Vasectomia: mitos e verdades

Você com certeza já ouviu muita coisa sobre o procedimento. Mas o que é verdade e o que é mentira?

Com certeza você já ouviu muita coisa sobre esse procedimento. Rumores sobre impossibilidade de reversão e sobre impotência são os mais comuns mas, hoje, a gente vai te explicar direitinho como a cirurgia funciona e o que é verdade e mentira na medicina atual.

Este texto foi baseado em uma entrevista que o Dr. Drauzio Varella fez com o Dr. Sami Arap, professor de urologia na Faculdade de Medicina da USP e membro da equipe do Hospital das Clínicas e do Hospital Sírio-Libanês.

O que é a vasectomia

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Vasectomia é uma cirurgia que interrompe a circulação dos espermatozoides conduzidos através do epidídimo – um tipo de tubo em forma de novelo que fica na parte superior dos testículos – para os canais deferentes que desembocam na uretra.

Esse método contraceptivo é bem eficaz mas, mesmo assim, muitos homens não passam pelo procedimento porque acreditam nos rumores de impotência sexual. Se você acredita nisso, pode ficar tranquilo: essa história é balela.

A vasectomia torna o homem estéril, mas não interfere na produção de hormônios masculinos nem no desempenho sexual.

O mais irônico é que, baseado em estatísticas, o Dr. Dráuzio Varella relata que boa parte dos homens brasileiros não se incomoda que suas parceiras façam o procedimento de laqueadura das trompas (uma cirurgia bem mais invasiva), mas foge da vasectomia.

O Dr. Sami Arap explica: “O homem tem medo de qualquer coisa que o leve à sala de cirurgia, ainda que saiba que se trata de uma pequena cirurgia com anestesia local. Homens e mulheres são muito diferentes nesse aspecto. Se ela se interessa por algum resultado, pergunta como faz para obtê-lo e submete-se ao procedimento indicado. O homem, ao contrário. Quer limitar o número dos filhos, consulta o médico, diz que vai pensar no assunto e chuta o problema para frente”.

Com a cirurgia é feita

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A vasectomia é um procedimento realmente simples. O homem, por exemplo, nem precisa estar em jejum!

Entenda o passo a passo do procedimento com o Dr. Arap: ”Na sala de cirurgia, é feita uma pequena infiltração local com anestésico e uma incisão de 1cm em cada lado do saco escrotal. O maior desconforto que o paciente experimenta é quando o médico isola digitalmente os deferentes, canais que levam os espermatozoides do epidídimo para a uretra e anestesia de novo. A seguir, corta-se o deferente, interpõe-se tecido conjuntivo entre os dois pontos para não recanalizar e fecha-se a incisão. Pronto. O indivíduo está liberado para voltar para casa. Muitos saem do hospital e vão direto para o trabalho sem problema”.

É uma cirurgia reversível?

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Tecnicamente, a vasectomia é reversível. Mas a taxa de sucesso da cirurgia de reversão pode variar muito. Por exemplo: se o homem passou pelo procedimento há mais de 5 anos, a chance de sucesso com a reversão é bem menor.

Dr. Sami Arap explica: “Se a reversão for feita três ou quatro anos depois da vasectomia, em 90% dos casos o espermograma é bom e, em 70% existe a chance de a mulher engravidar. À medida que o tempo passa, a hiperpressão no epidídimo vai gerando fibrose e surgem obstruções não no lugar em que foi feita a ligadura, mas abaixo desse ponto, o que complica a cirurgia. Embora o índice de repermeabilização seja sempre o mesmo, os espermatozoides não aparecem.

Então, em vez de tirar aquele segmento e ligar os dois ductos deferentes, é preciso levá-los ao epidídimo num ponto proximal a esses que apresentam fibrose, fazendo uma conexão que deixa fora a área obstruída”.

Além disso, a cirurgia de reversão é muito mais complicada e precisa ser realizada no hospital, com anestesia troncular, com a utilização de material de microcirurgia.

Quando um paciente chega inseguro na consulta, o Dr. Sami Arap já sabe o que dizer: “Eu lhes explico que, nos Estados Unidos, de 6% a 8% das vasectomias são revertidas em algum momento da vida, isto é, o homem procura assistência médica para religar os canais deferentes, porque se separa da esposa e a nova companheira quer ter um filho com ele. Aos jovens, conto que me casei com 37 anos e tenho três filhos. Na verdade, tento dissuadi-los. Explico para ele e à sua mulher que, no futuro, podem divorciar-se e que não estão livres da fatalidade de perder um filho. Procuro dissuadi-los, porque ele pode arrepender-se de ter tomado uma atitude radical”.

Tem idade certa para fazer?

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Para Dr. Sami Arap, essa é uma resposta muito delicada. Ele diz: “Se o indivíduo tem mais de 40 anos e alguns filhos, eu lhe pergunto: ‘Como vai seu casamento?’ Todo o mundo sabe quando a união está instável. Se ele admite que as coisas não vão bem, aconselho: ‘Primeiro esteja feliz no casamento e depois assuma uma medida radical como essa. Antes decida se quer continuar casado ou se só não quer ter mais filhos’. É uma atitude ética, de certo modo paternalista, que considero essencial para orientar quem me procura para fazer vasectomia”.

Porém, se um jovem de, por exemplo, 28 anos, diz que vive bem com a mulher, tem três filhos e que, nem se decidir se casar com outra, vai querer ter mais um, o Dr. Sami Arap faz a cirurgia: “Acho importante o casal usufruir uma vida sexual sem preocupações nem ansiedade. Meu papel é conscientizá-los dos prós e contras do procedimento, porque julgo que essa decisão deve ser madura e tomada de comum acordo pelo homem e pela mulher”.

Há riscos do procedimento não funcionar?

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Em 2% ou 3% dos casos, por alguma razão, forma-se um granuloma espermático na ligação do testículo e do deferente e um pouco de esperma acaba saindo.

Por isso, depois de um ou dois meses, quem fez vasectomia deve fazer um espermograma pois existe a chance de gravidez pela possibilidade de haver espermatozoides no esperma.

Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

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