Peaky Blinders da vida real: conheça a história da gangue de Birmingham

“Peaky Blinders” é uma das séries mais queridas por caras do mundo inteiro há alguns anos. Além dos personagens legais, estilosos e cheios de frases com lições de vida, a história de gangsters de Birmingham é legal por si só. E, como você deve saber, os Peaky Blinders realmente existiram e a série se baseia em personagens da vida real.

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O roteirista da série, Steven Knight, inspirou-se nas histórias de seu pai sobre gangsters “incrivelmente bem vestidos” e “incrivelmente poderosos” que atuavam na Inglaterra da virada do século passado quando inventou o clã Shelby. Mas se a gangue realmente existiu, foi de uma forma diferente da empresa criminosa centrada na família que vemos na série.

Contamos essa história no Podcast do Manual do Homem Moderno. Você pode ouvir o episódio abaixo. Ou continuar lendo.

Algumas semelhanças e diferenças

Os Peaky Blinders da vida real não foram tão bem-sucedidos quanto os Shelbys da série, cuja rede criminosa evolui de uma pequena facção local para uma potência multinacional ao longo das cinco temporadas. Além disso, Carl Chinn, autor do livro “The Real Peaky Blinders”, diz que outra diferença entre os Peaky Blinders fictícios e seus equivalentes históricos é o tempo. A série se passa durante as décadas de 1920 e 1930, mas o grupo real de Birmingham ganhou destaque bem antes, próximo à década de 1890.

Ainda assim, as duas gangues compartilham uma série de semelhanças básicas. Entre elas, o estilo, um desrespeito brutal pela lei e uma base de membros composta em grande parte por jovens da classe trabalhadora. Esses jovens, afetados pela crise econômica desenfreada na Inglaterra industrial, criaram o que historiadores consideram uma subcultura “violenta, criminosa e organizada”.

Os chapéus e o estilo

O anti-herói maquiavélico Tommy Shelby, seu irmão Arthur e os demais membros da gangue ganharam o nome de “Peaky Blinders” por causa dos chapéus pontiagudos que escondiam lâminas de barbear em seus forros. Mas é improvável que isso fosse verdade.

Chinn explica que, caso existissem, as lâminas serviriam para cortar as testas, fazer jorrar sangue sobre os olhos e consequentemente cegar os adversários (daí o Blinders do nome, já que, em inglês, “to blind” é cegar). Mas a historiadora Jessica Brain lembra que é improvável que os gângsteres reais escondessem navalhas (então consideradas um item de luxo) dentro de seus chapéus – sendo mais provável que o nome fizesse referência à gíria local “blinder“, que era usada para descrever indivíduos “particularmente impressionantes”.

Mas as peças faziam parte do estilo da gangue. Arthur Matthison foi um fabricante de tintas e vernizes que morava em Birmingham e testemunhou as façanhas dos Blinders. Já velho, ele descreveu o membro típico da gangue como alguém que “se orgulhava de sua aparência e interpretava o papel com habilidade”. Eles usavam calça boca de sino, botas com pregos, um lenço colorido e um chapéu pontudo de aba comprida e alongada. Seus cabelos eram cortados nos lados e atrás, exceto pelo topete penteado para o lado (falaremos disso mais abaixo). Suas namoradas usavam pérolas e lenços de seda vistosos.

Casos de violência

A aparência elegante dos Peaky Blinders da vida real só não combinava com o tratamento brutal dado a membros de gangues rivais, à polícia e ao público em geral. Em 21 de julho de 1898, uma carta enviada ao jornal Birmingham Daily Mail por um anônimo dizia: “Não importa em que parte da cidade se caminhe, há gangues de ‘chapéus pontudos’, que muitas vezes não hesitam em insultar grosseiramente transeuntes, seja homem, mulher ou criança”.

Dias antes dessa carta pintar nos jornais, uma briga de rua entre Blinders e a polícia resultou na morte de um policial. O assassino, George “Cloggy Williams”, de 19 anos, rompeu o crânio do oficial com um tijolo, foi condenado por homicídio culposo e sentenciado a prisão perpétua – punição que deveria servir como um aviso para “todos os barulhentos em Birmingham”, segundo o jornal.

O historiador do Museu da Polícia de West Midslands David Cross conta que os Peaky Blinders visavam vítimas indiscriminadamente, escolhendo “qualquer pessoa que parecesse vulnerável”. “Qualquer coisa que pudesse ser roubada, eles levariam”, diz ele.

Em 23 de março de 1890, por exemplo, um grupo liderado por Thomas Mucklow atacou o um jovem depois de vê-lo pedir uma ginger ale (uma bebida sem álcool de gengibre) no pub local. A vítima sofreu “contusões corporais graves”, uma fratura no crânio e múltiplas lacerações no couro cabeludo. Ele passou mais de três semanas no hospital e teve que passar por uma operação na qual os médicos fizeram um furo em sua cabeça. O Daily Post apelidou o incidente de “ataque assassino” e o London Daily News identificou os responsáveis como os “Peaky Blinders”. De acordo com Chinn, essa menção representa a referência escrita mais antiga conhecida à gangue.

Gênios do crime?

Ao contrário da série, os verdadeiros Peaky Blinders estavam longe de ser gênios do crime. Os registros policiais de Harry Fowler, Ernest Bayles, Stephen McHickie e Thomas Gilbert (que inspirou o Thomas Shelby, como contamos aqui) trazem sempre infrações menores. As descrições incluem “roubo de loja”, “roubo de bicicleta” e enganações variadas.

De acordo com o Museu da Polícia de West Midlands, Fowler (preso em 1904) lutou mais tarde na Primeira Guerra Mundial. Ele passou 12 horas soterrado por um bombardeio e saiu da batalha com ferimentos graves. Depois da guerra, revela a historiadora Corinne Brazier, o gravemente ferido Fowler ganhava a vida vendendo cartões-postais vestido de enfermeira.

Os rivais dos Peaky Blinders da vida real

Os Peaky Blinders dominaram Birmingham até o início da Primeira Guerra Mundial. Ao contrário do que mostra a série, onde Tommy, Arthur e John Shelby construindo sua empresa criminosa após retornar da guerra.

Na verdade, uma gangue rival chamada Birmingham Boys assumiu o controle da região durante a década de 1920. Liderados por Billy Kimber, eles dominaram o pedaço até os anos 1930, quando outra gangue encabeçado por Charles Sabini tomou seu lugar nas Midlands inglesas. Versões fantasiosas de ambas as gangues rivais aparecem em “Peaky Blinders”.