Entre os dias 3 e 6 de dezembro, São Paulo recebeu a segunda edição brasileira da Comic Con Experience, um dos maiores evento nerd do mundo. Seguindo os moldes da “irmã norte-americana”, realizada anualmente em San Diego, a CCXP do Brasil recebe vários nomes importantes para a indústria dos quadrinhos, jogos, cinema e TV.
Além de personalidades e novidades da área, o evento reúne vários cosplayers criativos e profissionais que aguardam o ano inteiro para participar da feira e se divertir interpretando seus personagens favoritos do mundo nerd.
Entre eles, estão homens e mulheres de todas as idades que acabam virando atração e ajudam a construir o clima mágico da CCXP.
A interação com as cosplayers
As favoritas entre boa parte do público são as cosplayers: elas passam meses criando a própria roupa e horas se produzindo para entrar no personagem. Muitas, inclusive, são atrizes apaixonadas por alguma série ou personagem e têm um objetivo claro: se divertir e entreter.
Porém, não é assim que muitos enxergam as garotas. Para Roberta Nomoto, cosplay presente na CCXP deste ano, a maioria das pessoas subjuga as cosplayers femininas: “eles acham que a gente não gosta dessa cultura. Mas a gente gosta, assim como homens, não é porque eu sou mulher que não tive a mesma cultura e criação geek que meus irmãos tiveram”.
Em outros eventos parecidos – mas de menor porte – realizados no Brasil e no mundo, cosplayers relataram situações inconvenientes com o público masculino. Muitas mulheres disseram que os homens acabam se aproveitando do momento da foto para passar a mão pelo corpo delas.
Quando questionada sobre casos parecidos, Mariana Loschiavo, cosplay da Arlequina na versão do desenho animado para a TV, disse: “O assédio rola mais quando a cosplayer tem menos roupa. Mesmo assim, ainda acontece e é desconfortável quando o cara vai colocar a mão na sua cintura e não é a sua cintura, é a sua bunda”.
Entretanto, Mariana, cosplayer há 4 anos, garantiu que os casos diminuíram de uns tempos para cá, e elogiou o comportamento do público da CCXP: “Eles são menos sem noção que o público de um evento comum de anime, por exemplo”.
Mudança de comportamento
A CCXP de 2015 foi a primeira experiência de Milena no mundo do cosplay. Vestida como a Arlequina dos quadrinhos, ela circulava pelo evento e chamava a atenção para o stand da Warner. Por ser atriz, interagia bastante com o público mas, mesmo tranquila, admitiu que na hora das fotos existe, sim, a tentativa dos homens em passar a mão onde não devem: “Eles tentam colocar a mão mais para baixo, aí você diz ‘não’ e eles param. Mas foram bem poucos casos, a maioria dos homens está respeitando, sim”.
Para outras garotas, o problema não é apenas a mão-boba. Uma das entrevistadas durante o evento, ainda bem nova, disse ficar extremamente desconfortável quando homens a encaram por muito tempo. Ana Marcela, cosplayer há 2 anos e novata na CCXP, fica incomodada pela falta de empatia dos homens ao abordarem as meninas: “O duro é quando encaram muito. Você fica meia hora olhando de volta para o cara até ele tentar se tocar. Afinal, eu não quero sair dali, eu não preciso sair”.
Um sentimento comum entre todas as cosplayers é a vontade de viver aquele personagem por um dia. A maioria, realmente fã do universo que veste, quer seguir à risca todo o vestuário. Porém, elas sabem que se fizerem isso vão precisar encarar situações desconfortáveis.
Ana Marcela garantiu: “O assédio diminuiu sim, mas eu não sei se é por causa da minha mudança de cosplay. Antes, eu usava menos roupa. Hoje, a personagem é mais coberta”.
Mariana, por ser cosplayer da Arlequina na versão do desenho animado, usa uma roupa mais fechada e praticamente não mostra a pele. Ela também publica fotos na internet e não costuma receber comentários indesejados nas redes sociais, mas sabe o motivo: “Como eu não mostro o corpo, o assédio é menor, mas eu tenho certeza que se eu fizesse o cosplay que eu quisesse, como o cosplay da Mileena do Mortal Kombat, iria existir um abuso idiota em cima disso”.
Conhecimento posto à prova
Quando as amigas Roberta Nomoto e Gisele Dias foram comprar as roupas de Darth Vader e Stormtrooper, não encontraram versões femininas com capacete e sem decote.
Para Roberta, o problema não é se vestir de forma sensual, o problema é a necessidade de ter que fazer uma fantasia por não encontrar uma outra versão: “Se você quer fazer uma fantasia mais sexy, tudo bem. O problema é você só poder fazer dessa forma, porque eles a sexualizam de uma forma ruim, como se a gente fosse só um troféu”.
Ao questionar o vendedor da loja se poderiam alugar apenas o capacete da versão masculina, a resposta foi a seguinte: “Você só pode levar o capacete se alugar a masculina e, alias, o Darth Vader não é um homem? Por que você quer se fantasiar de Darth Vader?”.
Ainda existe a noção de que as mulheres não conhecem o universo nerd tanto quanto os homens. Para Roberta, esta é uma das piores situações em eventos do tipo: “O homem nunca precisa provar do que gosta, a mulher sempre precisa ficar provando que gosta, que não é poser”.
O ideal não seria ficar feliz pela possibilidade de encontrar uma garota fã do mesmo super-herói ao invés de tentar desqualificar os conhecimentos dela pelo simples fato de ser uma mulher?
Para Leandro Fernandes, que assistia o painel da Jessica Jones na noite de sexta-feira, dia 3 de dezembro, a resposta é simples: “Conheci minha namorada, cosplayer da Vampira do X-Men, em um Anime Friends e, na verdade, ela já leu bem mais quadrinhos do que eu”.
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