Homens trabalhando e estudando em casa: O que aprendemos na pandemia?

Retorno gradual à rotina de escritório reforça a necessidade de debater o impacto do machismo estrutural na divisão das tarefas domésticas

Além de ter abalado o limite entre casa e trabalho, o isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus também nos fez enfrentar um dilema de décadas: impedidos de sair para a labuta, os homens tiveram de rever seu papel nas tarefas domésticas e na dinâmica dos lares. Agora, com a perspectiva de retorno ao escritório, em quais aspectos será que os últimos anos nos ajudaram a evoluir?

Segundo relatório emitido em 2021 pela ONU (Organização das Nações Unidas), 72% das mulheres identificaram aumento da carga de trabalho desde o início da pandemia. Entre os homens, apenas 45% sentiram esse efeito. Além disso, mais de 7 milhões de profissionais femininas foram demitidas no Brasil no período, dados que reforçam efeitos do machismo estrutural.

Por isso, hoje vamos discutir o que aprendemos sobre o papel do homem na dinâmica da casa e como isso pode moldar o comportamento assim que for possível voltar ao cotidiano dos escritórios.

Pai, filho e marido 24h

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Exercer o papel de pai, de marido ou de filho pode ser bem desgastante quando não se sai mais de casa. Principalmente, quando os espaços são compartilhados e todas essas funções se acumulam. Muitos homens se sentiram sobrecarregados e estranharam bastante a situação, pois não estavam nada acostumados a realizar tarefas domésticas ou dividir todo o dia com a família.

Considerando filhos, cônjuges ou outros parentes, um estudo da SOF (Sempreviva Organização Feminista) apontou que ao menos 50% das mulheres do Brasil começaram a cuidar de alguém na pandemia. Além disso, a consultoria McKinsey & Company apontou que 42% das mulheres se sentiram esgotadas sempre ou quase sempre em 2021 – no mesmo período, apenas 35% dos homens tiveram essa sensação.

Na prática, a pandemia aumentou a carga de trabalho e a pressão sobre todas as pessoas. As necessidades da casa e da família seguiram acumuladas e receberam adicionais relacionados à instabilidade política e profissional, medo da doença e preocupação com a saúde. Isso aumentou em 24% a taxa de divórcios no Brasil – e também elevou drasticamente o índice de violência doméstica, o que é muito mais grave.

Assim, um dos primeiros pontos que os homens devem se atentar neste momento é justamente a divisão de carga (tanto mental quanto física) sobre o cuidado da casa, dos filhos e até dos relacionamentos. Precisamos admitir que, para muitos de nós, foi mais difícil conviver com a mudança brusca do trabalho presencial para o trabalho home office por causa da cultura machista, que nos diz que nós não somos “tão responsáveis assim” pelas coisas que não envolvem o trabalho. Na verdade, essa responsabilidade é nossa, sim. E nós, como homens, devemos continuar a assumir esses papéis no cenário de pós-pandemia.

Solidão e solitude

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Enquanto uns estavam sufocados pela presença da família, outros estavam completamente sozinhos, muitas vezes em apartamentos pequenos, completamente isolados do resto do mundo.

Embora a sensação de estar sozinho possa trazer liberdade e até uma sensação de paz interior, quando isso dura muito tempo, pode se tornar um pesadelo. Aqui, o foco é aprender a distinguir dois sentimentos bastante diferentes: solidão e solitude.

A solidão é uma dor, um vazio intenso. Já a solitude é a certeza de que você pode ser feliz sozinho, sem precisar da companhia de alguém que te complete. Nesse sentido, podemos pensar sobre como muitos homens acham que precisam de uma companhia para serem felizes e, muitas vezes, dedicam toda a sua energia para buscar uma namorada, por exemplo, porque acham que precisam ter uma mulher ao seu lado para serem completos.

De fato, também existem muitas mulheres que pensam a mesma coisa sobre os homens, mas esse tipo de ideia não faz sentido para nenhum dos lados. Aprenda a ser feliz sozinho, sem depender de ninguém. Se der para ver os amigos, namorar, ver a família, ótimo! Mas se não der, não se afunde em tristeza por conta disso. Ter dependência afetiva só vai te prejudicar ao longo da vida (acredite!).

Porém, se você sente que o isolamento social excessivo te deixou deprimido, irritado, inseguro ou qualquer outra mudança que esteja te fazendo mal, não hesite em procurar ajuda. Uma das coisas que o isolamento social evidenciou foi a necessidade que todos nós temos, como seres humanos, de cuidar da nossa saúde mental e isso inclui os homens que, não raramente, acreditam que precisam ser fortes o tempo todo. Desconstrua esse pensamento, porque essa é mais uma ideia totalmente errada e atrelada à masculinidade tóxica.

Nova Rotina: queremos voltar ao que era antes?

Fazer o dia render

Mais de um ano se passou desde que deixamos os escritórios e fomos com nossos computadores para casa. E aí? Você quer voltar a ir todos os dias para a sede da empresa?

As pesquisas mais recentes sobre o tema revelam que a maior parte das pessoas gostaria de trabalhar no modelo híbrido, que combina alguns dias da semana no escritório e outros em casa. O que podemos aprender com isso é que tudo na vida é questão de equilíbrio.

Quem pode comentar mais sobre o assunto é Renato Batista, CEO da Netglobe, empresa especializada em soluções tecnológicas para o trabalho híbrido. “A maior parte das pessoas já está adaptada à nova realidade do home office, mas elas sentem falta, principalmente, do convívio com outros. O modelo híbrido é excelente justamente porque combina o melhor dos dois mundos, fazendo do escritório um espaço de convivência e troca ao mesmo tempo em que ainda proporciona o conforto e qualidade de vida do trabalho remoto”.

Se você tem um negócio e gostaria de implementar o modelo híbrido, ou se trabalha em uma empresa que está implantando este modelo, entre em contato com os especialistas da Netglobe e confira quais soluções personalizadas eles podem oferecer.

Tendências e projeções futuras

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Se você é estudante, sabe que não é somente na vida profissional que o modelo híbrido veio para ficar. Os alunos de escolas, cursinhos e universidades também gostam bastante da ideia de mesclar aulas presenciais e remotas. Além de tornar o acesso à educação mais fácil e democrático no país, já que evita gastos com transporte e alimentação fora de casa e acaba com as limitações impostas pela distância física, o formato dá mais liberdade de escolha e tempo livre aos estudantes e professores, que pode ser usado para descanso, estudos, passeios etc.

Para Tiago Ribeiro, Head of Business da Hybre, EdTech de soluções para o ensino híbrido, a educação à distância combinada com a presencial é uma tendência que veio para ficar. “A pandemia intensificou o uso de tecnologias que vinham sendo desenvolvidas e acelerou a adoção de um novo paradigma para a construção das aulas. Instituições de ensino incorporaram verdadeiramente a possibilidade de ter alunos em diferentes locais, e isso impactou muito a dinâmica. É difícil imaginar um passo atrás depois de tanta evolução”, diz o executivo.

A questão do estudo em formato híbrido também passa a ser a conjugação da rotina acadêmica com o trabalho e as necessidades de casa. Das 50 milhões de pessoas com faixa etária entre 14 e 29 anos no Brasil, 20,2% (ou 10,1 milhões) não completaram as etapas da educação básica, ou seja, abandonaram a escola ou jamais chegaram a frequentar. A evasão escolar disparou na pandemia – de 2% para 9,2% entre crianças e adolescentes do país. Essa conta é muito mais cruel com as mulheres, o que tem relação direta com o comportamento dos homens diante das obrigações cotidianas.

Seja pela necessidade de autocuidado ou pela possibilidade de combater um paradigma preconceituoso, a pandemia criou uma série de novos desafios para nós. O que você tem feito para repensar seu papel na rotina de casa?

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Thaynara Firmiano
Thaynara Firmiano

Jornalista, podcaster, fotógrafa e aspirante a cozinheira nas horas vagas. A maior cantora de samba e pagodes 90's no chuveiro e fã de umas séries aí.

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