Um colégio na pequena cidade de Vigo, na Espanha, está ganhando repercussão mundial depois de tomar uma decisão importante e realmente significativa: ensinar aos meninos tarefas domésticas.
A atitude ajuda não só a formar pessoas com maior noção de igualdade, como também mostra que tarefas domésticas não são exclusividade das mulheres, e que não há associação natural entre o trabalho em casa e o sexo feminino. Mostrando, finalmente, que dividir as tarefas domésticas é essencial.
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O Colégio Montebelo criou uma disciplina denominada “Home Skills” (algo como “Habilidades Domésticas”, em tradução livre) no início deste ano letivo – por volta de setembro/2019.
Na disciplina, são ensinadas tarefas domésticas básicas, como cozinhar, engomar e limpar a casa! Ela, aliás, foi muito bem recepcionada pelos alunos, apresentando altas taxas de participação e presença.
Além disso, o mais importante já está rolando: a mensagem principal, de que os afazeres domésticos são apenas para as meninas, afinal , a ideal é o contrário, todos devem ajudar coletivamente em casa.
Como muitas vezes as próprias famílias não têm tempo ou também simplesmente não ensinam essas tarefas para as crianças, a escola exerce um papel importante nessa formação.
A recepção dos alunos e a proposta do colégio
Apesar de inicialmente parte dos jovens não ter recebido a ideia muito bem, ela rapidamente foi absorvida pelos alunos, que manifestaram aceitação e apoio pelas novas aulas: “Têm uma atitude positiva nas aulas, acham que são simultaneamente divertidas e instrutivas”, revelou Gabriel Bravo, professor da instituição e o mentor por trás do projeto, citado pelo jornal argentino Clarín.
“Trata-se de um autêntico desafio para os alunos que, de repente, se deparam com um ferro de passar e as suas diferentes configurações segundo o tipo de roupa, entre fogões com um avental preso à cintura ou colocando roupas de molho para depois as lavarem à mão”, descreveu o Colégio Montebelo na sua página oficial no Facebook.
A iniciativa foi considerada inédita e de fato eficaz por promover de forma prática, desde o início da adolescente, a igualdade de gênero.
Além disso, o simples ato de preparar gerações futuras, por meio da educação, para uma vida mais equilibrada em família é extremamente vantajoso para todos.
Gabriel Bravo também acredita que as aulas renderão bons frutos futuros: “Pareceu-nos muito útil que os nossos alunos aprendessem estas tarefas para que, um dia mais tarde em que formem família, saibam que a casa é de dois e que não é obrigação apenas da mulher limpar, lavar louça e passar roupa”, explicou o mentor.
A ideia do projeto do Colégio Montebelo se espalhou pelo mundo e foi manchete em vários países, desde o México ao Chile, inspirando possibilidades de implantação do mesmo curso em outras escolas pelo mundo.
Gabriel também afirmou ter recebido milhares de elogios e mensagens de encorajamento para que dê prosseguimento à disciplina!
Meninos gastam menos tempo em tarefas domésticas que as meninas
Segundo dados de uma pesquisa norte-americana divulgados em agosto deste ano, as meninas fazem mais tarefas em casa do que meninos.
Meninos com idades entre os 15 e os 19 anos dedicam cerca de meia hora por dia a tarefas domésticas, enquanto as meninas da mesma faixa etária trabalham 45 minutos por dia em casa.
Ainda que as meninas dediquem um pouco menos de tempo a tarefas domésticas do que era o caso uma década atrás, o tempo que os meninos dedicam a essas tarefas não mudou.
Aliás, arcar com mais responsabilidades em casa é um dos maiores motivos para que as mulheres venham a receber salários menores que os dos homens e fiquem para trás deles em suas carreiras, dizem pesquisadores.
Conquistar a igualdade, segundo os pesquisadores do estudo, requererá não só preparar as meninas para trabalhos remunerados mas também ensinar os meninos a fazer trabalhos não remunerados.
“O envolvimento nas tarefas da casa desde a infância é a maneira pela qual a maioria das crianças aprende a fazer essas tarefas”, disse Sandra Hofferth, socióloga da Universidade de Maryland e coautora da análise recente; ela dedicou sua carreira a estudar ao que as crianças dedicam seu tempo.
Suas pesquisas se baseiam nos diários do levantamento “Uso de Tempo nos Estados Unidos”, que ocorreu no período entre 2003 e 2014 por 6.358 estudantes de segundo grau com idades entre os 15 e os 19 anos.
As tarefas domésticas incluídas no estudo envolviam cozinhar, limpar a casa, cuidar dos animais de estimação, cuidar do jardim e ajudar na manutenção da casa e carro – atividades, aliás, que estão sendo ensinadas para os meninos no colégio espanhol.
Segundo o jornal Folha de São Paulo: “O estudo constatou diferenças baseadas no nível educacional dos pais. Os filhos de pais com diplomas universitários dedicavam menos tempo a tarefas caseiras, em geral, mas a diferença se concentra quase todas nas meninas.”
As filhas de pais com formação superior dedicam 25% menos tempo a tarefas domésticas do que as filhas de pais com educação de segundo grau ou inferior. Mas ainda assim, elas dedicam 11 minutos a mais por dia do que os meninos.
Ou seja: mudar esse parâmetro é fundamental para criar uma sociedade mais igualitária.
Afinal, mesmo que o menino, ao crescer, não entre em um relacionamento logo de cara e se case com uma mulher, ele vai precisar encarar as tarefas domésticas ao morar sozinho e, ao fazer isso, reagirá de uma maneira bem mais fácil e saudável por ter aprendido a lidar com elas na infância ou adolescência.
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