Um relato não confirmado da metade do século 15 dá conta de um doente cruzou grande parte do território da Escócia e foi medicado com uma droga anestésica. Os monges celtas que o tratavam, utilizavam este medicamento com frequência. Por ter a crença de que a bebida aliviava a dor daqueles que portavam graves enfermidades, batizaram-na de aquavitae, ou água da vida.
A droga que os monges produziam era baseada em uma mistura de maltes especiais destilados. Quando se popularizou na Escócia, a palavra aquavitae foi traduzida para o gaélico escocês como uisge beatha e, posteriormente, usquebah (cuja pronúncia se parece com uísque). Tem-se ai a formação do whisky escocês, ou simplesmente scotch.
Embora produzido em diversas partes do mundo e com receitas diferentes, a Escócia foi a única a se apropriar da palavra whisky – outros lugares a bebida é conhecida por whiskey.
O primeiro lugar onde o destilado foi visto tinha em suas terras as melhores características de produção: infinidades e variedades de fontes de água, pouca população e baixa poluição, e solo vulcânico de onde vem a turfa, um carvão vegetal responsável por dar um gosto defumado à bebida.
Em uma de nossas andanças etílicas, fomos convidados a participar de uma degustação de Chivas Regal 18 anos, com o master na marca de whisky, Eduardo Rotella. No Lounge do Bar, no Jockey Club, ele foi como um professor, ensinando a um grupo restrito as noções básicas que como apreciar o bom scotch.
Legítimo Whisky escocês
Na Escócia, o whisky tem como ingredientes principais a cevada, água do solo e levedura. Para ser um legítimo scotch, deve ser feito 100% no país e envelhecer lá por, no mínimo, três anos. Seu teor alcoólico não deve ser inferior a 40º.
No país, ele pode ser classificado por três itens: o tipo, a região e a idade. Destrinchando cada um, você já pode ter uma boa base para demostrar seus conhecimentos da bebida por ai. Vamos a eles.
Tipo
O primeiro tipo de whisky produzido na Escócia e no Mundo foi o single malt. Com 100% de cevada e produção local, é considerado por muitos como a essência da bebida e predileto dos escoceses. O sabor é mais marcante e o gosto é mais seco do que os outros.
Depois veio o single grain, que admite a mistura de grãos não maltados em sua composição. Foi criado para acelerar o processo de produção, muito mais artesanal e demorado no primeiro tipo.
O terceiro é o blended, que reúne vários whiskys dos dois tipos acima para formar uma bebida composta. O mundo conhece esse tipo, por oferecer vários sabores, ser de mais fácil produção e ainda sim conservar suas qualidades primordiais. O Chivas 18 anos é um exemplo de blended, podendo oferecer até 84 notas de sabor em uma mesma garrafa.
Região
São quatro as regiões que produzem o whisky escocês, cada uma delas oferecem uma característica própria à bebida.
O nordeste (Speyside) é responsável por mais de 50% de produção do país e entrega os sabores mais florais. Em Highlands, ao norte de Ediburgo, a bebida tem sabores mais ardidos, aromáticos e herbais.
Em Lowland, os sabores são mais doces e delicados e, a pequena península Islay entrega gostos mais defumados, salgados e secos. Como o whisky exportado para os outros países é um blended de todas as regiões, a que levar a maior porcentagem na composição ganha o nome na garrafa.
Idade
Mais conhecida do público comum, a idade foi o último item analisado por Eduardo Rotella. Ela define o tempo em que a bebida ficou armazenada no barril. Depois que o líquido é envasado, não sofre alterações benéficas a destilado, com a tendência a deteriorar com o longo do tempo.
Os scotch são envelhecidos somente em barris de carvalho usados, com cada barril tendo, no máximo, 60 anos de vida.
Existem whiskys envelhecidos de oito a até 40 anos. Aqueles que não têm informações em seus rótulos oferecem, pelo menos, três anos obrigatórios.
Vale enfatizar que, como o whisky exportado é uma reunião de destilados, a idade apresentada no rótulo informa sempre a data de envelhecimento da mais nova bebida. Sendo assim, em um scotch 18 anos, pode haver compostos mais velhos, mas nunca mais novos que 18 anos.
Durante o envelhecimento, boa parte do whisky evapora e quanto mais velho, mais líquido a bebida perde. Como exemplo, um 12 anos, que perde 25% de destilado, enquanto um 18 anos perde 35%. Apesar disso, a percepção de álcool no paladar diminui com o tempo.
Evite:
– Você pode até misturar energético a um whisky 8 anos, mas fazer isso em uma bebida acima de 12 anos mostra o pouco conhecimento e intimidade com o destilado.
– Drinks e coquetéis também são pouco recomendados para fazer com whiskys acima de 12 anos;
– Evite pedras de gelo no whisky, elas só farão adormecer suas papilas gustativas e anestesiar as sensações e sabores que a bebida proporciona;
– Para evitar a ressaca e a dor de cabeça (desidratação do cérebro) o recomendado é mesclar um copo de whisky com uma garrafa de água;
– Se você colocar um pouco de água no whisky, vai diminuir a concentração de álcool da bebida e poderá sentir mais aromas e sabores que o destilado proporciona.
– Girar a taça ainda apoiada na mesa ajuda a liberar mais aromas.
Fotos: Cleiby Trevisan
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