O anuncio deveria ser motivo de comemoração para os amantes de cerveja. A gigante Ambev enfim acordou para o cenário de cervejas especiais e, depois de algumas empreitadas na área (criação da Bohemia Reserva e de três chopes artesanais) anunciou uma associação da cervejaria Bohemia com a microcervejaria Wäls.
A pequena cervejaria mineira atuaria na área de inovação da empresa, resultando em criações focado neste mercado que representa 1% do total de vendas do fermentado de lúpulo, cevada, água e levedura. Esta é a primeira inserção de uma cervejaria artesanal ao portfólio do grupo.
Porém, a notícia causou um certo alvoroço negativo. No melhor estilo “Fujam para as colinas”, muitos cervejeiros artesanais bradaram palavras de protesto, clamaram que parariam de tomar e anunciaram o fim da cervejaria mineira, além de prever a dominação do setor com o avanço da Ambev. Tudo estava acabado.
Nem tanto a mar, nem tanto a terra, gostaria de deixar a minha opinião sobre a parceria:
1# A cervejaria Wäls é conhecida por seus ótimos rótulos, tanto que conquistou, no World Beer Cup 2014, a inédita medalha de ouro para o Brasil (Dubbel), além de uma de prata (Quadruppel). Será que os sócios José Felipe Carneiro e Tiago Carneiro, donos da microcervejaria, estariam só pensando no dinheiro e querem dar cabo da empresa que construíram entregando a qualquer custo?
2# Ano passado, a Ambev percebeu que estava na inércia, e com o franco crescimento do mercado de cervejas artesanais, iniciou um posicionamento em 2014, com lançamento de quatro bons rótulos ao mercado da Bohemia (Bohemia Reserva, Jabutipa, Bela Rosa e Caá-Yari).
3# Que vantagem a Maria Leva? A cervejaria mineira agora vai ganhar em qualidade de processo e mais estrutura para produção de seus rótulos. Por outro lado, a Bohemia ganha no setor de inovação, resultando rótulos sazonais e de diferentes estilos no mercado.
4# E para o consumidor? Só temos a ganhar com um produto final de mais qualidade, sem variações de lote e, quem sabe, até com um preço mais baixo, devido a maior produção.
5# Diferenças entre cerveja comercial e artesanal: ao contrário do mercado de cerveja comercial, onde os rótulos brigam na prateleira e no marketing para se tornar o número 1 do consumidor, no mercado de cerveja especiais, somos muito mais infiéis a rótulos e estilos. O bebedor de artesanal gosta de variar o cardápio, nem sempre busca o preço e quer ganhar experiências novas, consumindo e experimentando cervejas diferentes. Logo, a parceria não teria como monopolizar um mercado de 1% e em franca expansão.
6# Vale lembrar da gigante Brasil Kirin, que detém os rótulos Baden Baden, Eisenbahn, Kirin Ichiban e Devassa. Quando a japonesa comprou a Schincariol, melhorou a cervejaria, reformulou os processos de produção das cervejas e os rótulos só melhoraram, com prêmios dos mais diversos nacionais e internacionais. Cada cervejaria manteve-se com sua proposta e nicho.
Sou a favor de cerveja artesanal, não questiono as importadas de qualidade e produzidas por cervejarias de grande escala (Delirium, Brooklyn, Chimay), porque teria essa visão preconceituosa aqui com nosso produto nacional?
Por essas e outras, digo, que venha mais parcerias, associações ou aquisições, se o mote principal do negócio for a difusão da cultura cervejeira artesanal e aumento desse mercado.
Que tal diminuírem as reclamações, pararem com as birrinhas e, ao invés disso, unirem-se em prol do crescimento desse mercado que tanto se orgulham de fazer parte?
Se você acha que sou o único a pensar assim, confira algumas mensagens de apoio que pessoas do meio cervejeiro deram à aquisição por meio de redes sociais:
Cilene Saorin: Mestre Cervejeira
Bia Amorim: Beer Sommelier
Maurício Beltramelli: Beer Sommelier
Cheers!
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