Dá pra chegar em uma cosplayer?

A gente conversou sobre assédio e abordagem com as cosplayers da CCXP 2016. Descubra o que descobrimos!

Já pensou na possibilidade de conversar com uma cosplayer e ir além de uma simples foto? Conversei sobre o assunto com algumas meninas da CCXP 2016 e a resposta pode não ser tão agradável pra você.

Mas, antes de chegar lá, vamos esclarecer alguma coisas. A mais importante delas é: cosplay dá trabalho e muitas vezes é um trabalho.

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Fazer cosplay não é só vestir uma roupa, é interpretar um personagem. Agir, falar e se expressar como ele.

Além de todo o processo de interpretação, também existe o processo de construção da roupa – na maioria vezes realizado pela própria cosplayer. O ritmo é doloroso, cansativo e, por isso, quem faz cosplay realmente ama esse universo e gosta do personagem que interpreta.

Então, quando o dia do evento finalmente chega, a cosplayer quer viver a experiência ao máximo e compartilhar a mágica daquele mundo com as outras pessoas.

É difícil encontrar um artista que não curta conversar com alguém do evento sobre o personagem que interpreta, e também é raro ver algum cosplayer não se divertir quando pedem uma foto para ele.

O problema, é claro, é o jeito que isso acontece. Muitas garotas são abordadas de uma forma extremamente rude, pejorativa e desconfortável. Como algumas roupas são mais curtas e mostram mais pele, alguns homens nesses eventos acreditam ter o direito de encostar nas garotas ou tratá-las de um jeito desrespeitoso.

Dá pra chegar em uma Cosplayer?

Ultimamente, esse comportamento está mudando e as cosplayers já relatam que há mais respeito nas convenções recentes mas, mesmo assim, existe muita gente sem noção que não respeita o espaço das mulheres e não aprecia o trabalho delas da forma correta.

Na última CCXP, um grupo de cosplayers estava descansando da maratona de fotos na área externa do São Paulo Expo e eu conversei com elas para entender melhor esse universo e qual é a melhor abordagem.

Todas foram unânimes em dizer que o respeito está na forma de falar e no toque. Você pode chamar uma cosplayer encostando no ombro dela, mas não pode ir além de um toque.

É claro: cada uma enxerga uma invasão de privacidade de jeito diferente, mas apertar e segurar pelo braço nunca é uma alternativa. Andressa, cosplayer de Supergirl, diz que basta pedir licença para garantir uma foto mas, se você quiser conhecer melhor a cosplayer, converse sobre o personagem: “Não chegue com arrogância e nem falando algo como ‘e aí, gata?’. Demonstre interesse no cosplay e seja educado”, afirma.

Talita, cosplayer de Mulher Maravilha, concorda com a amiga: “Eu acho que educação é fundamental na forma de abordar e na forma de tirar foto. Um agradecimento também é bem-vindo já que a gente está trabalhando”.

Para evitar situações constrangedoras, as cosplayers preferem se reservar durante os eventos e expor apenas as características das suas personagens. Mesmo quando encontra um amigo, Talita garante que precisa seguir o papel e pede para conversar em outro momento.

Bruna Walker, também modelo e cosplayer, reforça: “Também não dá pra ficar puxando, tirando a peruca da personagem, tudo isso atrapalha o nosso trabalho e deixa a gente constrangida”.

A colega dela, Jaqueline Walker, foi na última CCXP fazendo cosplay de uma das personagens mais populares do último ano: a Arlequina.

Como a vilã da DC chama mais atenção, mais pessoas podem se interessar em uma foto ou em conhecer melhor a cosplayer. Porém, para Jaqueline, um evento de grande porte como a CCXP não dá espaço para nada além: “As pessoas que vêm aqui estão mais interessadas em curtir os personagens, os estandes, conhecer as atrações. Mas, se acontecer uma abordagem mais pessoal, a gente precisa saber separar as coisas. Afinal, somos personagens”.

Jaqueline também fez questão de afirmar algo que pode passar despercebido para quem visita um evento desses: “Aqui a gente não tem nome”.

Ou seja: quando você fala com uma cosplayer, você está falando com o personagem. Por isso, compreenda a representação dela e, assim como elas se esforçam para separar os papeis, faça a sua parte e não atrapalhe o trabalho dela.

Mas, se rolar uma química, espere: “Se por acaso a gente também se interessar em conhecer a outra pessoa, isso vai acontecer fora daqui. Mas isso é muito, muito difícil de acontecer. Temos que ser bem profissionais nessa área”.

Dá pra chegar em uma Cosplayer?

Tabata Kaliani, um pouco mais tímida que as amigas, relatou que já passou por situações bem invasivas quando fazia cosplay: “Já me perguntaram o quanto eu queria para sair depois”.

Com a popularização do universo nerd e dos eventos de cultura pop, a impressão que temos é que as convenções deixaram de ser voltadas para um nicho de mercado e, agora, elas atingem um público muito maior.

Isso é muito importante para a indústria e para os fãs, mas, como tudo, a popularização da cultura nerd também tem um lado negativo: comportamentos nocivos antes adormecidos em alguns fãs ganham espaço – e endosso – graças ao novo público que importa noções e conceitos de outros ambientes.

É claro que a grande parte do público respeita, mas existem aquelas maçãs podres que prejudicam o evento e atrapalham o trabalho das cosplayers.

Porém, segundo Mônica Parisi, cosplayer de Katarina do jogo League Of Legends, o assédio diminuiu muito no último ano: “A gente se sente mais segura e percebe que os homens estão tomando mais cuidado na hora de falar com a gente”.

Mesmo assim, pedir para sair com uma cosplayer durante alguma convenção não é uma ideia tão agradável para Mônica: “Eu estou aqui como uma personagem. Eu posso conversar com as pessoas, mas não dá pra passar muito tempo dando atenção pra uma pessoa só e nem demonstrar interesse pessoal, sabe? Eu não sou eu mesma nessa roupa, sou a Katarina. Mas se eu conversar com alguém e o papo for legal, mesmo curto, eu posso passar o meu Instagram e, por lá, a gente pode continuar conversando, mas aqui não rola nada”.

Então, siga o exemplo das cosplayers. Aproveite esse tipo de evento para mergulhar na cultura, conversar sobre o que você gosta, visitar estandes, fazer compras, ver palestras e, é claro, tirar muitas fotos. Se rolar um clima, vai ser natural e você vai sentir a abertura para pedir o Instagram da garota e, por lá, iniciar outro papo.

Respeito e educação andam de mãos dadas. Lembre-se que aquelas garotas dentro de fantasias são tão fãs daquele universo quanto você e, apesar delas não terem super poderes, você não precisa bancar o vilão.

Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

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