Todo mundo já ouviu falar dos samurais. É difícil encontrar alguém que não conheça o termo ou não esteja familiarizado com essa figura enigmática da história japonesa. O ocidente parece admirar vários itens da cultura oriental sem realmente entender o que eles significam: os samurais, por exemplo, são guerreiros que o ocidente admira, mas são enigmáticos para muitas pessoas.
Samurai (侍) era um termo usado para a nobreza militar da era pré-industrial do Japão. Em outras palavras, os samurais eram guerreiros japoneses que defendiam os daymio (senhores feudais). A palavra “samurai” é derivada do japonês arcaico, do verbo “samorau”, alterado para “saburau”, que significa “servir” ou “aquele que serve”.
O prestígio e importância dos samurais para a sociedade foram conquistas alcançadas entre os séculos XII e XIV, e, nessa época, eles começaram a ser enxergados como mártires.
Os samurais tinham que seguir um código de conduta e ética chamado chamado Bushido – que significa “caminho do guerreiro” e, de acordo com o código, os samurais deveriam ser leais, resistentes, corajosos e disciplinados. O Bushido ensina, por exemplo, que a famosa espada japonesa chamada katana não era simplesmente uma arma, mas a alma e o símbolo máximo dos samurais, que se preparavam desde a infância com os mestres mais experientes.
Apesar da honra ser uma de suas características mais famosa, eles também podiam ser mercenários que buscavam ouro, piratas, viajantes exploradores, cristãos, políticos ou até mesmo assassinos.
Quer descobrir mais sobre essa cultura? Então, veja as 9 curiosidades sobre samurais que você provavelmente não conhece:
Samurai não era só da elite
Como falamos acima, os samurais nasceram como membros da elite. Porém, isso não era uma regra. A maioria do exército de Japão era formada por soldados de infantaria chamados ashigaru. Esses indivíduos começavam de baixo, e eram arrancados – eles não tinham muita escolha – do trabalho em campos de arroz.
Apesar da origem mais humilde, os senhores de terra (conhecidos como daimyo) percebiam a capacidade deles e os treinavam.
Aliás, vale lembrar: o Japão antigo tinha três tipos de guerreiros, os samurais, os ashigaru e os ji-samurai.
Os ji-samurai eram samurais apenas parte do tempo, pois também trabalhavam como agricultores. Porém, essa “classe” de guerreiro podia ser transitória: se eles subissem de cargo e trabalhassem como samurai em tempo integral, se tornavam ashigaru – a diferença era que eles não eram tão respeitados quanto os samurais.
O serviço militar como um ashigaru, aliás, era o único caminho para subir de classe no Japão Feudal.
Existiam samurais cristãos
A igreja católica conseguiu se espalhar pelo globo e catequizar várias regiões do mundo. No Japão não foi diferente.
A chegada dos missionários jesuítas no sul do Japão fez com que alguns senhores da classe daimyo se convertessem ao cristianismo.
Apesar de alguns terem feito isso por questões religiosas, muitos se converteram apenas para se beneficiar da tecnologia militar europeia.
Um exemplo disso foi o daimyo cristão chamado Arima Harunobu, que utilizou canhões europeus contra seus inimigos na batalha de Okita-Nawate.
Fato ainda mais curioso: quando o Japão expulsou os missionários e forçou os cristãos japoneses a renunciar essa religião, o daimyo Dom Justo Takayama preferiu fugir do país com 300 fiéis, em vez de renunciar à sua fé.
Eles exibiam cabeças cortadas
Poucas pessoas sabem disso, mas os samurais cortavam as cabeças dos derrotados. Quanto mais poderoso ou famoso fosse seu oponente, maior era o valor da sua cabeça.
Eles colocavam essas cabeças para exibição e assim intimidavam seus inimigos, eles inclusive criaram bolsas especiais para guardar cabeças chamadas Kubibukuro.
Alguns samurais até tentavam enganar seus superiores com cabeças de outras pessoas e, por isso, foi cirado um sistema para verificar se a cabeça realmente pertencia ao do inimigo desejado – era necessário que outro samurai desse sua palavra sobre a veracidade do item, e também era preciso apresentar a espada do inimigo, que normalmente tinha as iniciais da família, e um anel ou selo. Se a cabeça fosse realmente do inimigo em questão, ela era registrada no “livro das cabeças” – uma relação escrita de todas as cabeças cortadas.
Cada cabeça era disposta em um pequeno suporte de madeira e recebia uma etiqueta com os nomes da vítima e do assassino.
Se não houvesse tempo, uma cerimônia apressada era organizada sobre folhas de algumas plantas para absorver o sangue das vítimas.
Os daimyo desencorajavam o suicídio
A maioria das pessoas que admira a cultura samurai conhece os rituais suicidas praticados pelos soldados. Porém, eles eram desencorajados pelos daimyos.
O seppuku, como era chamado o ritual suicida, era a forma que eles acreditavam preservar sua honra depois – ou na espera – de uma derrota.
Para um samurai, era melhor tirar a própria vida do que permitir que os inimigos o matassem ou o aprisionassem. Normalmente, eles empunhavam um facão ou a própria espada na barriga.
Porém, os senhores daimyo estavam preocupados com a integridade de seus exércitos: ou seja, a morte dos soldados era considerada por muitos daimyos como um desperdício de talentos.
Eles também recuavam
Samurais são conhecidos pela sua honra e em todas as histórias que ouvimos, eles lutam até a morte. Porém, os samurais também recuavam.
Os daimyos usavam táticas militares de recuo, e ao recuar, o samurai usava uma capa meio inflada chamada de horo. Ela conseguia fazer com que as flechas não penetrassem no corpo enquanto o samurai fugia, aliás, esse horo também protegia o cavalo usado na fuga.
Eles exibiam a sua linhagem
Os primeiros samurais que batalhavam em meados do século 10 espalhavam discursos que narravam genealogias dos combatentes em batalhas. Mais tarde, com as invasões mongóis e com a incorporação das classes mais baixas na guerra, essa prática foi diminuindo até praticamente deixar de existir.
Porém, mesmo assim alguns guerreiros quiseram manter a tradição e passaram a usar bandeiras em suas costas que detalhavam a sua linhagem.
Alguns samurais eram piratas
Como falamos acima, alguns samurais também eram piratas. Por causa de uma má fase de colheita que deixou o Japão com pouca comida, e por causa das invasões mongóis que assolavam o território japonês, os ronin desempregados do oeste precisavam desesperadamente de dinheiro e, com pouca supervisão, começaram a agir na ilegalidade.
Só pra lembrar: os ronin eram soldados que não seguiam um daimyo. Seus líderes durante a pirataria asiática eram alguns samurais igualmente necessitados de dinheiro.
Com o título de wokou, os piratas causaram tanto estrago que foram responsáveis por muitas disputas internacionais entre China e Coréia.
Existiam “samurais” mulheres
Na classe guerreira dos samurais, também havia mulheres que eram treinadas em artes marciais e em estratégias de guerra. Elas eram chamadas de onna-bugeishas, e participavam de batalhas ao lado de homens. Geralmente, elas lutavam usando naginatas, uma espécie de lança com uma lâmina curvada na ponta.
Infelizmente, os textos históricos não reúnem muitas referências às onna-bugeishas, mas, mesmo assim, historiadores acreditam que elas eram mais numerosas do que a gente pode imaginar: análises feitas no local da batalha de Senbon Matsubaru, que aconteceu em 1580, mostraram que, de todos os 105 corpos encontrados, 35 eram de mulheres.
Como foi a decadência dos samurais
Com a unificação do Japão, os samurais tinham poucas guerras para lutar. Porém, como eles tinham uma educação refinada e eram os únicos japoneses autorizados a portar armas, eles ainda desfrutavam de grande prestígio na sociedade.
Sustentados pelos impostos pagos pelos servos, eles viveram por um tempo no luxo e no ócio, e se dedicavam à arte e à literatura. Essa vida boa, entretanto, durou até 1872, quando os governantes quiseram transformar o Japão em uma potência internacional tentaram varrer qualquer vestígio do passado feudal. “Em dezembro daquele ano, o imperador Meiji anunciou a criação de um exército de 36 mil homens, composto por jovens japoneses de 20 anos de idade. Na prática, isso acabou com os privilégios dos samurais como classe guerreira do país”, afirmou a historiadora Célia Sakurai, do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, em São Paulo, em entrevista para a revista Mundo Estranho: “Apesar das reformas, o prestígio desses brigões permaneceu em alta por muitas décadas. Até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a classe dirigente do Japão ainda era predominantemente preenchida pelos descendentes das famílias dos antigos samurais”, completa.