Sempre acompanhei das telinhas as Artes Marciais. Assistia judô, jiu jitsu e MMA, mas só aos 25 anos (seis anos atrás), resolvi praticar uma modalidade de luta. Foi assim que comecei a fazer Muay Thai e nunca mais vi a atividade física da mesma forma.
E, depois de anos de treinamento e algumas graduações, fui chamado há cinco meses pelo mestre da Squadrão Thai (e meu professor) para participar do Torneio Revelação, com os alunos da equipe. Para chegar lá, tinha alguns desafios: perder 12 kg, entrar em forma e adquirir ritmo para encarar a luta.
A experiência foi fantástica, fizemos um vídeo especial sobre a experiência e alguns dos ensinamentos que aprendi durante toda a preparação e luta eu deixo abaixo para você levar para a vida. Confira!
1. A preparação é essencial
Por mais que você treine por anos e pareça muito pouco encarar 3 rounds de 2 minutos, eu digo: Sem preparação você não aguenta 30 segundos! O ritmo de luta é muito diferente de um sparring ou trocação durante a aula, você está pilhado e, sem uma preparação física (corrida, treino e musculação), a coisa não vai.
Quando meu professor falou que teríamos que correr na rua 7km umas três ou quatro vezes por semana eu pensei que era piada e não conseguiria. Quando comecei o treinamento corria de maneira bem esporádica (umas cinco vezes por mês). Coloquei mais aeróbico na minha rotina (precisava perder 12 quilos) e aumentei a frequência nas aulas. No final, estava correndo 4 vezes por semana em uma média de 120 km por mês.
De 97kg fui para 88kg. Não bati os 12kg que precisava perder, mas foi o suficiente para me dar fôlego e resistência na luta.
Se não fosse o desafio, talvez eu não tivesse me inspirado para fazer essa mudança na minha vida.
2. Controle sua ansiedade
Por mais que falem, que te tranquilize, se você não souber lidar com a ansiedade, ela vai te derrubar. Ela vai aumentando quando chega mais próximo da luta e te deixa pilhadaço quando você entra no tatame.
Eu procurei encontrar a minha paz, me reservei, adotei uma rotina tranquila antes do torneio. Assisti alguns filmes motivacionais (Rocky – Um lutador), escolhi umas músicas que me incentivam de maneira legal, assisti algumas lutas em vídeos para ver como profissionais fazem e evitei falar sobre o assunto.
Percebi que a ansiedade não é só algo que atinge quem luta, mas pode te acompanhar em um projeto no trabalho, em um desafio profissional, ou mesmo em uma escolha na vida pessoal. Você precisa descobrir quais são as atitudes que ajudam a controlar esse sentimento para lidar melhor com isso no momento devido.
3. Seu maior inimigo é você mesmo
Independente do quanto técnico, preparado ou melhor fisicamente é seu adversário, você sempre será o seu maior inimigo. Antes de entrar na luta – ou até mesmo durante ela -, você é o cara que pode te derrubar muito mais que seu adversário.
Isso vai acontecer quando você é tomado pela insegurança, pelo “não sou capaz”, por não acreditar em você mesmo. Seu oponente vai enxergar esse momento de fraqueza e se beneficiar das suas hesitações.
Por isso, tente trabalhar seu psicológico bastante. Demonstre segurança e confiança para si mesmo, se você foi chamado para um confronto, desafio ou para um cargo em uma grande empresa, é por seus méritos e capacidades. Acredite no seu potencial e vá em frente.
4. A sensação lá dentro e indescritível
Por mais lutas que eu tenha assistido ao vivo ou na TV; anos de treinamento; acompanhado pessoas próximas em desafios semelhantes, nada é igual ou comparável a sensação de entrar em um tatame e ringue e encarar como ‘Agora a porra é séria!’.
É especial, é mágico, é único, é indescritível. Você só vai entender isso quando passar por uma situação como esta. Depois do desafio, saí de lá respeitando muito mais os lutadores e guerreiros que encaram a situação. Você já é um vencedor só por estar lá!
5. A técnica pode não sobreviver ao primeiro soco tomado
Tenho algumas graduações e anos de treinamento. Não sou um cara expert no assunto, mas também não comecei ontem, adquiri alguma técnica durante o tempo. Mesmo assim, é preciso muita concentração quando o gongo soa e você é atingido pela primeiro golpe.
Se você entrar na ‘pilha’ do adversário, tende a toda sua preparação e técnica irem para o ‘vinagre’.
Na vida é assim, apesar de se preparar por anos para fazer um exame de vestibular, se você não tiver um bom psicológico, pode se perde em um questão complexa ou prova mais difícil; ou mesmo quando você toma um revés da vida, perde alguém ou acaba um relacionamento. Se não tiver cuidado, se desestabiliza todo.
É preciso de muita preparação para qualquer novo desafio. Mas, é preciso ter uma inteligência emocional para encarar uma situação adversa e que fuja daquilo que você planejou.
6. Tenha sempre alguém para te orientar
Para participar do torneio, eu precisava ter alguém que me orientasse no canto do tatame. Além da minha esposa – que luta há um bom tempo, manja bastante da parte técnica e me conhece bem -, consegui também, aos 48 minutos do segundo tempo, um cara que já fez algumas lutas para me passar instruções durante o confronto.
Os dois foram fundamentais para que eu entrasse na luta. Quando você está lá dentro, parece não enxergar as coisas óbvias, como uma sequência para utilizar, o estilo de luta do adversário que vai casar com o seu, seus golpes mais efetivos e estratégia para vencer.
O olhar de fora e o olhar de uma pessoa experiente se fazem necessários. Não só para a luta, como para escolher entre uma vaga de emprego ou outra, se você deve ou não insistir naquele relacionamento.
7. Encontre a sua paz
Eu passei meses treinando para aquele dia, fiz todo o meu planejamento físico, estava bem condicionado. Tudo isso não seria efetivo se não estivesse no meu ritmo e consciente do que estava fazendo durante o confronto.
No começo a luta eu meio que me perdi, soltando golpes sem técnica e só agindo de reflexo aos ataques que estava sofrendo. Resultado, não estava fazendo um bom confronto, além de gastar energia e movimentos à toa.
Quando eu parei e comecei a perceber meus movimentos e como ele poderia atingir o adversário, a coisa mudou. Fui muito mais efetivo e consciente da luta em si.
Na vida, para encarar um desafio, você precisa estar muito consciente das atitudes e consequência eu aquela escolha vai fazer. Com isso tudo e mente, dificilmente você vai agir por impulso ou fazer uma má escolha inconsciente.
8. Isso não é briga de rua, é arte marcial
Uma luta não é sobre quem derruba a outra pessoa, mas quem tem o domínio de técnica de determinada arte marcial sobre o adversário. As pessoas podem, em um primeiro momento, acreditar que é só sair na mão e acabar com o outro cara, mas isso não é o objetivo de um torneio sério.
É lógico que existem nocautes técnicos, contusões e vitórias sujas. Mas isso é uma exceção da regra. Quando você se dispõe a encarar um confronto, precisa conhecer bem as regras para saber como melhor pontuar e ganhar do seu adversário.
Um exemplo, no muay thai, chutes e joelhadas pontuam mais do que socos. Então, nem sempre que deu ‘mais porrada’ pode se sair vencedor.
Em qualquer coisa na vida você precisa conhecer bem as ‘regras do jogo’, para se sair melhor dentro delas. Caso contrário, pode ter um monte de energia e esforço gastos à toa.
9. É preciso sair da Zona de Conforto
Ninguém encara um desafio novo se não sair da zona de conforto. Eu por exemplo, durante todo o período de preparação, fiquei um mês sem beber álcool, 21 dias sem comer carne, abdiquei de rolês para focar na preparação, tive que treinar mais, suar e abrir mão de muitas coisas. Não me arrependo de nada e sou um cara melhor hoje por causa dessas escolhas.
Mas isso não acontece só com quem luta. Quem presta um concurso, quem se prepara para uma vaga de emprego, quem decide ter um filho, fazer uma viagem… são inúmeras situações que fazem você sair da zona de conforto, abrir mão de coisas priorizando um bem maior.
Isso é parte da vida, esse é o motor de transformação que você precisa para suas realizações.
10. Você pode ter nascido para aquilo, ou não
Durante a preparação ouvi algumas vezes as pessoas falarem que depois que entra no ringue, você descobre se ama ou odeia a situação. E é bem assim. Lidar com uma baita preparação, ser regrado, fazer concessões para um bem maior, lidar com a ansiedade e a pressão não é pra qualquer um.
No final, só você vai saber se curtiu toda a experiência e vai praticar de novo ou ela foi o suficiente e não quer isso para você.
Não fique triste ou frustrado por alguém ter um sucesso maior em uma área que você não domina. Simplesmente algumas experiências não foram feitas para você. Leve como um aprendizado e procure algo que te faz bem, feliz e realizado.
Fotos: Marcel Gonzalez
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