Lembra do Hooters? Entenda por que ele está morrendo

A rede de restaurantes Hooters chegou a ter unidades no Brasil, mas agora está mal das pernas até nos EUA. Parece que ela envelheceu mal.

Garçonetes, a marca registrada do Hooters

Eles ficaram famosos pelas roupas das garçonetes, por aparecer em filmes como “O Paizão” e até tiveram unidades no Brasil (eram três só em São Paulo). Mas a situação mudou e, hoje, a rede de restaurantes Hooters está mal das pernas. Por quê?

Em 2019, a rede encerrou suas atividades no Brasil. Desde então, tem desaparecido também dos Estados Unidos, onde nasceu em 1983 e rapidamente se tornou parte da cultura popular americana. Mas tal qual os mullets, o walkman, o pager e outras relíquias dos anos 80, o Hooters envelheceu mal.

Problemas financeiros

A empresa vem patinando financeiramente ao longo dos últimos anos. Se nos anos 2000 eles tinham mais de 400 restaurantes, já em 2011 o número tinha sido reduzido em quase 25%, com perda de receita beirando os 100 milhões de dólares.

Entre 2012 e 2016, eles fecharam mais 7% de suas unidades, remodelando muitas das restantes. Nos últimos anos, o que tem segurado as pontas é a rede “spin-off” da empresa, chamada Hoots Wings – que vende asinhas de frango para um público bem diferente do que o original.

Clima ruim para todo mundo

A última unidade do Hooters em São Paulo, fechada em 2019

Segundo pesquisas realizadas por consultorias, tanto clientes mulheres quanto homens avaliam mal a rede. Uma das explicações seria um “desconforto” de estar no local. O que pode ser explicado pelas garçonetes.

Em 2015, o departamento de psicologia da Universidade do Tennessee descobriu que as consequências de trabalhar nesse ambiente não eram muito boas. Todas as garçonetes entrevistadas sofriam de algum grau de depressão, ansiedade, raiva, confusão e sentimento de degradação. Elas também relataram se sentir humilhadas regularmente.

Sexy para quem?

A estratégia original do Hooters era atrair caras interessados em olharem para os peitos de garçonetes espremidos dentro de blusas apertadas. O fascinante, contudo, é que pesquisas recentes sugerem que essa tática esteja falhando por um motivo inusitado: homens têm se importado menos com peitos de mulheres.

Uma análise feita pelo PornHub revelou algumas mudanças no gosto do entretenimento adulto. Pessoas entre 18 e 24 anos eram as menos propensas a procurar vídeos com os seios em destaque. E isso é um problema real para o Hooters. Imagine toda uma geração mais jovem que não se impressiona tanto com mulheres usando decotes. É muito fácil sair de moda assim.

Jovens não curtem “jantar fora de casa” nesse tipo de lugar

Cena do filme "O Paizão" que se passa no restaurante

Essas grandes redes de “restaurantes casuais” já vinham sofrendo nos EUA (onde são muito populares) antes da pandemia. Empresas como Applebee’s e Outback, além do Hooters, perceberam algo preocupante: jovens não gostam do seu estilo.

Os números mostram que millennials, principalmente, abandonaram restaurantes casuais e passaram a frequentar locais do chamado fast-casual (restaurantes com comida rápida que têm ambientes próprios, mas não servem nas mesas), pedir comida em aplicativos e sair para jantar em lugares mais modernos, como bares de vinhos. O foco desse público é a praticidade, não gastar horas sentados em um restaurante.

Já em 2013 o Hooters tentou atrair mais millennials. A empresa começou a reformar seus restaurantes, implementando mais tecnologia, áreas externas e melhores sistemas de trabalho. Mas não teve o impacto esperado.

Critérios de contratação bizarros

Não é surpresa, mas reportagens denunciaram que em todos os restaurantes Hooters apenas mulheres jovens e peitudas eram contratadas. Entre os argumentos da empresa, a alegação de que eles não estavam contratando garçonetes, mas sim “artistas” que, em vez de entrevistadas, “faziam testes” para o papel.

Suas práticas de contratação acabaram sendo aceitas pelas leis americanas quando a empresa justificou que ter um corpão era uma “qualificação profissional”, então não seria discriminatório recusar vagas a mulheres com peitos pequenos ou poucas curvas. A opinião pública simplesmente escolheu trocar de restaurante.

A comida era meia boca

O logo clássico da marca

Muita gente gostava e defendia, principalmente as asinhas de frango. Com o tempo, contudo, as expectativas das pessoas sobre que tipo de comida elas gostariam de encontrar em um restaurante foram ficando mais longe do que era entregue pelo Hooters.

A grande atualização do cardápio foi feita em 2013. Foi contratado um novo chef, Gregg Brickman, que disse na ocasião que a ferramenta mais importante na cozinha de um Hooters era “uma tesoura – para abrir um saco”. Isso significa que as asinhas eram congeladas, assim como hambúrgueres e tudo mais.

Protestos e boicotes

Se há algo fatal para a imagem de qualquer empresa são organizando protestos e manifestações em frente a seus restaurantes recém-inaugurados. Isso aconteceu quando o Hooters anunciou que estava expandindo no Reino Unido.

Em 2010, manifestantes começaram a fazer campanha contra a inauguração de um Hooters em Cardiff, dizendo em reportagens que os novos empregos abertos na cidade pelo restaurante não tinham dignidade e que a instituição incentiva uma cultura sexista.

O restaurante foi aberto, mas os protestos se repetiram em outros locais. Bristol, Birmingham e Sheffield tiveram casos semelhantes, levando o jornal The Independent a chamar os problemas da rede no país de “pesadelo feminista“. quando relatou a condenação da rede como um “espetáculo degradante” em 2008, dizendo que pessoas de funcionários do governo a estudantes não estavam felizes com a ideia de ter um em sua cidade.

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Felipe Blumen
Felipe Blumen

Historiador, jornalista de lifestyle e fã de foguetes, Corinthians, gibis e outras bagunças.

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