Quando você vê alguém de aproximadamente 30 anos falando que é garoto, ou um homem sendo chamado de menino, sente o quê? Você é esse cara? Se é, talvez esteja na hora de refletir sobre sua imaturidade ou sua capacidade de lidar com os perrengues da vida.
Veja bem, não estamos querendo te colocar em uma caixinha de acordo com a data no seu RG nem obrigá-lo a se comportar de tal forma. Cada um se desenvolve no seu ritmo e curte a vida como quer. Mas há problemas pessoais e sociais que contribuem para a formação de homens imaturos – e que depois vão cobrar a conta nos seus relacionamentos. É preciso conhecê-los para refletir se você deveria mesmo se considerar “garoto, “jovem” ou “menino” em certos contextos.
Adolescência tardia e imaturidade
Em 2018, um estudo científico gerou debates pelo mundo ao propor que a adolescência deveria ir até os 24 anos, em vez dos costumeiros 18/19. A explicação seria o fato dos jovens estarem optando por estudar por mais tempo em vez de sair da casa dos pais, casar ou ter filhos. No ano seguinte, um neurocientista foi na mesma onda, defendendo que a vida adulta não começa plenamente até os 30 anos.
A adolescência é o período de formação em que aprendemos a viver e amadurecemos como humanos. O problema vem daí. Quando a maturidade não vem, o homem tem problemas para fazer a transição da adolescência à vida adulta. Permanece em um limbo, virando um adulto imaturo normalmente visto por outras pessoas (e por ele próprio) como garoto. E isso pode durar até bem depois dos 30 anos.
Em um estudo sobre o assunto, o psicanalista e consultor de relacionamentos Alessandro Poveda define a imaturidade como um “comportamento caracterizado pela permanência do indivíduo em estágios anteriores ao desenvolvimento intelectual, emocional ou moral”. O que, em relacionamentos, pode ser percebido como irresponsabilidade, infantilidade e criancice.
Para o psicanalista, o homem vai amadurecendo quando assume responsabilidades, firma compromissos, toma decisões e enfrenta suas consequências. Em muitos casos, portanto, homens viram adultos imaturos quando alguém faz isso por eles: mães, pais, parceiros, noivas, esposas.
Sinal dos tempos
Essa imaturidade masculina sempre existiu, mas hoje vivemos em um mundo com um número elevado de homens adultos e infantilizados. Uma das possíveis explicações para isso, segundo o psicólogo e psicanalista André Dória, Coordenador do Núcleo de Transtorno Bipolar da Holiste Psiquiatria, é social.
“Vivemos em uma época de elogio à juventude e a coisas a ela relacionadas: competitividade, inteligência, beleza”, diz Dória. “E isso virou um produto a ser consumido. Nós estamos cultuando e consumindo juventude através de cirurgias plásticas, pílulas para aumentar a performance sexual, pílulas para performance intelectual, etc. Esse é um sintoma do nosso tempo. Mas não necessariamente é uma patologia”, completa.
O psicólogo explica que, do ponto de vista emocional, homens que têm pouca capacidade de lidar com frustrações, controlar impulsos e ouvir nãos acabam desenvolvendo uma postura infantilizada. E que isso pode ser também um problema geracional.
“Esse traço de personalidade tem a ver com a família em que esses adultos imaturos cresceram”, defende. “Muitas vezes são filhos de pais e mães que não impuseram limites porque eles mesmos, os pais, foram castrados pela geração anterior. Mas para virar um adulto, é preciso ouvir ‘não’ desde a primeira infância. O que surge de quem cresce sem ouvir ‘não’? Jovens com dificuldades em enfrentar a chatice da vida adulta”, explica.
Talvez eu seja um adulto imaturo. E agora?
Claro, nem todo mundo é assim. Muitos jovens adultos assumem responsabilidades desde cedo e seguem curtindo suas vidas. Além disso, em um país desigual como o Brasil, a maturidade surge à força para muita gente que não tem grana – frequentemente de maneira injusta.
Mas se você é um cara que teve afeto em casa, acesso a informação e pode refletir sobre si mesmo, pense se seu “jeito garotão” tem algo de imaturidade. Pense se você já se definiu como “garoto” para escapar de um perrengue ou se alguém já te chamou assim para aliviar alguma cagada que você cometeu.
“A maturidade não está ligada à cronologia, aos 18, 20, 30, 40 anos”, diz Dória. “Seja qual for a idade, a pessoa tem que ter autocrítica pra perceber se tem impasses na relação com o outro, se está estagnada, se não se desenvolve na vida amorosa ou profissional. Se tem dificuldade em lidar com o ‘não’, deve tomar consciência disso e buscar ajuda”, conclui.
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