15 cachaças para beber antes de morrer

Conversamos com o especialista Maurício Maia que indicou os rótulos

Conversamos com o especialista Maurício Maia que indicou os rótulos

Os apelidos são muitos dados a bebida genuinamente brasileira e que, com o futebol, o samba, a feijoada, dão destaque à nossa cultura. Estou falando da cachaça, a nossa paixão nacional.

+ Confira a entrevista com Leandro Batista, Sommelier de Cachaça
9 Cachaças artesanais para experimentar

Quem pensa que a bebida só canta de galo em solo nacional, sendo a segunda mais consumida no país (atrás somente da cerveja) errou. A marvada também é o terceiro destilado mais consumido do mundo. Fica atrás apenas da vodca e do soju, destilado feito de arroz pelos coreanos.

Aproveitamos o Dia da Cachaça, comemorado em 13 de setembro, para entrevistar um dos caras pioneiros e especialistas no assunto, Maurício Maia. Com o apelido de Cachacier, há 20 anos ele se dedica ao estudo do destilado e há 12 trabalha focado na área.

Confira o bate-papo abaixo e depois uma uma seleção indicada por Maurício Maia, com as 15 cachaças artesanais para beber antes de morrer, divididas por preço e acessibilidade.

15 cachaças para beber antes de morrer maurício maia 2


Foto: Léo Feltran

Gostaria de saber como deu-se o seu interesse pela bebida?
Maurício Maia: Sempre fui um apreciador, e comecei a estudar como um hobby. Porém conforme fui conhecendo melhor o mercado e seus players (produtores, comércio e distribuidores), notei que havia uma certa carência de especialização e serviços técnicos e comecei a treinar brigadas de bares e restaurantes e montar cartas de cachaças. Comecei também a prestar consultoria para produtores para que estes pudessem aprimorar as qualidades sensoriais de sua cachaça.

Qual é seu rótulo (ou rótulos) preferidos no momento?
Atualmente posso citar três marcas que me impressionaram, a Cachaça Perfeição que é produzida pelo baterista da Legião Urbana, Marcelo Bonfá, a Cachaça Cedro do Líbano, produzida pela Fazenda Libanus no Ceará e a Cachaça Middas, de Dracena no interior de São Paulo, que vem com flocos comestíveis de ouro.

Antigamente, a cachaça era vista como bebida de baixa qualidade e para um público menor favorecido economicamente. Ao que você dá esta mudança de status na bebida?
Há cerca de 20 anos, o mercado não tinha uma regulação especifica quanto ao modos de produção e principalmente quanto a identidade da cachaça. Com a abertura de mercado e a regulamentação do mercado que foi feita em 1996, os produtores começaram a buscar um padrão de identidade e qualidade. À partir daí foi um pulo.

O consumidor começou a perceber que a cachaça possuía qualidade superior e podia se equiparar a qualquer destilado produzido no mundo. Alguns produtores começaram a aprimorar cada vez mais sua produção, com produtos de paladar mais sofisticado, tempo de maturação em tonéis de madeira e produções limitadas, isso fez com que o produto ganhasse valor e sofisticação. Foi um salto.

15 cachaças para beber antes de morrer maurício maia


Foto: Tiger Ning

O que falta para a cachaça atingir o mesmo status de bebida brasileira como aconteceu com a tequila no México?
Este é um ponto polêmico. Apesar de ser regulamentada por lei federal e inúmeros decretos e normas regulatórias, a fiscalização fica a cargo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Com uma equipe limitada para fiscalizar toda a produção agrícola nacional, o serviço é deficiente e temos ainda muita distorção no mercado.

No México assim como na Escócia e nos Estados Unidos, há um conselho regulador, uma entidade privada, que faz essa tarefa. Seria algo nos moldes de uma agência reguladora, assim o próprio mercado cuida para que nenhum produtor esteja fora da lei e dos padrões estabelecidos por esse conselho. Gostaria de ver isso implantado no Brasil, trabalhamos para isso mas ainda está um pouco distante.

Aguardente compostas, como Busca Vida, podem ajudar na popularização da Cachaça?
Sem dúvida. Apesar de que por lei não podem ser chamados de cachaça, e sensorialmente são muito diferentes. Porém essa bebidas se popularizaram e despertam a curiosidade do consumidor em experimentar outras cachaças, estas “de verdade”, e isso é bom para todos.

Dicas básicas para identificar uma cachaça de boa qualidade

15 cachaças para beber antes de morrer


– A avaliação de uma cachaça começa na prateleira. Observe a garrafa, ela deve ser atrativa, demonstrando um cuidado especial do produtor com a apresentação de seu produto. Isso é um bom sinal.

– Com a garrafa na mão, procure as informações do rótulo como: graduação alcoólica, volume da garrafa, origem e principalmente o nº de registro no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), se não tiver este número, evite.

– Após identificar a cachaça observe o líquido, se a garrafa for transparente procure identificar se a cachaça não possui nenhum resíduo em suspensão, nenhum objeto estranho dentro da garrafa. Independentemente da cor – amarela ou incolor, a cachaça de qualidade deve ser transparente, translúcida e brilhante.

– O mesmo ritual devemos repetir no copo, virando o copo em seu próprio eixo e observando a cachaça que adere na parede e deve escorrer lentamente. Sinal de uma boa oleosidade e graduação alcoólica adequada.

– Em seguida vamos procurar os aromas. Inicialmente vamos sentir o aroma alcoólico, que deve estar presente mas não pode ser agressivo para nosso nariz. Depois devemos sentir os aromas da cana e se a cachaça for envelhecida as notas da madeira. O aroma predominante deve sempre ser o frutado.

– Na boca vale a mesma regra, o álcool deve estar presente não mas pode ser agressivo, queimando nossa boca e descendo rasgando pela garganta. Procure dar um gole suficiente para que a cachaça preencha toda a boca, deixando ela descansar um pouco antes de engolir. A sensação que fica é de conforto, um leve calor toma conta de nosso corpo. Costumo dizer que é a alegria líquida.

15 cachaças artesanais para beber antes de morrer

Cachaças de Iniciação:

15 cachaças para beber antes de morrer Santo Grau


Cachaças artesanais baratas com qualidade para iniciar o gosto pela coisa – preço até R$ 30,00

– Claudionor: 48% Vol. – Januária – MG – R$ 25,00
Talvez uma das mais tradicionais cachaças de MG, foi durante anos seguidos eleita pelo Ranking da Playboy como a 3 melhor cachaça do Brasil. Durante muito tempo foi a cachaça mais forte do país com 54% de volume alcoólico, mas quando passou a vigorar a lei que limita a graduação em 48% ela foi obrigada a reduzir sua taxa de álcool, porém não perdeu a personalidade.

– Salinas: 42% Vol. – Salinas – MG – R$ 20,00
Esta cachaça que leva o nome da cidade que é sinônimo de cachaça em MG, passa 2 anos e meio descansando em tonéis de bálsamo. Fato que lhe confere um leve aroma amadeirado com notas de canela e cravo. É hoje um dos maiores produtores da região e possui além do bálsamo, cachaça envelhecidas em diversas outras madeiras como o carvalho, a amburana, e até branca (pura).

– Da Tulha Prata: 40% Vol. – Mococa – SP – R$ 32,00
Esta cachaça passa um ano em tonéis de jequitibá, madeira conhecida por deixar a cachaça extremamente suave. Muito boa pura ou gelada, esta é talvez a cachaça com a qual você fará a melhor caipirinha de sua vida. Você corre o risco de ficar famoso por ela e não terá mais sossego nos churrascos da turma.

– Mato Dentro Prata: 41% Vol. – São Luís do Paraitinga – SP – R$ 30,00
Legítima representante do Vale do Paraíba e das tradições caipiras do estado de São Paulo. Apesar de branca, ela descansa por 12 meses em tonéis de amendoim, resultando em uma cachaça suave que mantém as características originais da cana-de-açúcar.

– Cachaça Santo Grau Cel. Xavier Chaves: 40,5% Vol – Cel. Xavier Chaves – MG – R$ 39,00
Este é o alambique em atividade mais antigo do país, uma adega de pedra centenária tombada pelo patrimônio histórico nacional. Foi construído em 1755 e pertenceu ao irmão mais velho de Tiradentes. É uma cachaça branca, armazenada em toneis de aço inoxidável por seis meses. Sendo uma cachaça polivalente, vai bem pura, gelada ou em excelentes caipirinhas.

>Custo x benefício

15 cachaças para beber antes de morrer Germana

São rótulos intermediários, de excelente qualidade e preço bom – até R$ 90,00

– Weber Haus Amburana: 40% Vol. – Ivoti – RS – R$ 45,00
Talvez a cachaça mais popular produzida pela família Weber, logo que foi lançada há alguns anos caiu no gosto dos consumidores em função da forte presença da Amburana, madeira nos quais tonéis ela descansa por 12 meses. Aroma e sabor marcante de baunilha, adocicada, e extremamente macia.

– Havaninha: 48% Vol. – Salinas – MG – R$ 90,00
É produzida por Osvaldo Santiago, filho de Anísio Santiago, fundador e produtor das marcas Havana & Anísio Santiago. A produção é limitada e envelhecida cinco anos em dornas de Bálsamo. Ela faz jus ao seu DNA sendo uma cachaça marcante de alta graduação alcoólica e notas presentes de anis.

– Cedro do Líbano Extra Premium – 41% Vol. – Paracuru – CE – R$ 60,00
Uma legitima representante do nordeste, porém diferentemente de suas conterrâneas – o NE tem tradição em cachaças brancas – esta cachaça é envelhecida por 3 anos em tonéis de carvalho americano que já envelheceram Bourbon (ou Kentucky Whiskey se vocês me entendem). Possui notas marcantes de baunilha e um toque de cereal. É extremamente suave e sua personalidade permite que ela seja consumida pura ou ainda “on the rocks”.

– Germana: 40,5% Vol. – Nova União – MG – R$ 45,00
A famosa cachaça da garrafa embrulhada em folhas secas de bananeiras. Hábito de quando eram transportadas no lombo de mula e as garrafas eram embrulhadas para proteger o precioso líquido da inclemência do sol. É um belo exemplo da tradicional cachaça mineira. Suave, com amadeirado leve e um tempero de especiarias.

– Leblon Signature Merlet: 42% Vol. – Patos de Minas – MG – R$ 60,00
Como marca premium da Leblon, esta cachaça desenvolvida pelo máster blender francês Gilles Merlet, passa 2 anos descansando em pequenos tonéis de carvalho francês novos, o que lhe confere notas marcantes de mel, castanhas e figo seco, com uma exuberante cor âmbar. Faz frente a qualquer brandy conterrâneo de Monsieur Gilles. Esta é outra cachaça que em um “approach” mais moderno pode ser consumida “on the rocks”.

Cachaças Ostentação

15 cachaças para beber antes de morrer weber haus


Apesar do título, todas são muito boas e se você estiver disposto a pagar, valem o quanto pesam – acima de R$ 100,00

– Vale Verde 12 anos: 40% Vol. – Betim – MG – R$ 510,00
Talvez uma das mais caras e sofisticadas do mercado. Envelhecida por 12 anos em tonéis de carvalho. Eleita em 2014 a melhor cachaça do Brasil pelo Ranking da Cúpula da Cachaça.

– Middas: 40% Vol. – Dracena – SP – R$ 150,00
É um blend de cachaças descansadas por 2 anos em tonéis de amendoim do campo com cachaças brancas armazenadas em aço inoxidável. Ela vem com um frasco com flocos de ouro 23K comestível. Ao abrir a garrafa você adiciona o ouro e dá o seu “toque de Middas”, o imperador grego que transformava em ouro tudo o que tocava.

– Magnífica Reserva Soleira: 43% Vol. – Vassouras – RJ – R$ 170,00
Segue o processo de envelhecimento do tipo “soleira”, originário do processo de envelhecimento do Xerez espanhol (ou Cherry), fica por 3 anos em tonéis de carvalho e é produzida em tiragens limitadas. Extremamente macia e amadeirada, se destaca pelas notas de castanhas e baunilha características do carvalho.

– Havana / Anísio Santiago – 47% Vol.- Salinas – MG – de R$ 200,00 a R$ 600,00
Armazenada em tonéis de bálsamo por 10 anos – que lhe confere notas marcante de anis, esta cachaça é um mito entre as cachaças nacionais. Produzida em Salinas, no norte de Minas Gerais, figura sempre entre as primeiras colocadas na maioria dos rankings de cachaça do país. Tem muitas histórias que permeiam a marca, uma delas é de que seu proprietário, Anísio Santiago, falecido em 2002, pagava parte do salário de seus colaboradores com garrafas da mítica cachaça.

– Weber Haus Extra Premium 12 Anos Lote 48: 40% Vol. – Ivoti – RS – de R$ 701,00 a R$ 2699,00
É uma cachaça envelhecida por 12 anos, sendo 6 anos em tonéis de bálsamo e 6 anos em tonéis de carvalho francês. Lançada em homenagem aos patriarcas da família Weber, imigrantes alemães que chegaram ao Brasil em 1848 e se dedicam à produção de cachaça na cidade de Ivoti no RS. Com um blend elaborado por 19 especialistas na bebida nacional, foram feitas somente 2000 garrafas, de vidro reciclado soprado, embaladas à mão, com tampas e rótulos folhados a ouro 18K e numeradas. O inusitado está no preço, R$ 701,00 para a garrafa de nº1999 até R$ 2699,00 para a garrafa de nº 0002. Isto mesmo a cada garrafa, em ordem decrescente o valor aumenta em R$ 1,00. A garrafa de nº 0001 será leiloada e a de nº 2000 ficará guardada no acervo da empresa.

Leonardo Filomeno
Leonardo Filomeno

Jornalista, Sommelier de Cervejas, fã de esportes e um camarada que vive dando pitacos na vida alheia

Comentários
Importante - Os comentários realizados nesse artigo são de inteira responsabilidade do autor (você), antes de expressar sua opinião sobre temas sensíveis, leia nossos termos de uso