Cosplay feminino e respeito na CCXP 2015

Descubra como as meninas cosplayers foram recebidas na CCXP deste ano!

Entre os dias 3 e 6 de dezembro, São Paulo recebeu a segunda edição brasileira da Comic Con Experience, um dos maiores evento nerd do mundo. Seguindo os moldes da “irmã norte-americana”, realizada anualmente em San Diego, a CCXP do Brasil recebe vários nomes importantes para a indústria dos quadrinhos, jogos, cinema e TV.

Além de personalidades e novidades da área, o evento reúne vários cosplayers criativos e profissionais que aguardam o ano inteiro para participar da feira e se divertir interpretando seus personagens favoritos do mundo nerd.

Entre eles, estão homens e mulheres de todas as idades que acabam virando atração e ajudam a construir o clima mágico da CCXP.

A interação com as cosplayers

MHM na CCXP 2015

As favoritas entre boa parte do público são as cosplayers: elas passam meses criando a própria roupa e horas se produzindo para entrar no personagem. Muitas, inclusive, são atrizes apaixonadas por alguma série ou personagem e têm um objetivo claro: se divertir e entreter.

Porém, não é assim que muitos enxergam as garotas. Para Roberta Nomoto, cosplay presente na CCXP deste ano, a maioria das pessoas subjuga as cosplayers femininas: “eles acham que a gente não gosta dessa cultura. Mas a gente gosta, assim como homens, não é porque eu sou mulher que não tive a mesma cultura e criação geek que meus irmãos tiveram”.

Em outros eventos parecidos – mas de menor porte – realizados no Brasil e no mundo, cosplayers relataram situações inconvenientes com o público masculino. Muitas mulheres disseram que os homens acabam se aproveitando do momento da foto para passar a mão pelo corpo delas.

Quando questionada sobre casos parecidos, Mariana Loschiavo, cosplay da Arlequina na versão do desenho animado para a TV, disse: “O assédio rola mais quando a cosplayer tem menos roupa. Mesmo assim, ainda acontece e é desconfortável quando o cara vai colocar a mão na sua cintura e não é a sua cintura, é a sua bunda”.

Entretanto, Mariana, cosplayer há 4 anos, garantiu que os casos diminuíram de uns tempos para cá, e elogiou o comportamento do público da CCXP: “Eles são menos sem noção que o público de um evento comum de anime, por exemplo”.

Mudança de comportamento

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A CCXP de 2015 foi a primeira experiência de Milena no mundo do cosplay. Vestida como a Arlequina dos quadrinhos, ela circulava pelo evento e chamava a atenção para o stand da Warner. Por ser atriz, interagia bastante com o público mas, mesmo tranquila, admitiu que na hora das fotos existe, sim, a tentativa dos homens em passar a mão onde não devem: “Eles tentam colocar a mão mais para baixo, aí você diz ‘não’ e eles param. Mas foram bem poucos casos, a maioria dos homens está respeitando, sim”.

Para outras garotas, o problema não é apenas a mão-boba. Uma das entrevistadas durante o evento, ainda bem nova, disse ficar extremamente desconfortável quando homens a encaram por muito tempo. Ana Marcela, cosplayer há 2 anos e novata na CCXP, fica incomodada pela falta de empatia dos homens ao abordarem as meninas: “O duro é quando encaram muito. Você fica meia hora olhando de volta para o cara até ele tentar se tocar. Afinal, eu não quero sair dali, eu não preciso sair”.

Um sentimento comum entre todas as cosplayers é a vontade de viver aquele personagem por um dia. A maioria, realmente fã do universo que veste, quer seguir à risca todo o vestuário. Porém, elas sabem que se fizerem isso vão precisar encarar situações desconfortáveis.

Ana Marcela garantiu: “O assédio diminuiu sim, mas eu não sei se é por causa da minha mudança de cosplay. Antes, eu usava menos roupa. Hoje, a personagem é mais coberta”.

Mariana, por ser cosplayer da Arlequina na versão do desenho animado, usa uma roupa mais fechada e praticamente não mostra a pele. Ela também publica fotos na internet e não costuma receber comentários indesejados nas redes sociais, mas sabe o motivo: “Como eu não mostro o corpo, o assédio é menor, mas eu tenho certeza que se eu fizesse o cosplay que eu quisesse, como o cosplay da Mileena do Mortal Kombat, iria existir um abuso idiota em cima disso”.

Conhecimento posto à prova

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Quando as amigas Roberta Nomoto e Gisele Dias foram comprar as roupas de Darth Vader e Stormtrooper, não encontraram versões femininas com capacete e sem decote.

Para Roberta, o problema não é se vestir de forma sensual, o problema é a necessidade de ter que fazer uma fantasia por não encontrar uma outra versão: “Se você quer fazer uma fantasia mais sexy, tudo bem. O problema é você só poder fazer dessa forma, porque eles a sexualizam de uma forma ruim, como se a gente fosse só um troféu”.

Ao questionar o vendedor da loja se poderiam alugar apenas o capacete da versão masculina, a resposta foi a seguinte: “Você só pode levar o capacete se alugar a masculina e, alias, o Darth Vader não é um homem? Por que você quer se fantasiar de Darth Vader?”.

Ainda existe a noção de que as mulheres não conhecem o universo nerd tanto quanto os homens. Para Roberta, esta é uma das piores situações em eventos do tipo: “O homem nunca precisa provar do que gosta, a mulher sempre precisa ficar provando que gosta, que não é poser”.

O ideal não seria ficar feliz pela possibilidade de encontrar uma garota fã do mesmo super-herói ao invés de tentar desqualificar os conhecimentos dela pelo simples fato de ser uma mulher?

Para Leandro Fernandes, que assistia o painel da Jessica Jones na noite de sexta-feira, dia 3 de dezembro, a resposta é simples: “Conheci minha namorada, cosplayer da Vampira do X-Men, em um Anime Friends e, na verdade, ela já leu bem mais quadrinhos do que eu”.

Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

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