Diferenças entre o amor romântico e a vida real

O grande amor é uma conquista diária e não uma visão romanceada de um comercial de margarina

Crescemos ouvindo que o grande amor vai nos bambear as pernas, fazer o fôlego ir embora na primeira tentativa de respirar. Mulheres, muitas vezes, crescem acreditando que o grande amor vai levar com ele toda a gravidade logo no primeiro olhar.

Homens, muitas vezes, acreditam em tudo isso e também acreditam que o grande amor vai prender seu corpo na cama, vai provocar uma vontade incontrolável de transar o tempo todo. O grande amor pode não ter a aparência de uma atriz pornô, mas vai despertar os mesmos desejos e, se esse tesão acabar, é sinal de que ela não era o grande amor, é sinal de que algo está errado.

E em tempos de aplicativo, a troca é rápida e a busca é implacável. Depois do primeiro encontro, se o cara disser que detesta o filme favorito da garota, já é o fim. Ela abre o Tinder novamente e procura alguém que goste de Brilho Eterno tanto quanto ela. Afinal, como ela pode se relacionar com alguém que não sinta o mesmo?

Quando a garota entra no carro depois de confirmar o endereço através do WhatsApp e, por algum motivo, o seu perfume ou opinião política não agrada, o homem já repensa todo o encontro. Ele já se senta à mesa do restaurante tendo a certeza que aquela refeição será a última ao lado dela.

Quando a transa rola no primeiro encontro, por mais incrível e intensa que tenha sido, o cara não liga no dia seguinte. Vai ligar para uma garota que transou com ele logo de cara e proporcionou um dos melhores orgasmos da sua vida? Lógico que não.

Quando a transa rola no primeiro encontro, por mais incrível e intensa que tenha sido, a garota não se preocupa em sair com a outra pessoa vez. Pode nem ter sido tão bom assim. Ela sabe que consegue orgasmos melhores, ela sabe que pode encontrar um cara que, ao mesmo tempo que a faça gozar, também goste daquela banda irlandesa tanto quanto ela.

Crédito: Reprodução

A variedade de opções, o cardápio, a disponibilidade nos faz esquecer que não existe perfeição aos olhos da nossa imaginação. O amor romântico nos faz acreditar que vamos ficar sem ar, vamos beijar com o pé levantado, com as mãos em volta do pescoço e com o coração palpitando o tempo todo.

O amor real nos mostra que o grande amor da nossa vida nos dá tesão, sim. E muito. Tira o nosso fôlego, sim, e muito. Mas, muitas vezes, o tesão precisa dar espaço para uma discussão sobre política cuja opinião de ambos os lados seja diferente. Muita vezes, o fôlego vai embora depois de uma briga e só volta momentos depois, quando os dois percebem que podem discordar em várias coisas, mas concordam em querer fazer o amor continuar.

Não basta amar, é importante querer amar. Querer continuar.

O amor romântico nos faz acreditar que a pessoa precisa ser extremamente compatível conosco para que tudo dê certo. O amor romântico nos faz acreditar que o verdadeiro amor não falha. Ou, se falha, falha como nos filmes, falha de um jeito romântico, falha de uma maneira charmosa.

O amor da vida real é a transa intensa que dura a madrugada toda, mas também é a transa intensa que dura cinco minutos antes de arrumar as crianças para ir para a escola. O amor da vida real é pagar as contas de casa, discutir por causa dos gastos do mês, revezar a limpeza do cocô do cachorro e deitar no sofá para ver um seriado sem se preocupar se a outra pessoa está nua ou veste um pijama velho.

O amor romântico vai embora na página dois. O amor romântico começa com a idealização e termina com a frustração. Frustração que sempre vai existir porque seres humanos surpreendem, seres humanos estão em constante mudança e, pasmem: seres humanos são diferentes.

O amor da vida real sabe que o grande amor pode gostar dos mesmos seriados que você, mas pode te ensinar outras coisas que você nunca imaginou por viver em outra realidade.

O amor da vida real vai te fazer crescer, expandir seus pensamentos, alimentar seus conhecimentos e instigar seu senso crítico.

Mas ele pode não ter o formato de corpo que você idealizou, o gosto musical que você sonhou e nem curtir tanto ir para a praia quanto você.

Para viver o grande amor é preciso querer. Para viver o grande amor, é preciso saber que é preciso mantê-lo vivo sob todas as circunstâncias.

Afinal, se o amor romântico ensinou algo para o amor da vida real é que o verdadeiro amor não desiste de existir.

Crédito: Reprodução

Não feche a porta do carro na primeira discussão. Não vá embora na primeira opinião contrária, não desista na primeira jogada de cabelo que fez a garota parecer menos ideal aos seus olhos.

Hoje, é muito fácil trocar e muito difícil ficar.

Hoje, é muito fácil desistir e muito difícil lutar.

O grande amor vai exigir trabalho, dedicação. Ele vai (deve) ser leve e delicioso quando precisar, mas vai te fazer repensar seu orgulho, suas convicções e sua forma de encarar o mundo que você idealizou.

Essa é a delícia de viver um grande amor: ser marcado por ele, virado do avesso por ele, desmontado e remontado por ele.

Afinal, assim como disse Vinicius de Moraes: “para viver um grande amor direito, não basta apenas ser um bom sujeito, é preciso também ter muito peito, peito de remador”.

A paixão de bambolear as pernas existe, mas você precisa se permitir ser dominado por ela e aceitar que, assim como a sua pele, seu cabelo e suas feições, ela também se transforma.

O amor da vida real é um não querer mais que bem querer, ele é a contradição e o equilíbrio.

E, para ter a sorte de viver esse amor você precisa ter a coragem de quebrar as suas idealizações.

Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

Comentários
Importante - Os comentários realizados nesse artigo são de inteira responsabilidade do autor (você), antes de expressar sua opinião sobre temas sensíveis, leia nossos termos de uso