Você não precisa assistir a alguma corrida de Fórmula 1 para conhecer Lewis Hamilton – ou pelo menos saber que ele existe. Se assistisse, porém, veria um profissional que domina sua área. Melhor disparado naquilo que faz, ele é respeitado por todos os seus pares, invejado por boa parte deles e odiado por alguns. Afinal, Hamilton é muito mais que um piloto, e isso nem sempre gera simpatia.
O que ele faz, então? Além de ser o melhor piloto de Fórmula 1 da atualidade (e, possivelmente, da história), o inglês de 36 anos é uma celebridade mundial. Namorado de modelos, amigo de Neymar, astro de comerciais, defensor de causas de justiça social. Concentrado, dedicado, controverso, máquina. E essas são apenas algumas das palavras que podem descrevê-lo.
Entenda a seguir o que nós achamos que faz de Lewis Hamilton um cara tão fera para a F1 e para o mundo no geral. Quem sabe depois disso você não vira (ainda mais) fã dele também.
A família Hamilton no automobilismo
Uma das figuras mais importantes do início da vida de Hamilton foi seu pai, que se separou da mãe quando ele tinha apenas dois anos, mas com quem morou até virar adulto. Filho de imigrantes caribenhos, Anthony Hamilton foi um mecânico e empresário em corridas de kart organizadas por toda a Inglaterra, nas quais o jovem Lewis participava.
Com equipamentos de segunda mão, Lewis conta que a família tinha sua presença questionada naqueles locais – era incomum negros correrem de kart. Mas o talento era absurdo e a dupla aguentou e permaneceu unida (com Anthony como como empresário do filho) até chegar à Fórmula 1.
Por volta de 2011, Lewis e o pai romperam as relações profissionais e pessoais. Foi quando o piloto mergulhou de vez no mundo das celebridades e começou a mostrar seu lado mais rebelde e antirracista – o pai defendia a ideia de que ele deveria responder ao racismo sempre nas pistas, não pela boca. Hoje eles já voltaram a se falar, mas Anthony não cuida mais da carreira do filho.
O maior de todos os tempos
Até o início da temporada de 2021, Lewis Hamilton é o detentor do maior número de vitórias (95), de poles positions (98), de pódios (165) e de títulos da Fórmula 1 – embora nesta última categoria esteja empatado com o alemão Michael Schumacher, ambos heptacampeões. O primeiro campeonato veio em 2008, aos 23 anos. Depois, repetiu a dose em 2014, 2015, 2017, 2018, 2019 e 2020).
São quatro títulos seguidos e os outros pilotos sabem que, se tudo ocorrer normalmente, eles disputam do segundo lugar para trás. Repetindo o feito em 2021, ele se torna o maior campeão de todos os tempos.
Celebridade global
Em 2020, Hamilton foi nomeado pela revista “Time” como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Um dos oito atletas que figuram na lista, ele apareceu ao lado de nomes como a tenista Naomi Osaka, o jogador da NBA Giannis Antetokounmpo e a jogadora de futebol Megan Rapinoe.
Além do esporte, o piloto é um rosto conhecido por levar um estilo de vida quase de rockstar. Ex-namorado de cantoras e modelos famosas como Rihanna e Irina Shayk, Hamilton é um dos amigos de Neymar e está sempre nas rodas mais comentadas. Em 2018, chegou a lançar até sua própria linha de roupas em parceria com a Tommy Hilfiger.
Mentalidade de campeão
É verdade que Hamilton tem de longe o melhor carro da Fórmula 1 para dirigir (sim, eles não são todos iguais e isso faz muita diferença). Mas não é isso que faz dele bom, embora você vá ouvir saudosistas tentando diminuir seu mérito por causa da máquina. Uma das principais razões do sucesso do piloto é seu desejo de buscar a perfeição.
Nos últimos anos, mesmo à frente do volante mais potente ele seguiu se desafiando a cada semana para extrair mais desempenho de si mesmo. Mesmo com as equipes rivais diminuindo a distância para a Mercedes de Hamilton, foram muitas vezes em que ele bateu seus próprios tempos, tentando chegar o mais perto possível da perfeição. Não à toa virou uma máquina de destruir recordes.
Corpo são, mente sã
Apesar da vida de celebridade, preparo físico e mental são duas das maiores armas de Lewis Hamilton. Desde que foi para a Mercedes, em 2013, ele passou a trabalhar com a treinadora de performance Angela Cullen para virar um superatleta. Uma das principais mudanças foi na dieta do piloto, que se tornou vegano por influência dela. Desde então ele também passou a estudar mais de perto questões ambientais.
O treinamento para a cabeça também é constante. O inglês recebeu grande ajuda do tricampeão Niki Lauda – que o incentivou a ir para a Mercedes – para se tornar o piloto mais cerebral da F1. Consequentemente, adquiriu na segunda metade de sua carreira uma leitura de corrida que lhe permite ter um amplo domínio da categoria.
Rebeldia e perseguições
Hamilton já sofreu diversas punições e afirmou em mais de uma oportunidade que se sente ou pelo menos já se sentiu perseguido pela direção da Fórmula 1. Entre os motivos para isso estariam sua inexperiência e agressividade no início da carreira, além do fato de ser o único piloto negro e de infância relativamente humilde no meio de um esporte dominado por brancos com bastante grana.
Ao longo dos anos, Hamilton aprendeu a levar as regras ao limite, testando todas as possibilidades para aumentar seu desempenho. Muitas dessas atitudes não são recebidas com alegria dentro da Fórmula 1.
Além disso, em diversas ocasiões ele colocou suas opiniões e sinceridade acima dos interesses da categoria. Como quando, ao ser perguntado sobre se deveriam haver corridas em meio ao coronavírus, disse que não e que elas só aconteceriam porque o “dinheiro é rei”.
Senna, Mandela e referências
Sem ídolos negros no automobilismo quando era criança, Hamilton já citou inúmeras vezes Ayrton Senna como sua principal inspiração na Fórmula 1 – de onde vem parte de seu estilo rebelde enquanto às regras do esporte. Quando superou o brasileiro em poles, aliás, ganhou da família Senna o icônico capacete amarelo com as faixas azul e verde.
Além disso, o piloto inglês leva tatuado no corpo e gravado em seu capacete um poema de Maya Angelou, cita Muhammad Ali como maior ícone do esporte de todos os tempos e realizou o sonho de conhecer o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, uma de suas maiores inspirações pessoais, em 2008.
Um piloto negro a favor da justiça social
Hamilton aprendeu a usar sua posição como único piloto negro da Fórmula 1 para promover diversas lutas por justiça racial e social. Foi o maior expoente do movimento Black Lives Matter dentro da F1 e encorajou seus companheiros pilotos a se ajoelharem antes das corridas. Além disso, lançou uma campanha com o objetivo de aumentar o número de negros no automobilismo.
O inglês, que confessou ser diagnosticado como disléxico aos 17 anos, ainda se tornou embaixador da ONU (Organização das Nações Unidas) pela educação de qualidade, promovendo a criação de escolas no Reino Unido.
Rivalidades interessantes
Como todo grande esportista é formado também por grandes rivalidades, sobretudo na Fórmula 1, Lewis Hamilton também tem as suas – e um monte delas. O inglês acumula muitas tretas internas na carreira. Já disputou protagonismo com vários colegas de equipe: o espanhol Fernando Alonso, o britânico Jenson Button, o alemão Nico Rosberg (que chegou a “roubar” um título do inglês em 2016 após uma temporada em que eles se chocaram mais de uma vez disputando posições) e, atualmente, o finlandês Valtteri Bottas (que assumidamente odeia ser o número 2 de Hamilton).
Parte da graça da Fórmula 1 em tempos de tamanha dominância é ver o que bolam seus rivais para tirá-lo do pódio. E, como em qualquer outro esporte, permanecer como o campeão a ser batido por tanto tempo apenas confirma sua grandeza.
Descubra mais sobre Lewis Hamilton e a Fórmula 1
Série: a cena de Hamilton reclamando do Grande Prêmio da Austrália não ter sido cancelado ainda por causa do coronavírus em março de 2020 (a corrida só seria cancelada depois, na véspera dos treinos) é mostrada na série “F1: drive to survive“, da Netflix. A produção já tem três temporadas e cada uma acompanha as principais histórias que envolveram os pilotos e as equipes no ano anterior. A mais recente apresenta a visão de Hamilton sobre o racismo e o fato de ser o único piloto negro na modalidade. Como um todo, a série é bastante recomendável para quem gosta de produções do tipo sobre esportes.
Filme: a importância das rivalidades na Fórmula 1 pode ser difícil de entender. Mas, basicamente, todo grande campeão teve que batalhar contra um rival tão bom quanto ou até melhor que ele para vencer. O filme “Rush” ajuda a compreender como isso foi transformado em motivação ao contar a história de James Hunt e Niki Lauda, pilotos rivais extremamente opostos em seus estilos de vida, mas que disputaram títulos nos anos 70. Ajuda a entender por que Lauda, posteriormente, virou mentor de Hamilton.
Livro: Hamilton lançou uma autobiografia em 2007 chamada “My Story“. O livro foca bastante na trajetória de superação do piloto e sua família, mostrando a dificuldade enfrentadas por eles para chegar à Fórmula 1. Muita coisa se passou desde então e outras publicações foram publicadas depois (algumas já contando as histórias dos muitos títulos), mas não deixa de ser interessante vê-lo narrando sua vida nas próprias palavras.
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