Em uma conversa que tive com um amigo de longa data, estávamos relembrando dos tempos mais jovens onde tudo parecia mais legal e o tempo passava muito mais devagar. Por um instante, veio a dúvida, que compartilhei com ele e que agora faço para você, leitor:
Você também tem a impressão que este ano passa muito mais rápido do que o ano anterior? Ou que, ao chegar à vida adulta, a sensação que tem é que quando adolescente ou criança as coisas aconteciam em um ritmo muito mais lento?
Por incrível que parece, esta reclamação (e encanação), não é só digna de pessoas saudosistas, assim como eu. Estudiosos e cientistas já foram atrás dessa resposta, que tentarei decifrá-la abaixo para você.
Falta de eventos memoráveis
Pode parecer idiota, mas primeiro é preciso deixar claro que o seu envelhecimento não tem o poder de abreviar a relação espaço-tempo do universo. Assim, você tem que considerar que não é um problema real, mas uma percepção sua.
Ainda em 1890, o psicólogo William James iniciou estudos sobre o assunto e revelou que, à medida que envelhecemos o tempo parece acelerar porque a idade adulta é acompanhada por cada vez menos eventos memoráveis.
Basta você lembrar que, quando jovem, somos cercados e eventos ‘primeiros’ ou dito iniciadores (primeiro beijo, primeiro dia da escola, primeiras férias, primeiro relacionamento, etc). Com a falta de novas experiências na vida adulta, o especialista aponta que a impressão que temos é de ausência de coisas para criar expectativas e para relembrar por mais tempo.
Em 2005, os especialistas Marc Wittman e Sandra Lehnhoff, da Universidade de Munique, recrutaram 499 participantes na faixa etária de 14 a 94 anos. Cada indivíduo preencheu uma série de questionários. A segunda parte desse questionário consistia de declarações em metáforas sobre a passagem do tempo, e os sujeitos foram solicitados a classificar cada frase de 0 (forte rejeição) a 4 (aprovação forte).
Pressão do tempo
Quando se tratava de metáforas, as pessoas entre as idades de 20 a 59 anos estavam mais propensas a selecionar declarações referentes à “pressão do tempo”, ou a noção de que o tempo está acelerando e porque não se pode concluir tudo aquilo que tinha sido previsto.
Wittman e Lehnhoff descobriu que as pessoas nesta faixa de idade (mas não adolescentes ou idosos) têm maior probabilidade de estarem no meio dos deveres profissionais e familiares, resultando na sensação de que não conseguem realizar todas as exigências da vida.
Outras tantas pesquisas com este mesmo objetivo foram feitas e descobriram que, entre aqueles indivíduos que sentiram que estavam experimentando atualmente a pressão de tempo, o tempo foi passando rapidamente em curtos intervalos de tempo (ou seja, semanas, meses). Aqueles que sentiram a pressão de tempo ao longo da última década, por outro lado, sentiram que os últimos dez anos se passaram num piscar de olhos.
Então, por que é que temos a impressão de que o final de ano de 2005 foi apenas na semana passada, enquanto para a criança tudo parece correr no tempo normal?
Nós provavelmente nunca saberemos exatamente porque isto acontece. Mas, com ajuda dos estudos, algumas teorias interessantes sobre a nossa percepção do tempo são notadas.
1# Somos norteados por eventos memoráveis
Podemos medir os intervalos de tempo pelo número de eventos que recordamos nesse período. Imagine um cara com seus 40 e poucos anos tentando fazer isto com seu trabalho estressante e cotidiano familiar repetitivo.
As memórias abundantes de seus anos no ensino médio (futebol, tarde com os amigos, festas, bebedeiras, entrada na faculdade) podem, em comparação com sua vida atual, parecer ter muito mais tempo do que os meros três anos em que ele passou.
2# A quantidade de tempo passado varia de acordo com a idade
Para uma criança de 5 anos de idade, um ano é de 20% de toda a sua vida. Para uma pessoa de 50 anos de idade, no entanto, um ano é de apenas 2% da sua vida. Esta “teoria da razão” foi proposta pelo psicólogo Pierre Janet, em 1877, e sugere que estamos constantemente a comparar intervalos de tempo com a quantidade total de tempo que já vivemos.
3# Nosso relógio biológico diminui à medida que envelhecemos
Com o envelhecimento pode vir a desaceleração de algum tipo de marca-passo interno. Em relação aos relógios físico e calendário, o tempo externo de repente parece passar mais rapidamente.
4# À medida que envelhecemos, damos menos atenção ao tempo
Quando você é uma criança em 1º de Dezembro, você está contando ansiosamente os minutos até o Papai Noel trazer seu Play 4 pela chaminé.
Quando você é um adulto em 1º de dezembro, você está um pouco mais focado no trabalho, contas a pagar, a vida familiar, programação para o final de ano, prazos de entrega, planos de viagem, compras de Natal, e todas as outras coisas que o chato mundo dos adultos nos obriga a fazer. Quanto mais atenção se concentra em tarefas como estas, menos vai notar a passagem do tempo.
5# Estresse e mais estresse
A sensação de que não há tempo suficiente para fazer as coisas pode ser reinterpretado como a sensação de que o tempo está passando rápido demais. Mesmo os indivíduos mais velhos podem continuar a sentir da mesma forma devido a deficiências físicas ou capacidade cognitivas diminuídas.
Enquanto esse sentimento pode ser inevitável, você pode ficar mais tranquilo por saber que o tempo não está, literalmente, voando. Reserve momentos para desacelerar a sua vida e rotina, aproveite o tempo disponível com sua família e amigos. Se você não pode controlar a velocidade do tempo, aproveite da melhor forma cada minuto disponível.
Fonte: Scientific American
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