Alguns grupos humanos não só conhecem, como precisam praticar o isolamento como ferramenta profissional por muitos períodos. Estou falando de cientistas polares e astronautas.
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Cientistas Polares e Astronautas
Cientistas polares isolam-se para estudar a geologia do planeta. O que você talvez não saiba é que existe uma base na Antártida, a Concordia, que serve de preparo para astronautas viajarem para fora da Terra.
Ela fica no topo de uma montanha de mais de 3 mil metros e abriga uma dúzia de cientistas durante o inverno. Por ser um ambiente totalmente diferente ao da Terra (com temperatura chegando a -140º), com atmosfera densa (não se encontra água na forma líquida), com condições climáticas extremas (Sol aparece três meses ao ano) e isolada, é o ambiente preferido de treinamento para os astronautas.
Por isso, muitos especialistas estudam essa pequena parcela de pessoas, para entender os efeitos psicológicos da reclusão. O objetivo é saber como isso afeta a saúde mental em situações extremas e como remediar isso.
Não é difícil colocar em paralelo o contexto que vivemos com a Pandemia do Coronavírus (Covid-19) e a necessidade da maioria da população de se manter trancada em casa para se proteger da doença.
“Nos últimos dias escutamos muitas histórias de aumento de sensações de depressão, ansiedade, irritabilidade e transtornos do sono experimentados por pessoas isoladas pelo coronavírus, muito similar ao que experimentam alguns astronautas e expedicionários polares”, diz Larry Palinkas, psicólogo da Universidade do Sul da Califórnia.
Segundo o especialista que estuda pessoas submetidas a essas condições há décadas, nem todos os humanos conseguem se adaptar a este ‘novo normal’ facilmente.
Apesar disso, Palinkas acredita que muitos ensinamentos podem ser retirados das experiências de astronautas e expedicionários para o público geral.
Claro, respeitando as condições sócio-econômicas de cada um, você pode levar algumas destas lições para o seu confinamento pessoal.
Dicas de como manter a saúde mental no isolamento
Dias ruins passarão
“Eles sabem que haverá dias ruins, mas que passarão”, diz Emma Barrett, da Universidade de Manchester, especialista na psicologia de situações extremas.
Ou seja, você não precisa criar uma realidade fantástica e fugir da situação difícil em que se encontra. Mas, não pode ser tomado pelo negativismo e pela incerteza do momento.
Barrett reforça. “O importante é se centrar no presente e tentar não se deter em um futuro incerto. Concentre-se nas coisas que você pode controlar, não no que não pode. A ansiedade pode escapar do controle se você passar todo o dia se preocupando com o futuro”.
Faça as coisas simples e básicas
Larry Palinka revela que muitas aventuras polares do século 19 terminavam com o grupo exposto “ao motim, à loucura, ao suicídio e ao canibalismo”. Mas as condições atuais dos cientistas da base Concórdia (Antártida) não são tão extremas, já que possuem muito mais estrutura que no século anterior. Dessa maneira, está muito mais parecida a situação que as pessoas passam em casa ao desconhecido de décadas atrás.
Por isso, os principais sintomas mais comuns que os cientistas polares apresentam são bem familiares a todos nós. Como: dores de cabeça, tédio, fadiga, falta de atenção à higiene pessoal. Além destes, menor motivação com “inércia intelectual” e aumento de peso provocado por um maior apetite.
Reduza os esforços mentais
Entre os sinais mais diferentes que os enclausurados sofrem está o de embotamento mental. “Algumas pessoas podem experimentar dificuldades para recordar coisas e completar certas tarefas à medida que suas mentes começam a experimentar uma forma de hibernação psicológica”, explica Palinkas.
Ou seja, o indivíduo passa por algo como se fosse uma hibernação cerebral. É um fenômeno que foi observado durante experimentos de simulação espacial de longa duração e em bases polares. Acontece como uma “desaceleração do corpo e da mente devido à estimulação restringida”, nas definições de Palinkas.
Na prática, a gente vê isso refletir nas pessoas que acabam dormindo por mais tempo que o normal, ou mesmo ter dificuldades para dormir. Além disso, o funcionamento cognitivo apresentará pequenos sinais de deterioração.
Uma pesquisa feita recentemente na base Concórdia revelou que os cérebros se deixavam levar em vez de enfrentarem a situação. “É um mecanismo de proteção contra o estresse crônico. Se as condições forem incontroláveis, mas você souber que em algum momento no futuro as coisas melhorarão, você pode optar por reduzir os esforços mentais para preservar a sua energia”, explicava Nathan Smith, da Universidade de Manchester.
Estabeleça uma rotina – Como manter a saúde mental
Outro truque para ocupar o tempo em uma situação extrema é a de estabelecer uma rotina que ajude a reduzir a incerteza ao construir uma estrutura firme no cotidiano.
Você pode fazer isso organizando as tarefas durante o dia, criando horário para trabalhos, estudos e exercícios.
Para reforçar esta ideia, levantamos estudos realizados entre 2010 e 2011, com oito voluntários que passaram 520 dias encerrados (Mars 500), simulando uma missão a Marte. O comportamento da missão mostrou que exercício de resistência aeróbicos (como correr, pedalar) não só ajudava fisicamente como também melhorava a adaptação em termos psicológicos e de rendimento cognitivo, enquanto os exercícios de força não ofereceriam o benefício semelhante.
Tenha um espaço próprio
Urbina também fala da importância de encontrar um espaço próprio para se isolar dos outros companheiros de confinamento.
Independente da situação, os especialistas mais diversos recomendam ter este ambiente particular. Por menor que seja (um cômodo, uma mesa, uma cama), que sirva de um local sagrado onde possam se sentir confortável e que os outros respeitem ele.
Seja mais tolerante – Como manter a saúde mental
“Hoje foi difícil. Não entendemos o que está acontecendo conosco. Caminhamos em silêncio um ao lado do outro, sentindo-nos ofendidos. Temos de encontrar alguma maneira de melhorar as coisas.” Este desabafo foi feito pelo cosmonauta soviético Valentine Lebedev, que passou 211 dias a bordo da Mir em 1982. Segundo ele, 30% do tempo no espaço envolvia conflitos da tripulação.
São coisas pequenas que acabam se transformando em grandes mal-entendidos. Depois de passar um ano na base Concórdia, a doutora Beth Healey resumiu o problema. “Todos notam tudo. Inclusive uma mudança no que você comeu no café da manhã se torna objeto de longas discussões”.
Por isso, a recomendação é que você respeite o espaço dos outros. Além disso, tente, ao máximo possível, ser tolerante e dialogar se tiver que passar algum confinamento acompanhado.
Crie um diário de bordo
Outros especialistas recomendam escrever um diário, por exemplo. A prática funciona como uma autoterapia, pois proporciona uma válvula de escape para expressar seus sentimentos, além de ocupar o tempo.
Mas, escrever um diário não é a mesma coisa que interagir em redes sociais. Diego Urbina, um dos tripulantes da Mars 500, recomendou recentemente escrever cartas ou e-mails em vez postar nas redes sociais. “Escrever mensagens longas e cartas ajuda a refletir, a fazer introspecção e permite um contato humano mais profundo do que o que podemos ter hoje através do WhatsApp”.
Barrett aponta também a necessidade de criar o seu pequeno espaço particular para dar sentido ao caos.
A união é importante – Como manter a saúde mental
Para amenizar os atritos, a base polar tinha como obrigação fazer as refeições em conjunto. Isso também servia para evitar que alguém se isole ou sinta-se isolado.
Outro ponto importante e pregado por astronautas e cientistas está nas comemorações. Celebrar aniversários, pequenas conquistas ou criar motivos para organizar uma festa é importantíssimo para aproveitar o momento, relaxar e divertir.
Assim, qualquer coisa pode ser desculpa para celebrar. De uma receita bem feita a fazer atividades físicas por duas semanas. Estas pequenas vitórias ajudam a dar sentido e deixar o grupo mais fortalecido.
Tenha atividades de distração
O tédio no isolamento é inevitável. Mas, estes profissionais de situação extrema combatem a monotonia com atividades passivas muito comuns, como assistir televisão, videogames. Ou você pode propor atividades ativas, como criar pequenas apresentações teatrais, jogos coletivos, cozinhar, etc.
Nos dias atuais estamos presenciando isso, com apresentações musicais nas varandas ou projeções em paredes. O simples fato de dar aquela saidinha com o cachorro para passear ou fazer compras no mercado podem ser ótimas formas de contatos sociais.
Dessa maneira, são estas coisas que fazem você não se sentir isolado nesse momento difícil de mudanças e incertezas.
Pratique o riso – Como manter a saúde mental
Por fim, o último e importante conselho está no abuso do humor. “O Humor é importante porque permite o exercício da criatividade e ajuda a desviar a tensão social e reduzir o conflito potencial”, revela Palinka.
Para reforçar a importância do riso, um estudo feito com várias tripulações espaciais descobriu que o humor era um mecanismo habitual para enfrentar as tensões em todas as culturas e situações. A prática diminuía os níveis de solidão, depressão, estresse, tensão e ansiedade entre os astronautas, enquanto melhoravam os sentimentos de amizade, autoestima e otimismo.
Aliás, o brasileiro tem muito o uso do humor como forma de expressão social. Lidamos com situações difíceis e adversidades abusando da risada, do cinismo e sarcasmo.
Mas, Barrett aponta que também é preciso ter cuidado com o tipo de humor usado. “Existem muitas provas de que o tipo correto de humor pode ser crucial para enfrentar altos níveis de estresse diante da adversidade. Mas é preciso ter cuidado: a piada alegre de uma pessoa pode ser irritante para outra ou inclusive ela pode se sentir criticada. O humor ajuda a aliviar o estresse desde que não caia na intimidação”.
Fonte: El Pais
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