Por que pessoas inteligentes bebem mais álcool?

Segundo um novo estudo, pessoas mais inteligentes costumam beber mais e ficarem mais bêbadas do que as menos inteligentes.

Um artigo, publicado na revista Psychology Today, analisou esse tipo de comportamento e chegou a uma conclusão quase inédita.

O consumo humano de álcool provavelmente é original do consumo de frutas. A fermentação dos açúcares por leveduras presentes naturalmente em frutas maduras e em decomposição produz o etanol, conhecido por intoxicar aves e mamíferos.

No entanto, a quantidade de álcool etanol nessas frutas varia na faixa de 5%, algo comparável à porcentagem alcoólica de uma cerveja bem leve – e você não consegue realmente ficar bêbado se consumir uma cerveja com essa porcentagem alcoólica. O vinho, por exemplo, tem cerca de 15% de álcool, as bebidas destiladas variam entre 20% e 95%.

Entretanto, a fermentação intencional de frutas e grãos para produzir etanol surgiu apenas recentemente na história humana.

A produção de cerveja, que conta com uma grande quantidade de grãos, e a produção de vinho, que também exige uma grande quantidade de uvas, não poderia ter ocorrido antes do advento da agricultura em torno de 8.000 aC e, consequentemente, do surgimento do excedente agrícola.

A evidência arqueológica data a produção de cerveja e vinho na Mesopotâmia por volta de 6.000 aC. A origem de bebidas destiladas é bem mais recente e, segundo vestígios, aconteceu entre o Oriente Médio e a China cerca de 700 dC.

A palavra álcool, aliás, é de origem árabe.

O fator evolutivo

Créditos: Reprodução

Então, a experiência humana com uma concentração alcoólica maior que 5% é bem recente e qualquer consumo de álcool antes do surgimento da agricultura foi realizado de forma não intencional por causa de frutas fermentadas.

A hipótese defendida pela Psychology Today é de que, por isso, indivíduos mais inteligentes preferem beber álcool – cerveja, vinho e bebidas destiladas, ao contrário dos seres humanos menos inteligentes, porque a substância e o método de consumo são consequências da evolução humana e importantes para a nossa adaptação.

Para encorpar essa hipótese, a Psychology Today relatou que crianças inteligentes nos Estados Unidos e Reino Unido consumem mais álcool na fase adulta e em maiores quantidades, ao contrário das crianças menos inteligentes.

Para alcançar essas informações, foram levadas em consideração variáveis demográficas, sexo, raça, etnia, religião, estado civil, número de filhos, educação, salário, depressão, satisfação com a vida, frequência de socialização com os amigos, número de parceiros sexuais recentes, classe social da infância e educação dos pais.

O gráfico a seguir mostra a associação entre inteligência infantil (agrupadas em cinco “classes cognitivas”: “very dull – muito ignorante” com QI menor que 75; “dull – ignorante” com o QI menor que 90; “normal – com o QI entre 90 e 110; “bright – inteligente” com o QI entre 110 e 125; e “very bright – muito inteligente – com o QI acima de 125) e o fator latente para o consumo frequente de álcool.

A última variável é construída a partir de um grande número de indicadores para a frequência de consumo de álcool ao longo da vida adulta e padronizada para ter uma média de 0 e um desvio padrão de 1,0. Os dados foram coletados através do National Child Development Study (NCDS) no Reino Unido.

Há uma clara associação entre inteligência infantil (medida antes dos 16 anos) e a frequência do consumo de álcool entre os 20 e 40 anos de idade.

Crédito: Reprodução

O segundo gráfico faz a relação entre a inteligência dos grupos analisados e a quantidade de álcool consumido por elas na fase adulta, e o terceiro gráfico analisa a associação entre a inteligência infantil medida no Junior High e no High School – algo, aqui no Brasil, equivalente ao período da quinta série até o terceiro colegial – e o consumo de álcool na fase adulta.

Quanto mais inteligentes os norte-americanos se apresentam durante a infância, mais álcool eles consomem como adultos.

Crédito: Reprodução

Crédito: Reprodução

É importante observar que tanto a renda mensal das famílias e a educação das crianças, assim como a classe social dos pais e sua educação, foram controlados na análise geral desses dados nos Estados Unidos e Reino Unido.

Isso quer dizer que não é porque as pessoas mais inteligentes ocupam empregos com o melhor salário e mais importantes, os quais podem acabar as obrigando a consumir mais álcool em situações formais e eventos sociais, que elas bebem mais álcool. Parece que a sua própria inteligência, ao invés dos correlativos de inteligência, as fazem beber mais e com maior frequência.

Compartilhe
Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

Comentários
Importante - Os comentários realizados nesse artigo são de inteira responsabilidade do autor (você), antes de expressar sua opinião sobre temas sensíveis, leia nossos termos de uso