O jornalista norte-americano David Infante, 26 anos, mora em um bairro na classe média do Brooklyn, usa uma bicicleta para se locomover, ostenta um bigode, estuda artes liberais e afirma que ‘tem muitas ideias na cabeça’. Como você o classificaria?
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Geração Milênio? Homem Moderno? Yuppie? Hipster? Todos estes, ou nenhum? Para David, estes termos são muito vagos e nenhum deles é suficiente para rotulá-lo. Por isso, ele prefere chamar esse pessoal que, assim como ele, “é nascido no conforto suburbano, doutrinado com o poder transcendente da educação e infectado pela convicção de que não só ele merece seguir seus sonhos”, como Yuccie.
Yuccie vem do inglês Young Urban Creatives (jovens urbanos criativos em tradução). Foi em um artigo escrito para o site Mashable que ele resolveu definir essa nova comunidade que se forma.
Dinheiro ou realização pessoal?
De acordo com Infante, os Yuccies moram em metrópoles como São Paulo, são consultores sociais que coordenam campanhas de estilo de vida. O objetivo de vida de um Yuccie é enriquecer o mais rápido possível sem perder a autonomia criativa. Agora, se tiver que optar entre uma ou outra coisa, vai preferir a satisfação pessoal. Foge de empregos formais, trabalhos tradicionais e não quer nem saber do mundo coorporativo.
“Eu me mudei para Nova York há uma década e prontamente encontrei um trabalho assalariado em marketing farmacêutico. Troquei ele por um estágio não remunerado em uma publicação. Fui trilhar meu caminho na editoria de cidades desde então. O dinheiro varia de “muito ruim” a “OK”, mas a sensação de realização pessoal é muito foda. Eu sou o Yuccie”, resume.
Para isto, ele baseou-se em estudos para comprovar que a geração milênio está mudando o pensamento profissional. A pesquisa realizada pela empresa de consultoria Deloitte constatou que 28% da geração milênio acredita que seus talentos não estão sendo bem aproveitados em seus empregos atuais. Outro estudo, realizado pela Universidade de Bentley, aponta que 66% deles, gostariam de iniciar seus próprios negócios.
“Yuccies estão decididos a definir-se não pela riqueza (ou a rejeição da mesma), mas pela relação entre riqueza e sua própria criatividade. Em outras palavras, eles querem ser pagos por suas próprias ideias, em vez de executar a de uma outra pessoa”, enfatiza.
Internet: o parque de diversões do Yuccie
Inversamente proporcional ao interesse no crescimento profissional tradicional, a internet mostrou aos yuccies uma janela de oportunidade que antes não existia. O boom dos sites, o Napster, os influentes das Redes Sociais (blogueiros, Vlogueiros, Youtubers e Instagramers) provaram que é muito mais fácil botar em prática uma ideia, iniciar uma startup e conseguir uma renda de uma forma não convencional.
“Você merece ganhar a vida sendo você mesmo. Suas idéias são valiosas. Siga seus sonhos”. Esse é o mantra de um Yuccie, segundo David.
Com o espírito empreendedor, aposta em nichos e de olho nas novas tecnologias, esta são as características que norteiam um Yuccie.
O Hipster está morto
David afirma categoricamente que o Hipster real, e não aquele baseado só nos conceitos de marketing e publicidade, foi consumido pelos carros compactos, fast food e iPhones. Ele está morto. “Hipster é genérico. Se todo mundo está rejeitando ser mainstream, isso é mainstream. Se todo mundo é hipster, logo ninguém é hipster”.
O jornalista define os Yuccies como uma descendência cultural dos yuppies e descolados. “Estamos com a intenção de ser bem-sucedidos como yuppies e criativos como os Hipsters”. Segundo ele, o consumo acaba definindo essa nova comunidade. Só que ao invés de priorizar preço ou exclusividade, o importante mesmo é ter o que quer e consumir algo que contribua culturalmente ou intelectualmente.
Assim, os Yuppies gostam de viajar para agregar conhecimento, tomam cerveja artesanal por privilegiar sabores mais complexos e gostam de se vestir bem, por ser uma geração muito mais apegada ao visual e ao imagético.
“Nós somos uma grande parte da razão que 43% de cada dólar comida milenar é gasto em restaurantes, em vez de em casa”. Pois, a refeição nestes lugares, além de ser mais prática, é muito mais fácil de virar um conteúdo no Instragram.
Nós somos o que nós odiamos
O autor, por fim, revela os Yuccies são nojentos. Quer saber o porquê?
Porque ele afirma que a sua geração é mais privilegiada que as anteriores, nasceu cínica e egoísta pela ausência de dificuldades. Ela não precisa entrar em qualquer embate, pode se dar ao luxo de escolher suas batalhas.
Para ele, a vida pode bem se resumir ao mundo virtual. Seu palco: internet. Seu público: os seguidores. Os aplausos que massageiam seu ego: curtidas e comentários no facebook ou instagram.
Uma lista para você saber se é um Yuccie
David Infante elaborou uma série de coisas que definiriam uma pessoa desse novo grupo. Procurei explicar alguns itens não tão comuns por aqui.
– Se você está verificando qualquer destes itens, você pode ser um yuccie. Seja honesto…
– Possui várias cópias do livro Freedom (Liberdade, 2010) por Jonathan Franzen – O livro foi saudado como um painel amplo e profundo da sociedade americana contemporânea. O jornal “The Guardian” classificou-o como “o livro do século”. O autor figurou na capa da revista “Time”, cuja chamada proclamava que Jonathan Franzen “nos mostra o modo como vivemos hoje”;
– Não gosta de gentrificação: fenômeno que afeta uma região ou bairro valorizando a região e afetando a população de baixa renda local. Tal valorização é seguida de um aumento de custos de bens e serviços, dificultando a permanência de antigos moradores de renda insuficiente para sua manutenção no local cuja realidade foi alterada;
– Realmente quer ir para Austin em breve, porque ouve que é incrível – Austin é uma cidade universitária descolada, conhecida por suas inclinações liberais e cena musical rica;
– Assina a revista NYT Weekend Edition, mas não lê as notícias – Substitua por qualquer revista descolada como Trip, Piauí ou qualquer outra que ainda existir por aqui;
– Adora comer rosquinhas artesanais;
– Faz aulas de pintura embriagados;
– Evita tatuagens visíveis (não é prudente para a carreira);
– Ama o seriado Seinfeld, mesmo sabendo que ele saiu do ar há muito tempo;
– Tem milhares de seguidores do Instagram, mas quase não há seguidores no Twitter;
O que pensamos dessa porra toda?
Essa não é a primeira e nem será a última vez que vão tentar categorizar a geração milênio. A revista Time apontou um estudo feito por uma empresa de consultoria separando em seis segmentos a geração milênio.
O próprio termo Hipster não identifica uma geração, apenas um subgrupo de pessoas dentro dela.
Existe uma necessidade de rotular a geração Y (Milênio, ou geração da Internet) não só por pura diversão. E sim porque colocadas em caixas diferentes, é muito mais fácil tentar vender para os grupos. Assim, as marcas, as estratégias de marketing e os modelos de negócios podem ser desenvolvidos da melhor forma.
Sim, existe uma certa coerência nas definições propostas por David (apesar de usar alguns pensamentos ufanistas e contraditórios). Mas, particularmente, eu não acho que minha vida se encaixaria em um formato pré-estabelecido. Além disso, prefiro a minha vida sem rótulos. E você?
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