Um escândalo tem mexido com o mundo sneaker – e, na verdade, todo mundo que se liga no cotidiano de grandes empresas globais – nos últimos dias. A história envolve revenda de tênis, Nike, uma executiva de alto escalão da empresa, seu filho e um cartão corporativo.
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Ann Hebert, vice-presidente e general manager da Nike na América do Norte, pediu demissão na última segunda-feira (1) após acusações de que seu cartão corporativo teria sido usado para financiar o negócio de revenda de tênis de seu filho, Joe.
Para entender a gravidade do caso é preciso olhar para o tamanho do mercado de revendas, sua relação com as fabricantes e onde a executiva da Nike agiu (ou não) nessa confusão.
Entendendo o caso: o contexto da revenda
O negócio de revenda, principalmente de tênis, é bastante lucrativo em todo o mundo. Sobretudo nos Estados Unidos, onde a maioria dos lançamentos exclusivos chega sempre.
Assim, modelos difíceis de encontrar podem ser comprados por 150 dólares e revendidos por três, cinco ou até dez vezes esse valor. Um par de Air Yeezy “Red October”, por exemplo, de quando Kanye West e Nike ainda trabalhavam juntos, pode ser encontrado por mais de 15 mil dólares no mercado.
Segundo um relatório publicado em 2020, mercado atual de revenda de tênis Nike, Adidas e de todas as outras marcas vale cerca de 2 bilhões de dólares só nos Estados Unidos atualmente. A a previsão é de que o valor chegue nos 30 bilhões de dólares globalmente até 2030.
Toda essa indústria é teoricamente legal, mas há uma série de conflitos entre revendedores, fabricantes e compradores por trás dessa grana. Como o uso de robôs para burlar sistemas de vendas das lojas, que impossibilita pessoas normais de conseguirem comprar um modelo desejado. Ou o efeito que o negócio causa sobre o preço final dos produtos. Em linhas gerais, é como o esquema de camelôs para ingressos de jogos e show no Brasil.
Entra em cena a West Coast Streetwear
Uma semana antes da demissão, a revista Bloomberg Businessweek publicou uma reportagem sobre a ascensão da West Coast Streetwear, uma empresa que compra e revende edições limitadas e muito procuradas de tênis e roupas, como Yeezys e Air Jordans.
A empresa pertence a Joe Hebert, um jovem de 19 anos, e é uma das que fazem uso de robôs e softwares que “facilitam” as compras. Segundo a matéria, por exemplo, gastou 132 mil dólares em um único lote de tênis para revendê-los com um lucro de 20 mil dólares.
Para provar esses ganhos, o jovem dono enviou uma fatura de um cartão de crédito American Express ao repórter da Bloomberg que escreveu a matéria. O problema é que o cartão era corporativo e estava no nome de Ann Hebert, sua mãe.
Há conflito de interesses?
No ano passado, Ann Hebert assumiu seu cargo com a função de diminuir a dependência de lojas físicas na relação com o consumidor, incentivando os clientes a comprarem os tênis diretamente no app SNKRS. (No Brasil, ele é só uma seção dentro do site da Nike, mas nos EUA é a principal maneira de comprar um lançamento da marca.) Como a própria Bloomberg observou, essa digitalização ajudou ainda mais a alimentar o mercado de revenda de tênis.
Segundo a Nike, a empresa sabia que Ann Hebert tinha um filho que trabalhava com revendas e não via conflitos de interesse na história. Joe também disse à Bloomberg que nunca recebeu informações privilegiadas da mãe.
O problema é que a reportagem diz que Hebert compartilhou informações sobre lançamentos futuros em um grupo premium de revendedores. Ele alega que não eram informações privilegiadas, e que seu “talento para negócios” vem do fato de morar em Portland, sede da Nike.
De qualquer forma, a confusão foi suficiente para a mãe desistir de um dos empregos mais poderosos do mundo dos esportes.
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