Macho do Século XXI: o executivo que virou dona de casa

Conheça a história do executivo que largou a carreira para ficar em casa cuidando da filha

O MHM entrevista o executivo que virou dona de casa

Você trocaria sua carreira para ficar em casa cuidando dos filhos enquanto sua mulher sai para trabalhar? Foi exatamente o que ex-executivo Claudio Henrique dos Santos fez e relatou em seu livro “Macho do Século XXI: o executivo que virou dona de casa. E acabou gostando”, da Editora Claridade.

Claudio e Dani formavam um casal comum. Com pouco mais de 35 anos, ambos tinham carreiras bem-sucedidas e curtiam a chegada da primeira filha, Luiza. Até que ela recebeu uma proposta para trabalhar em outro país. Decidido a apoiar a mulher, o executivo largou tudo para morar em outro país e cuidar da casa e da filha, permitindo que a esposa realizasse seu sonho.

Conversamos com o autor e que falou um pouco do privilégio de acompanhar de perto o crescimento da filha e o surgimento de um novo modelo de família. Confira:

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O que foi mais difícil para você: largar o emprego ou lidar com o fato de virar um “daddy in home”, quase uma dona de casa?

As duas foram igualmente difíceis. A primeira delas foi muito complicada de ser tomada. Largar uma carreira profissional principalmente quando você está sendo bem sucedido, é muito difícil. Esta primeira mudança, me fez enxergar que a gente sempre tem opções na vida, basta a coragem para faze-las. Nesse sentido, ela ajudou a tomada de decisão para virar um daddy in home.

Um homem cresce sabendo que tem que ser o provedor da casa e abrir mão desse papel é complicadíssimo. Mas quando você faz uma grande mudança na sua vida e percebe que pode ser feliz, ganha mais maturidade para fazer a segunda, terceira, assim por diante.

Tomar a decisão de ficar em casa foi mais fácil nesse sentido. O mais complicado foi procurar, de novo, o caminho para ser feliz, numa mudança de cenário tão radical como a minha.

“Um homem cresce sabendo que tem que ser o provedor da casa e abrir mão desse papel é complicadíssimo”.

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Você já enfrentou algum tipo de preconceito por estar nesse papel inverso da dona de casa? Acredita que estamos mais aptos a aceita essa inversão de papéis?

Acho que a palavra preconceito é muito forte, embora eu saiba que muitos homens acham que é uma vergonha para um homem ficar em casa cuidando da casa e dos filhos. Existem pesquisas que mostram bem isso. Mas é fato que a sociedade como um todo ainda não está preparada para essa inversão de papéis.

Quando eu morava em Cingapura, por exemplo, os porteiros do meu prédio me perguntavam, todos os dias, quando é que eu começaria a trabalhar novamente. Um homem não aceita a ideia de deixar de trabalhar para ficar em casa. Vai contra o DNA dele.

Quando eu levava minha filha nas festinhas de aniversário e encontrava os pais dos amiguinhos dela, a conversa na roda seguia super animada, até o momento que alguém me perguntava o que eu fazia. Quando eu contava que não trabalhava para cuidar da minha filha e da casa, acontecia sempre aquele silêncio constrangedor. Os outros homens ficavam sem reação, não sabiam o que responder.

Hoje, eu já trato de quebrar esse silêncio, fazendo uma piadinha qualquer da situação, mas o fato é que antes a rodinha se dispersava na mesma hora e eu era o primeiro a querer sair dali.

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Outra situação interessante é que hoje eu “gravito” por ambientes com uma presença predominante das mulheres — as reuniões na escola, idas ao pediatra, brincadeiras no parquinho, etc, mas é claro que sou uma presença estranha nesses ambientes. Quando eu levo a Luiza para brincar no parquinho, por exemplo, tomo sempre o cuidado de ficar perto dela para mostrar que minha presença ali tem uma explicação — eu não sou um pervertido que está lá para ficar espiando o filho de ninguém. Eu sei que essas ideias podem passar pela cabeça das mulheres e num mundo tão louco como o de hoje, eu não as culpo.

Uma vez, uma criança caiu perto de onde a Luiza brincava e como a mãe não estava por perto, eu corri para acudi-la. De repente, a mãe apareceu como uma leoa pedindo que eu tirasse as mãos do filho dela, sequer parou para perguntar o que havia acontecido. Como você pode ver, esse “estranhamento” acontece tanto para os homens quanto para as mulheres.

Quais as suas habilidades como executivo que te ajudaram na hora de começar a cuidar de casa?

No começo, não ajudaram muito não, pois eu não sabia fazer nenhuma tarefa de casa e tive que aprender muita coisa na marra. Quando você tem uma criança de quatro anos para cuidar, não pode ficar vivendo de comer sanduíche a vida inteira.

Eu tive que aprender a cozinhar, por exemplo. E a minha experiência de executivo não ajudava muito nesse sentido.Mas depois, eu finalmente percebi que eu precisava levar a coisa mais a sério e me empenhar ao máximo para fazer minhas tarefas de casa, a exemplo do que eu fazia quando eu era executivo. E isso me ajudou muito a enxergar a importância do que eu estava fazendo.

Administrar uma casa, guardadas as devidas proporções, não é muito diferente de administrar uma empresa — tem logística, gestão de estoque, RH, financeiro, etc. Se não administrar direitinho, você dança. Além disso, com o passar do tempo eu fui percebendo que também era possível criar metas e objetivos, a exemplo do que fazemos na empresa. E tem até o bônus de final de ano — só que nesse caso eu recebo todos os dias, na forma dos beijos e abraços da Luiza.

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Quais as principais dificuldades que um homem que passa por essa mudança de modelo familiar enfrenta?

Todas, pois trata-se de uma quebra total de paradigmas. Se o casal não estiver preparado para aceitar o fato de que a mulher é que será a provedora da casa, não vai dar certo. Em casa, a gente sempre teve contas correntes separadas, mas sempre tratamos o dinheiro como “nosso dinheiro”. Tem que ser assim.

Se o homem deixa de trabalhar e entra numa “piração” de que a partir de agora está sendo “sustentado” pela mulher, vai enlouquecer. O contrário também é verdadeiro. O casal tem que estar muito ajustado para compreender que cada um faz a sua parte — um responde pelo lado financeiro e o outro cuida do lado “operacional”. Não importa quem faz qual papel, o importante é que ambos estão trabalhando em conjunto, como uma equipe.

Superada essa dificuldade, meu conselho, que eu acho que vale tanto para homens quanto para mulheres, é que você precisar olhar lembrar sempre que existe um objetivo por trás dessa decisão, que está acima de interesses individuais. No começo, eu só pensava em tudo que havia perdido: meu trabalho, não tinha mais o “meu dinheiro”, não tinha mais uma vida social e profissional agitada, nem a companhia dos amigos. Em resumo, era uma tragédia.

Só que eu não conseguia enxergar tudo o que eu havia ganho, que não era pouco, como a oportunidade de cuidar um pouco mais da saúde, adquirir novos conhecimentos e, o maior presente de todos, que era poder cuidar da minha filha, estar perto dela o tempo todo. Eu tinha um objetivo muito mais nobre que era a felicidade da minha família e demorou muito tempo para que eu começasse a perceber isso.

Edson Castro
Edson Castro

Jornalista, ilustrador, apaixonado pela vida e por viver aventuras. Coleciona HQs, tênis e boas histórias para contar.

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