Novo Batman traz mergulho insano na mente do personagem

Novo filme do Batman, digirido por Matt Reeves e protagonizado por Robert Pattinson, é uma aula do que é cinema de boa qualidade.

Novo Batman traz mergulho insano na mente do personagem

Como reduzir o novo filme do Batman em uma frase? Imagina se misturassem um filme de serial killer com a história do homem-morcego sob a direção de um dos mais competentes diretores de ação da atualidade. Se essa sentença te agrada, já tem motivos suficientes para gostar do novo filme da franquia, mas tem mais. Muito mais.

O novo longa metragem do alter ego de Bruce Wayne desafia um senso comum da atualidade. “Batman” se esforça para ser mais do que apenas um filme de bonequinho lutando com seus super poderes como muitos que temos visto nos últimos anos.

Ele aborda de maneira sóbria e certeira temas como corrupção, política e a noção do que é bem e mal. Temas sérios que são evitados por muitas obras da atualidade que apostam em tramas simplistas para agradar um público que necessita de cenas de ação a cada 15 minutos ou se distrairá com seus celulares.Ao longo de suas quase três horas de duração, somos conduzidos a um mergulho sombrio dentro da psique do Cavaleiro das Trevas e o ambiente que o torna quem ele é.

Aqui, Bruce Wayne praticamente cedeu sua existência para que o Batman consiga sua vingança. Longe do estoicismo característico do personagem, Robert Pattinson encarna um homem que é atormentado por sua raiva e que está prester a cortar o último fio que o liga à humanidade. Nunca tivemos no cinema um Bruce Wayne tão obecado e tão perto de perder o controle de si mesmo como a do ator que ficou famoso pela Saga Crepúsculo. Um tapa na cara daqueles que reclamaram da sua capacidade de interpretação.

Crédito: Reprodução

A Gotham City em que o Batman habita  é uma espécie de Nova York durante seus piores momentos. Gigante, cosmopolita, cheia de outdoors e pessoas nas ruas, mas largada ao crime. Gangues, bandidos e mafiosos aterrorizam seus habitantes das mais diversas maneiras, enquanto as autoridades locais parecem ser incapazes de oferecer uma solução para a segurança local. Nesse contexto de guerra urbana, o herói age quase como um guerrilheiro. As bolsas e equipamentos pendurados em seu uniforme mostram ele está preparado para qualquer ameaça física dentro desse contexto. Até que surge o Charada, brilhantemente interpretado por Paul Dano.

Um vilão que Batman não consegue enfrentar cara a cara e que exige que ele mostre um lado pouco explorado nas telonas – o do Batman detetive. O que sobra para o héroi quando ele não pode simplesmente socar o seu problema? Como encarar um adversário que ele simplemente não consegue localizar e colocar medo? E pior, que a cada passo testa mais e mais a sua fé em sua jornada.

A cada nova charada, uma nova revelação sobre as engrenagens obscuras que regem a política local e o que isso tudo tem a ver com a família Wayne. Revelando assim o maior ponto fraco de Bruce Wayne: a sua mente e o que ele acredita que é o certo ou errado.

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A grande sacada da direção aqui é conseguir manter uma pegada mais realística ao mesmo tempo em que se mantém 100% fiel aos espírito dos quadrinhos do personagem.

Se Nolan tentava ao máximo evitar certos lugares comuns das HQs ou se esforçava para explicá-los ao máximo, Matt Reeves abraça com força certos elementos. O diretor não perde tempo explicando como funcionam os equipamentos do herói, porquê a mulher gato usa uma máscara de gato ou como foi construído o batmóvel. Ele apenas retrata todos objetos do universo do homem-morcego com a seriedade e texturas necessárias para a trama. Aliás, a cena da primeira aparição do Batmóvel dá a ele uma aura tão sinistra, que ele se torna quase um personagem a parte quando está em tela.

E acredite, não faltam motivos para elogiar a direção desse filme. O uso de contraste de cores – preto e vermelho ou preto amarelo, a chuva que parece nunca acabar e o uso de camêras em ângulos poucos prováveis , são mais do que apenas escolhas estilisticas. É o que dá vida aquele universo e o torna paupável. Há espaço também para referências de obras de outros gêneros também.

Se o recente “Coringa” faz homenagem a filmes como “O Rei da Comédia” e “Taxi Driver”, o diretor Matt Reeves faz o mesmo com filmes como “Seven – Os Sete Pecados Capitais” e “Zodíaco”. Se você espera um filme com lutas e sequências intermináveis de ação, essse é o filme errado.

O foco da produção é a jornada de Batman para não desvender quem é o Charada, impedir que ele faça sua próxima vítima e tentar manter o que ele entende como o legado da família Wayne seja. Aqui, Batman é uma espécie de Sherlock Holmes moderno, só que com um pouco mais de backstory. Um espírito muito similar a das melhores HQs que temos do personagem, como “Batman – Ano Um” ou “O Longo Dia das Bruxas”.

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“Batman” é um filme repleto de boas escolhas. Não perde tempo para contar pra gente o que já sabemos sobre o herói e traz um elenco brilhante de talentos para dar vida a personagens ícones da franquia. Destaque para a Mulher Gato, de Zoë Kravitz, que finalmente traz uma profundidade necessária para a íconica personagem, comissário Gordon de Jeffrey Writh – mais sofrido do que nunca – e para sempre brilhante John Turturro, como o mafioso Falcone.

Sua estrela principal, Robert Pattinson brilha sempre que está em cena. Entrega a complexidade e tormento necessário que queremos ver de um Batman. E como cereja do bolo, recebemos um universo tão real, que você se sente molhado e sujo ao final de sua apresentação.

Um acerto gigante da DC, um filme que figurará no topo das listas de melhores produções do Batman – e do gênero – e uma prova que, quando quer, Holywood consegue fazer com que filmes de super-heróis sejam mais do que apenas um entretenimento rasteiro que te deixam esperando para o próximo filme e próximo filme e próximo filme, mas nunca dizem muita coisa.

“The Batman”, digirido por Matt Reeves é uma aula de cinema de altíssima qualidade.

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Edson Castro
Edson Castro

Jornalista, ilustrador, apaixonado pela vida e por viver aventuras. Coleciona HQs, tênis e boas histórias para contar.

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