Querem que você tire a barba! Pelo direito de ter (e manter) os seus pelos

Acordo de manhã e, ainda sonâmbulo, abro a internet e vejo o título da matéria:

Barbas estão, oficialmente, mortas.

Leio o artigo tentando entender o que se passa e são relatos de uma nova geração (os yuccies) que, de uma hora para a outra, acordaram e decidiram que os pelos faciais masculinos não têm o menor sentido. Agora você precisa raspar pois se não será bem aceito no trabalho, no círculo social e ainda será motivo de chacota.

Como não ligo para tendências da moda, emendo um alto e em bom som: Foda-se! E sigo zapeando a web.

Pois então, outra notícia me chama a atenção. Essa consegue atingir o ego de muitos caras:

Homens que fazem a barba diariamente transam mais

Depois de ler a chamada, imagino que os Deuses estão de complô contra mim. Chego a ligar para minha esposa pra ver se é uma indireta que ela quis dar. Depois de anos conservando, errando mais que acertando, agora que achei minha barba ideal, terei que raspá-la para não ser um pária na sociedade.

Foi refletindo sobre tudo isso que vim aqui falar para vocês, sobre essa necessidade da indústria de beleza impor que você tem que ser assim ou assado, visando somente o lucro e esquecendo do bem-estar e da liberdade individual de você se sentir bem como quiser.

Por que algumas empresas masculinas pregam que você raspe a barba?

Quero recordá-lo que em 2013 rolou uma certa pressão das marcas de lâmina de barbear para que o homem não só fizesse a barba, como depilasse seu corpo inteiro. A justificativa de uma propaganda era de que as mulheres simplesmente não gostavam de pelos e, se o cara quisesse pegar alguém, teria que raspar geral.

Não preciso nem dizer que a propaganda foi, não só um fiasco, como tiraram ela do ar pelo tamanho mal gosto. Não é para menos. Em uma época em que discutimos o direito da mulher de ter e manter seus pelos, não tem sentido querer implantar a ditadura ‘lisinha’ para os homens.

Isso sem falar do quanto foge da realidade. De acordo com uma pesquisa realizada na Inglaterra, 54% das mulheres dão preferência a homens barbados, pois eles demonstram mais masculinidade.

Ai, você fala que por eu ter barba, estou forjando as informações. Nós mesmos, já caímos no erro de divulgar uma pesquisa contrária sobre isso e recebemos uma avalanche de reclamações femininas demonstrando claramente a preferência delas por homens barbados, digamos assim. Se você tem dúvida da preferência, lembramos que é delas a famosa frase que virou bordão na internet: “Faça amor, não faça a barba!”

A crise no setor

Mas existe uma razão para essas empresas agirem desta forma. Com a adesão masculina para a barba, o lucro com venda de lâminas barbear caiu vertiginosamente.

Desde 2012, o mercado americano de lâminas descartáveis teve uma queda de US$ 85 milhões. Para os analistas, os homens que se barbeiam estão cansados de gastar cada vez mais dinheiro em diferentes combinações de pequenas lâminas e com o preço abusivo cobrado. Acabam recorrendo a opções mais baratas.

Basta lembrar também que lá o Movember e muito forte e atuante, um mês onde os homens deixam de fazer sua barba em prol de enfatizar as doenças masculinas.

Vou fazer uma conta rápida para mostrar o quanto uma empresa pode perder quando um cara resolve deixar sua barba:

Considerando que eu tivesse que manter a barba sempre feita (como acontecia com muitos homens na década passada). Como a lâmina tem uso médio de 3 vezes, eu usaria 1 lâmina por semana, ou 4 lâmina por mês. Um custo médio de R$ 24.

Como eu mantenho a barba, o uso de lâminas não é tão frequente (uma vez por semana). Ou seja, por mês, tenho um gasto médio de R$ 9. Para as empresas da área, só eu deixo de gastar R$ 180 por ter uma barba.

Agora você entendeu o motivo de preocupação? Agora vou explicar o ponto de oportunidade que eles não enxergam com este nicho.

O que eles não enxerga com a crise

Se você pensa que ter e manter uma barba é simples, fácil e barato, está equivocado. Se antes eu gastava só com espuma, creme de barbear e, talvez uma loção pós barba; hoje, por manter os pelos, a preocupação e o investimento é muito maior.

Barbeador elétrico, lâmina de barbear, creme para barba, óleo para barba, pente, tesoura, shampoo, esfoliante, pós barba, cera para bigode, etc. Só para citar alguns itens que tive que conhecer e usar para ficar bem com meus pelos no meu rosto.

Muitas empresas que deixaram o Mimimi de lado e olharam para os cuidados do novo homem, se deram bem. Quem passou a oferecer produtos além de lâminas de barbear, teve sucesso e lucro. Só em 2013, o crescimento foi de 7% de vendas.

Isso sem falar do surgimento de empresas online voltado só para grooming e beleza masculina, como a Shop4Men, MensMarket, além da revitalização e aumento de número de barbearias e cabelereiros masculinos.

Existem dois modos de encarar a vida. A primeira é reclamar na primeira dificuldade e continuar fazendo a mesma coisa. A outra é enxergar na crise uma oportunidade real de crescimento.

As empresas que ainda forjam pesquisas e propagandas sobre o tema parecem que continuam na primeira alternativa.

Por um mundo onde eu possa escolher meu estilo

O que quero falar aqui é que, acima de tudo, eu defendo o direito dos homens fazerem a própria escolha. Se ele se sente bem com ou sem barba, é um problema dele.

Esse conceito de mulher querer cara lisinho é semelhante aos homens que preferem mulheres 100% depiladas. Existe, mas não é a maioria que dá voz a isso. Só as pessoas intolerantes.

Sou totalmente contra essa visão do mundo limpinho e que prega o fim dos pelos, sejam eles íntimos ou não. Isso não quer dizer que eu defenda o estilo da densa Mata Atlântica ou mendigo. Para tudo precisa ter cuidado e higiene, aparar (barba, costas, peito e afins), mas esse cuidado não pode virar uma piração no estilo: ou raspa, ou desce!

E você, cara, da próxima vez que encarar uma pesquisa sobre o assunto, não ligue e nem se deixe influenciar. Os pelos são seus e se você quiser manter (onde for) isso não diz respeito a ninguém!