Agora você pode pagar para ter um amigo de aluguel

Tem problemas para fazer amizade? Bom, agora você pode contratar um amigo pela internet.

Agora você pode pagar para ter um amigo de aluguel

Agora você pode pagar para ter um amigo de aluguel

Reprodução

Você já se sentiu sozinho ou acreditou ter dificuldade para fazer novas amizades? A maioria das pessoas já viveu esse sentimento, e não é nada legal encarar a realidade de não ter um amigo para ir em determinado lugar com você, ou te fazer companhia em um café para te ouvir desabafar sobre a vida – a não ser que você curta a solidão, é claro. Mas, se para você estar sozinho é uma tortura, a internet te traz a solução: você pode ter um amigo de aluguel.

O Personal Friend é a pessoa que, por um valor específico e lucrativo, faz companhia à outra em eventos, encontros, entre tantas outras maneiras de se interagir socialmente, se tornando um amigo de aluguel.

Quem procurou esse tipo de ajuda foi a potiguar Maricelma Alixandre, de 45 anos, que, ao entrar na faculdade de pedagogia aos 41 anos, sentiu-se deslocada de sua turma. Ela relatou a experiência em uma entrevista para o portal UOL: “Estava há muito tempo sem estudar, era muita pressão e eu não conseguia lidar com as provas e os trabalhos. Além disso, também tinha problemas de autoaceitação e eu nunca estava feliz com o meu corpo, por exemplo”, lembra. Naquele momento, como apoio, o círculo de amizades decepcionou.

“Meus amigos não demonstravam tanto interesse e me vi sozinha em momentos que eu realmente precisei.” Também não conseguiu se adaptar à rotina de terapia. “Nas consultas, sentia que estava sendo avaliada a todo momento e nunca me senti à vontade. Além disso, acho que os meus problemas não são tão graves a ponto de precisar de ajuda médica”, explica. Foi aí que, na internet, descobriu a personal friend Renata Cruz.

Apesar de você possivelmente estar traçando paralelos entre a função de um Personal Friend e uma das profissões mais antigas do mundo, uma coisa não tem absurdamente nada a ver com a outra. Amigo de aluguel é algo completamente novo.

Formada em direito, a amiga de aluguel Renata Cruz conta que já tinha o costume de ouvir e dar conselhos. “Acabei me formando também em coaching e desenvolvimento pessoal. Ajudei muitas pessoas, por muitos anos, sem cobrar. Um dia, anunciei na internet e começaram a surgir clientes. Foi nesse momento que me tornei personal friend.”

Como falamos acima, a função de Personal Friend é exercida por alguém de personalidade empática que está sempre disposto a ouvir, aconselhar e opinar sobre os assuntos trazidos pelo cliente. Os encontros são presenciais ou por outros meios, como Skype ou telefone. Há um custo envolvido –geralmente, cobrado por hora. “A Renata está sempre disponível quando preciso. É uma amiga sem julgamentos”, acredita Maricelma.

E os limites?

Agora você pode pagar para ter um amigo de aluguel

Reprodução

Renata explica que auxilia as pessoas que a procuram em momentos de crises pessoais. “Tento ser um ombro amigo mesmo e um apoio para o meu cliente, porém só naquela fase necessária. As afinidades podem surgir futuramente, já que a convivência pode criar uma conexão maior, um vínculo. Entretanto, evito deixar que isso aconteça. Sou amiga naquele momento, naquela necessidade específica.”

Ela também afirma que costuma atender até um certo tempo, pois quando começa a se tornar algo muito íntimo, com envios de mensagens e fotos, por exemplo, sente que isso “abusa um pouco” de seu trabalho.

Mas e quando a situação começa a exigir um pouco mais de intimidade? Afinal, amizade é justamente isso. Renata explica: “No contexto do meu trabalho, esses pedidos são ‘extras’ que não entram nas minhas atividades como personal friend. A tarefa que eu realizo é, basicamente, conversar com a pessoa, sair com ela para um bar ou restaurante a fim de desabafar comigo. Depois, cada um volta para sua rotina. Não existe intimidade a esse ponto de pedir carona, cuidar dos cachorros ou pedidos semelhantes.”

Amizade é importante para a saúde

Agora você pode pagar para ter um amigo de aluguel

Reprodução

Flora Victoria, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching, em São Paulo (SP), fala sobre a importância de ter amigos: “o ser humano é um ser social, e a boas amizades são um dos grandes pilares para o desenvolvimento pessoal. Quem não as tem pode até entrar em depressão”. No entanto, a própria presidente diz que a atividade não se encaixa na definição de coach, profissional contratado para ajudar a encontrar metas em qualquer esfera da vida e que aplica técnicas específicas para chegar ao resultado esperado. “Coach não dá conselhos, opinião pessoal nem sugestões sobre o que fazer a respeito de alguma situação. Por outro lado, essas são todas atitudes esperadas em um amigo”, pondera Flora.

Se, por um lado, ter alguém com quem desabafar é melhor do que não ter ninguém, por outro, é preciso questionar se essa relação, de fato, supre as necessidades de cada um. O psiquiatra Amilton dos Santos Júnior, professor do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Unicamp, questiona, em entrevista para o UOL: “Amizade pressupõe experiências compartilhadas, tempo de convivência, etc. Não há problema em alguém estar disponível para ouvir, aconselhar e cobrar por isso, mas essa relação pode, de fato, ser chamada de amizade?”.

Para a psicóloga Luciana Karine de Souza, pós-doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e uma das organizadoras do livro “Amizade em Contexto: Desenvolvimento e Cultura” (Editora Casa do Psicólogo) a resposta é não. “Uma relação entre amigos não pode envolver pagamento para ser mantida. Deixa de ser amizade e passa a ser uma ligação de negócios. Creio, também, que chamar isso de ‘amizade’ pode amenizar o clima de negócio, dar a ideia de que o pagamento é um detalhe. Na verdade, ele é o que, na minha opinião, desqualifica essa relação como amizade”, diz.

Ou seja, a conclusão é clara: apesar do título do “cargo” utilizar a palavra “amigo” para definir o serviço, a realidade é bem diferente.

E aí, contrataria um amigo de aluguel?

Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

Comentários
Importante - Os comentários realizados nesse artigo são de inteira responsabilidade do autor (você), antes de expressar sua opinião sobre temas sensíveis, leia nossos termos de uso