“Eu me apaixonei por futebol do mesmo jeito que me apaixonei por mulheres: De repente, sem explicação, sem senso crítico, sem pensar em nenhum momento sobre as dores e problemas que viriam junto com esse amor”.
A frase retirada do livro “Febre de Bola”, de Nick Hornby, resume bem como é difícil explicar a fixação por futebol. Mais difícil ainda, é explicar o amor de um torcedor por um time pequeno de bairro como o Juventus, da Mooca.
É difícil por em termos o que é ser um Juventino, você apenas o é. As faixas penduradas nas laterais externam um pouco os sentimentos da torcida: “Ódio eterno ao futebol moderno”, “Origine Operare” e “Loucura e Travessura”. Na turma do Setor 2, passado e presente se misturam. A nostalgia é combustível para trazer público ao estádio e empurrar o time em campo.
Hoje, já dá para dizer de boca cheia que o Juventus é um patrimônio histórico da cidade de São Paulo. Mas tal qual pontos turísticos da cidade, muitos paulistanos nunca pisaram no estádio da Rua Javari, muito menos sabem como chegar na Mooca.
O MHM vem aqui fazer uma prestação de serviços e listar os motivos pelos quais todo paulistano deveria ir num jogo do Juventus. Se liga:
Futebol sem marketing e sem frescuras
Lembra quando o futebol não era veículo para exposição de marcas e jogadores mas sim um esporte? Pois é, parece que este tempo está congelado no Estádio Conde Rodolfo Crespi.
A falta de patrocínios e estrelas fazem com que a diretoria sofre para manter o time na ativa, mas também torna o futebol jogado em campo o mais puro possível. É um meio termo entre um time grande de campeonato brasileiro e um time de bairro de várzea.
Na torcida, o sotaque italiano comenda os xingamentos – destinados ao time adversário ou não. Na Javari, cobra-se trabalho do treinador ali mesmo: cara a cara. “Orra, meu. Vamo joga bola, caspita!” Quem vai sempre, sabe quem é a família dos jogadores, onde moram o que fazem: “Aquela ali é a tia do lateral, mas só ela acha que ele joga bem”. Um futebol sem máscaras, como deveria ser sempre.
Porque é na Mooca, belo
O morador de São Paulo é uma contradição. Apesar de amar todos os benefícios da cidade, vive reclamando de trânsito, poluição, violência, ciclovia, faixa de ônibus, Radial Leste parada, Marginal parada… Mas pode reparar: Você vê um paulistano falando mal de São Paulo, mas dificilmente verá um mooquense falando mal da Mooca. A Mooca é casa nostra e casa nostra é sagrada.
Chamado de mais paulistano dos bairros, a região desperta o bairrismo mesmo em quem acaba de chegar por lá. Não que o distrito tenha muitas opções de lazer para forasteiros. Há muito pouco o que fazer para quem não é de lá. Difícil explicar.
Como explicar que dentro de uma cidade tão grande, existe um bairro com ar de interior? Só quem mora por lá consegue entender a energia das ruas calmas, a alegria de sair dando bom dia no caminho para trabalho e o sotaque italiano – que mesmo com o passar dos anos – permanece na boca do povo de lá.
Cannoli
Além de um programa esportivo e de resgata histórico, um jogo do Juventus também pode ser uma experiência gastronômica. Tudo graças a Antônio Pereira Garcia, vendedor de cannolis que há mais de 40 anos bate ponto no Estádio do Juventus.
Lembra da frase do Poderoso Chefão? “Deixe a arma, pegue os cannoli”? Podemos aplicar a mesma aqui. Você pode ir até o estádio e ficar de costas para o jogo, mas não cometa o crime de não comer um cannoli enquanto estiver no Rodolfo Crespi.
A iguaria é um pequeno tubo feito de massa doce frita recheada de creme de baunilha ou chocolate. A fila assusta no começo, mas com o desenrolar do jogo vai diminuindo. Por isso já sabe, separe a grana para o ingresso e para o doce desjejum também.
Ganhando ou perdendo
“Por toda minha alegria / Por toda minha vida / Moleque Travesso / Da Mooca querida / Ganhando ou perdendo / Estou sempre contigo / É meu sentimento / É meu bom amigo/ daleo/ daleo/ daleo….”
Os juventinos não vivem de títulos, vivem de amor ao time. Da alegria de juntar a família para ir ao estádio, comer um cannoli e ver o time grená e branco jogar. O Juventus vive de amor e de ódio.
Ódio ao futebol jogado hoje no Brasil, onde o jogador cair por qualquer falta. Ódio ao esporte onde o que é importa é o patrocinador da chuteira ou da camiseta. Ódio ao ingresso “popular” que custa mais de R$100. Ódio eterno ao futebol moderno. Vida longa ao Juventus.
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