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No bar onde pousamos, já a muitas cervejas servidas, e um papo agradável com a mesa ao lado, reparei nos adesivos de campanha que cobriam a camiseta que sua amiga vestia. Dilma e PCdoB num mosaico até romântico, jovem engajado é a coisa mais bonitinha. Menos quando atrapalha a conversa para cantar o jingle do candidato, lendo a letra na tela do iPhone. Eu apenas sinalizava pra pegar leve, estava destoando e tal…

Tem gente que se toca quando está sendo incoveniente, não é mesmo? Não foi o caso e acabei quebrando a promessa do parágrafo anterior. O clima foi ficando tenso e até sugeri, de brincadeira, que ela se mudasse para Cuba, numa gargalhada coletiva (da mesa ao lado). Até começaram algumas piadinhas a meu respeito, dizendo que eu era de direita por não ser o maior fã do socialismo…

Poucos dias depois, eu entrevistaria o colunista da revista Veja Rodrigo Constantino e a menina do nome bonito tinha combinado de ir comigo. Discordávamos belamente das ideias dele, e era legal concordar em mais isso com alguém que se estava saindo. Ela encontraria comigo depois do trabalho, pertinho do local marcado com o liberal polêmico. Aparentemente, mudaram os horários dela.

Entre um desencontro e outro: “Nós somos bem diferentes”. E a menina do partido de ideias tolerantes não levava isso muito bem para a vida pessoal. Sabe, a gente podia discordar na política também, viu? Eu não levei na boa o fato dela não gostar de Beatles? Você estava esperando uma história com final feliz? Eu, pra variar, escolhi um candidato bem paz e amor.

Marco Sá
Marco Sá

Dono do Em Sá Maior (emsamaior.com) carioca, músico e poeta de poucas métricas. Administrador por formação e redator por vocação. Adora essas coisas de internet e só não joga nas onze porque é baixinho.

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