Descubra o que é stealthing e como isso pode acabar com a sua vida

Talvez você não conheça a prática pelo nome, mas ela pode acabar com a sua vida e com a vida de outras pessoas.

Você pode não conhecer a prática pelo nome, mas pode praticá-la há tempos e, sem saber, estar colocando a sua vida e a vida de outras pessoas em risco.

Em fóruns e sites, grupos de homens trocam informações e incentivam a prática do “stealthing” (“stealth” significa furtivo, oculto): a remoção da camisinha pelo homem durante o sexo, sem haver consentimento da parceira.

Sim, isso existe e você já deve ter ouvido falar de alguém que praticou esse tipo de coisa. Por sadismo, maldade, egoísmo, falta de caráter – ou tudo isso junto – muitos homens estão praticando essa atitude inconsequente e cruel com as mulheres com as quais se relacionam.

A advogada americana Alexandra Brodsky estava procurando vítimas que sofreram esse ataque e, na sua busca, encontrou diálogos entre os próprios agressores. O resultado foi publicado no dia 20 de abril, no jornal de gênero e direito da Universidade de Columbia, e divulgado aqui no Brasil no jornal Nexo. O estudo leva o nome de “Rape-Adjacent’: Imagining Legal Responses to Nonconsensual Condom Removal” – em tradução livre: “Análogo ao estupro: imaginando respostas legais para a remoção não consensual de preservativo” – e tem o objetivo de nomear uma experiência compartilhada por várias mulheres, e prever possíveis consequências jurídicas para quem comete esse tipo de atitude.

O título do artigo compara a prática ao estupro, e, segundo a advogada, isso tem total sentido, afinal, um dos indivíduos está sujeitando o outro a um ato que não lhe foi permitido.

Infelizmente, não há estatísticas sobre o número de casos de stealthing no Brasil. Por ser pouco conhecida e também por não ser totalmente reconhecida como violência sexual, é difícil mensurar a quantidade de atitudes como essa que acontecem no país.

Além disso, muitas mulheres não sabem que sofreram esse abuso, e as poucas que sabem, descobrem apenas quando realizam algum exame e descobrem alguma DST ou até mesmo uma gravidez.

No entanto, uma advogada consultada pelo jornal Nexo, que trabalha no escritório de advocacia Braga & Ruzzi – especializado no atendimento de mulheres – e o Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde afirmam que esses casos existem no Brasil, e infelizmente ocorrem com frequência.

 

 

A prática é, sim, uma forma violência

Descubra o que é stealthing e como isso pode acabar com a sua vida

O artigo desenvolvido pela advogada diz que a retirada do preservativo faz com que a relação que ocorria de forma consentida (afinal, a mulher concordou em ter uma relação sexual protegida) passe a ser não consentida, e, portanto, se torna uma violência. Um estupro: “Situar a remoção não consensual de preservativo dentro da ampla categoria de violência de gênero revela que a prática é um ato antiético com consequências concretas, psíquicas e políticas para as vítimas. Feministas trabalharam por muito tempo para tornar esse tipo de dano reconhecível tanto na lei civil quanto penal” diz Alexandra Brodsky no estudo “Rape-Adjacent’: Imagining Legal”.

Se você praticar isso contra qualquer pessoa, pode responder legalmente. 

As mulheres que são vítimas de “stealthing” estão amparadas pela lei brasileira caso queiram denunciar o ocorrido, segundo a advogada Marina Ruzzi.

Em entrevista para o jornal Nexo, ela disse que, infelizmente, o crime provavelmente não vai ser caracterizado como estupro. Porém, quem o praticou pode ser punido pelo risco de contágio venéreo intencional oferecido por uma das partes e a relação sexual mediante fraude. Afinal, segundo o artigo 215 do Código Penal, é crime ter “conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima”. A pena vai de dois a seis anos de prisão.

Além de colocar a vida de outra pessoa em risco, você também pode estar se arriscando diante da lei e correndo sérios riscos de contrair alguma doença.

Muitas pessoas podem praticar esse ato sem o objetivo direto prejudicar a parceira, muitos homens podem acreditar que uma rapidinha sem camisinha não vai resultar em problemas mais graves: mas essa rapidinha pode, sim, acabar com a sua vida e com a vida da garota que aceitou transar com você. Então, tenha plena consciência dos seus atos e saiba que você pode responder criminalmente pela sua atitude.

Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

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