É um fato: quase todo mundo que já passou por alguma escola brasileira se perguntou sobre a real qualidade dos métodos de ensino aplicados por aqui.
Na hora do vestibular ou mesmo depois de realizar alguma prova específica, essa dúvida provavelmente já surgiu na sua cabeça, e, bem, a resposta para essa questão não é muito animadora.
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Um estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), com base em pesquisa realizada em 11 países, mostrou que o Brasil é um dos cinco países que mais usam métodos mecânicos de ensino.
Como exemplo, encontra-se o ultrapassado quadro negro, em detrimento de aulas com foco na capacidade de compreensão. Segundo o levantamento, 40% dos alunos de séries iniciais têm, na maioria das vezes, aulas para copiar conteúdo, e cerca de 20% aprendem recitando tabelas e fórmulas e 10% repetindo frases.
A precariedade das escolas também foi apontada pela pesquisa: 87% dos brasileiros não têm acesso à Internet na unidade de ensino e 38% estudam em colégios sem bibliotecas. A repetência no ensino primário no Brasil chega a 19% dos alunos, enquanto no Peru, segundo país com maior percentual, o índice é de 8,8%.
Conteúdo não é o bastante
E o cenário só piora: um relatório divulgado em 2017 pelo Movimento Todos Pela Educação revela que apenas 7,3% dos alunos brasileiros do 3º ano do ensino médio têm aprendizado adequado em matemática. Em língua portuguesa, o índice é de 27,5%.
Segundo a pesquisa, que levou em consideração dados da Prova Brasil e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2015, em matemática o índice é ainda menor do que o observado em 2013, quando 9,3% dos estudantes tinham rendimento recomendado para a etapa. No caso de língua portuguesa, o percentual foi um pouco maior que os 27,2% registrados em 2013, mas, de acordo com os pesquisadores, essa diferença não é relevante estatisticamente, o que significa que o ensino dessa disciplina ficou estagnado no período.
A pesquisa evidencia também um duradouro retrocesso nesse segmento escolar nos últimos 18 anos. Em 1997, quando começa a série histórica analisada pelo Todos Pela Educação, a taxa de alunos com aprendizado adequado em matemática no 3º ano era de 17,9%. Ano após ano, a qualidade do ensino foi caindo até chegar ao índice de 2015 (7,3%).
Em língua portuguesa, embora os números sejam maiores, a queda de de qualidade também é nítida. Em 1997, 39,7% dos alunos tinha o nível de aprendizado recomendado para o 3º ano do ensino médio. Desde então, houve um retrocesso de mais de 12 pontos percentuais até 2015.
O desempenho das regiões do país separadamente também não é bom. Em Matemática, todas as áreas apresentaram queda no índice de alunos com aprendizagem adequada. A região com maior índice é a Sudeste (9,3%), seguida por Sul (9%), Centro-oeste (7,7%), Nordeste (4,7%) e Norte (3,5%).
Na parte de Língua Portuguesa é possível observar alguns avanços. As regiões Nordeste e Norte conseguiram impulsionar significativamente o aprendizado. A primeira passou de 18,6%, em 2013, para 20,4%, em 2015, já a região Norte passou de 16,2%, em 2013, para 20,6%, em 2015. Mas, ainda assim, são as regiões com piores taxas. Em primeiro aparece Sul (32,9%), depois o Sudeste (32,2%), Centro-Oeste (30,9%).
Qual seria a solução
Um bom exemplo de educação é o método utilizado na Expeditionary Learning Schools, uma rede de 150 escolas nos Estados Unidos. Um dos métodos que aplicam é chamado crew, que consiste em formar grupos de dez a vinte alunos que são reunidos no primeiro dia de aula e que fazem encontros todas as manhãs — isso até o fim da carreira escolar.
Esses estudantes desenvolvem senso de pertencimento e capacidade impressionante de produzir em equipe.
O jornalista americano Paul Tough, 50 anos, autor do livro Como as Crianças Aprendem (Ed. Intrínseca), foi a escolas e entrevistou economistas, psicólogos e neurocientistas para entender a relevância de certas habilidades de aprendizado no competitivo século XXI. Em entrevista para a Veja, ele destacou:
“Deveríamos preparar nossos jovens para carreiras que exigem um nível muito maior de criatividade, colaboração e flexibilidade do que as de trinta anos atrás. No passado, havia muitas profissões em que bastava o funcionário bater ponto, obedecer ordens e executar tarefas repetitivas. Hoje não funciona mais assim, mas as escolas não acompanharam as mudanças do mercado de trabalho”.
Ou seja: o foco das escolas deveria ser formar humanos, não robôs.
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