A geração que prega o desapego e esquece o que é sentir

Ninguém quer amar, ninguém quer se apaixonar. Qualquer sinal de sentimento é motivo para fugir, para sumir, para correr. Namorar é para quem é fraco, amar é para quem é covarde.

Ninguém quer se apaixonar. Transformar aventuras em compromisso é chato, é coisa do passado, é perda de tempo.

A gente encara o amor como um peso e o sexo como um alívio. Transar conecta e nos desconecta do telefone no dia seguinte. O Facebook funciona como uma agenda de todos que já se conectaram conosco, mas que, agora, são apenas amigos na rede e jamais fora dela.

Separamos o sexo do amor e fazemos isso muito bem: “Passa o seu WhatsApp, a gente conversa e marca outro dia”. Tudo bem.

O outro dia nunca vem. Quem queria que viesse acha chato quando ele chega, cansativo, entediante. O celular é uma lista infinita de contatinhos, de conversas rasas.

A geração que prega o desapego e esquece o que é sentir

Porque quando a conversa é profunda, o passo para trás é mais largo.

Quando a conexão acontece fora da cama, a porta da rua abre antes do zíper.

Amar é para os fracos, namorar é uma prisão.

A gente enxerga o namoro como o fim das aventuras e esquecemos que namorar pode ser a aventura mais intensa das nossas vidas.

Se você vê o namoro como prisão você está namorando errado, precisa de óculos.

Namorar não é o fim da liberdade. Quando o amor é real e você se entrega, ele liberta. Ele te deixa livre.

Deixamos o amor no capacho da porta e no número bloqueado porque, na verdade, somos covardes. Sexo, mesmo selvagem, não machuca. Sexo, mesmo maluco, não nos transforma.

Sexo, mesmo intenso, não nos faz crescer.

A geração que prega o desapego e esquece o que é sentir

Sexo faz o nosso corpo gozar, o amor leva o orgasmo para mente. O tempo todo.

Namorar é para quem tem coragem porque amar é um desafio. Um desafio com um presente a cada 1.000 metros percorridos: a intimidade, e no fim da maratona você tem alguém para cair do seu lado no chão de mãos dadas. Alguém que não liga para o suor no seu rosto, alguém que beija sua pele enrugada, aperta a sua mão molhada, encosta no seu corpo já fraco.

Namorar vale a pena, assim como amar vale a pena.

Trabalhar horas extras, trabalhar aos finais de semana, se matar de segunda à sexta para entregar resultados e conseguir aquela grana para viajar vale a pena. Namorar é viajar. Namorar é conhecer todos os lugares do mundo em uma só pessoa, sentir o frio na barriga do decolar de um avião todos os dias e, às vezes, sentir a calmaria de uma tarde na frente do mar.

Namorar é entender que nem sempre dá para andar de montanha russa. Amar é saber que também é incrível curtir uma roda gigante, um passeio tranquilo, um barco em mar calmo.

Namorar vale a pena porque amar é a endorfina que acompanha o fim de cada treino ao fim de cada dia.

Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.