Como o Homem-Aranha e o Stan Lee salvaram minha vida

Sei que hoje todos amam o Deadpool, Wolverine, Justiceiro e todos esses heróis com uma pegada mais "dark", mas me deixa te contar porque o Aranha é diferente.

Como o Homem-Aranha e o Stan Lee salvaram minha vida

“No começo, eu tinha vergonha porque eu escrevia histórias em quadrinhos enquanto outros homens construiam pontes ou faziam carreira na medicina. Foi quando eu percebi que o entretenimento é uma das coisas mais importantes na vida de muitas pessoas. Sem ele, muitos iriam para o fundo do poço. Eu senti que se você é capaz de entreter uma pessoa, você está fazendo uma coisa boa para o mundo”. – Stan Lee em entrevista ao Washington Post

Aos 12 anos de idade, eu pensava em matar todos os dias. Nem sempre tinha sido assim. Poucos anos antes, eu era uma criança feliz correndo pelo colégio. Porém, na pré-adolescência, eu era alvo de incontáveis provocações e humilhações nos mesmos corredores em que um dia eu tinha sido feliz.

Meus pais quase nunca estavam em casa e, quando estavam, problema nenhum parecia ser grande o suficiente para a atenção deles. Foram incontáveis os pedidos de ajuda a professores e orientadores, que fingiam não entender meu problema, para não ter que resolvê-lo.

“É só revidar”, me diziam. Fácil falar. Difícil é quando te batem, você revida e logo depois tem que lidar com quatro ou cinco garotos que compram a briga do outro. Quando cada tentativa de revidar acaba se tornando em uma surra e humilhação maior.

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Sozinho, na frente do espelho, eu odiava o que via. Um adolescente baixinho, de óculos, com um cabelo estranho e que nenhuma garota sequer esboçava interesse. Aos 12 anos de idade, eu odiava quem eu era e me sentia completamente sozinho no mundo. Até que eu conheci Peter Parker.

E, ao contrário de muitos na época, que conheceram o amigo da vizinhança na infame “Saga do Clone”, tive o prazer conhecer o teioso pelo melhor material possível. Suas primeiras edições feitas pela dupla Stan Lee e Steve Ditko. Foi amor à primeira teia.

Não é fácil ser o Homem-Aranha

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Sei que hoje todos amam o Deadpool, Wolverine, Justiceiro e todos esses heróis com uma pegada mais “dark”, mas me deixa te contar porque o Aranha é diferente.

É fácil resolver um problema com uma espadada em seu inimigo. É fácil resolver seus problemas com uma fortuna no bolso e uma armadura de tecnologia fantástica. É fácil matar, xingar, comprar, pagar, rasgar o bucho de quem te causa problemas… O Homem-Aranha fazia o mais difícil.

Ele era um garoto de escola com grandes poderes, mas muitas, muitas responsabilidades. Quando Peter Parker tomava uma decisão, não era sobre fazer o que era melhor pra si, mas sim, sobre fazer o que era certo. E olha que tenho propriedade para falar sobre isso. Aos 12 anos de idades, com uma paixão incrível, consumi tudo que tinha alcance das histórias do teioso.

Vi ele abrir mão de seu relacionamento com Betty Brant após o irmão dela ser morto em uma luta com Doutor Octopus. Também vi Peter desistir de ser o Homem-Aranha para, na edição seguinte, ter sua volta triunfante. Chorei ao ver o Aranha perder o amor de sua vida em seus braços, mas nenhuma história me marcou tanto como “Amazing Spider-Man 33.

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Tia May está internada em um hospital, vítima de uma doença grave. Após invadir um laboratório clandestino, conseguir a cura para salvar sua tia, o Homem Aranha cai em uma armadilha do Doutor Octopus e acaba preso embaixo dos escombros de um edifício, prestes a ser alagado.

Enquanto tenta se livrar daquela situação, a vida passa diante dos seus olhos. A morte de seu tio, as contas para pagar, os vilões que tem que enfrentar, o relacionamento fracassado… Tudo diz que ele deve desistir e aceitar seu triste fim.

Porém uma coisa lhe dá forçar para continuar: a possibilidade de salvar sua tia. É nesse momento que o herói faz um esforço hercúleo para sair debaixo dos escombros em uma das cenas mais marcantes da história do amigo da vizinhança nos quadrinhos. E é sobre isso que se trata o Homem-Aranha. Sobre não desistir, apesar de tudo.

Stan e o “Marvel Way” de contar histórias

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Quem acompanha a Marvel, sabe que ela se diferencia muito de suas distintas concorrentes pelo lado humano de seus personagens.

No Quarteto-Fantástico, temos o Coisa, um herói cujos super poderes o deixaram amaldiçoado com uma aparência horrenda. Os X-Men são perseguidos e discriminados por serem mutantes. Bruce Banner luta para tentar manter uma vída normal enquanto se controlar para não se transformar no Hulk. O lado mais humano sempre se destacou nos heróis da editora e poucos personagens dela são tão reais e palpáveis quanto o Aranha.

Mesmo com seus super-poderes, Peter Parker ainda precisa lidar com o bullying nas escola. Precisa ralar para conseguir dinheiro e ajudar sua tia com as contas e, por mais que se esforce muito, tem uma azar tremendo com as mulheres. O Homem-Aranha é sobre valorizar o que é certo, mesmo que seja a coisa mais difícil do mundo.

Em um mundo onde os heróis vestem preto, descem o tiro em todo mundo e procuram sempre o caminho mais fácil para derrotar seus inimigos, é impressionante como Peter Parker se mantém um farol acesso no meio de um monte de personagens sombrios.

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Fazer a coisa certa nem sempre é fácil. Nem sempre ganhamos aplausos no final por tomar a decisão mas ética. Nem todo mundo vai te valorizar pelo que você é e as escolhas que fez, mas no fim do dia, o que importa é você e sua consciência limpa no travesseiro.

Diferente do invencível Superman e do milionário Batman, o Homem Aranha falava PRA MIM. Cada história parecia ser escrita para aplacar a imensa tristeza que inundava meu coração. Veja bem meu amigo, Peter Parker não era o Homem-Aranha. Eu era o Homem-Aranha.

Foi com as histórias escritas por Stan Lee que aprendi a sobrevier aos dias difíceis no colégio, a começar a entender quem eram meus amigos verdadeiros e acima de tudo aprender a reconhecer onde estavam meus grandes poderes e talentos. Com os anos, a vida foi ficando mais fácil. No colegial, descobri minha galera, comecei a frequentar aulas de teatro e protagonizei diversas peças na escola. Ganhei prêmios, fiz amigos e aqueles tristes dias na frente do espelho ficaram cada vez mais longe.

Stan Lee vive

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“Todo mundo pode vencer quando as chances estão a favor. É quando é dificil… É quando aprece que não existe nenhuma chance. E é ai que importa.  Minha visão está ficando preta. Minha cabeça está doendo, mas eu tenho que segura. Está se movento. Não posso parar agora. Tenho que manter minhas forças só mais um pouco…” – Amazing Spider-Man 33

É para isso que existe a arte e o entretenimento. Para inspirar e motivar a gente. Para dar esperança. Em uma entrevista, o autor revelou saber do tamanho de sua obra. “Não sou bobo. Assim como o Mickey Mouse, em qualquer parte do mundo há um garoto usando uma camiseta ou uma jaqueta do Homem Aranha.”

Stan Lee morre, mas continua vivo. Em todos meninos que hoje vão se inspirar não apenas no Peter, como também no Miles Morales. Ou nas meninas que vão brilhar os olhos pela Spider Gwen e se ligar que elas também tem super-poderes.

Stan “The Man” Lee continua vivo naqueles que ralam o mês inteiro para pagar suas contas e, mesmo estando mortos de cansaço, conseguem por um sorriso nos lábios ao saber que não precisaram fazer nada de errado para conseguir por comida na mesa para seus filhos comer. Naqueles que escolhem ir na contramão do que é mais fácil, para luTar por aquilo que acreditam.

E Acima de tudo, Stan vai continuar vivo naqueles que sabem que com grandes poderes…. Bem, não preciso nem completar a frase. Vá em paz, Stan Lee. Excelsior.

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Edson Castro
Edson Castro

Jornalista, ilustrador, apaixonado pela vida e por viver aventuras. Coleciona HQs, tênis e boas histórias para contar.

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