Relacionamento sem sexo é normal?

Dá pra existir amor sem sexo em uma relação? Qual é o limite entre o tesão e o sentimento?

A pressão é enorme por todos os lados: você precisa transar; você e sua namorada precisam, pelo menos, transar quatro vezes por semana. Um mês sem sexo não é saudável, por que você não está atingindo o orgasmo? Você precisa ir ao médico! Um homem precisa gozar pelo menos cinco vezes na semana.

Quantas vezes você já não ouviu esse tipo de frase e afirmação pela boca de médicos ou até mesmo de leigos? E quantas vezes você se perguntou se eles realmente estavam certos?


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A pressão social, mesmo em nosso subconsciente, trabalha de uma forma cruel sobre nossos relacionamentos e isso, é claro, reflete no nosso bem-estar. Um homem precisa estar com tesão o tempo inteiro, afinal, ele é homem.

Quando isso não acontece, o problema está nele ou em sua parceira e, nesse ciclo vicioso, um relacionamento feliz pode chegar ao fim por causa de um problema implantado por terceiros.

Iris Krasnow é uma escritora e professora de jornalismo norte-americana. Recentemente, ela publicou o livro “Sex After… Women Share How Intimacy Changes as Life Changes” – em tradução livre: O Sexo Depois… Mulheres revelam como a intimidade muda à medida que a vida muda. Para escrevê-lo, ela escutou dezenas de histórias de amor duradouro que não inclui sexo.

As entrevistadas, apesar de viverem vidas completamente diferentes, apontaram uma característica em comum: o que une os casais por tanto tempo é o coração e a história, não o sexo.

Créditos: Reprodução

Lyanne, de 55 anos, foi uma das mulheres que conversou com Iris Krasnow para a produção do livro. Ela e seu marido acabaram de comemorar 18 anos de casados e ambos declararam estar perdidamente apaixonados. Lyanne, ao final da conversa com Iris, afirmou: “Preciso me sentir sexy, mas não preciso de sexo”, e também disse não transar com o seu marido desde o Ano Novo de 2011.

Mas nem sempre foi assim: “Quando conheci Ron, nossa relação era altamente sexual. Nosso recorde foi cinco vezes em um dia, e transávamos em média seis vezes por semana. Então a média passou a ser uma vez por semana, depois duas vezes por mês, e agora nada. Quando cheguei à menopausa, eu tinha muito pouca lubrificação, e ao mesmo tempo, meu interesse por sexo começou a diminuir. Meu marido aceitou isso muito bem, porque a queda da libido dele acompanhou a minha”.

Mesmo sem o sexo, o amor pareceu ter aumentado: “No entanto, esse é o homem por quem estou mais loucamente apaixonada hoje do que estava quando transávamos várias vezes por dia. Já vivemos tantas coisas juntos, criamos filhos, viajamos, conversamos durante horas a fio. Temos um vínculo emocional e espiritual incrível. É mais que uma falta de hormônios – simplesmente não há mais aquele desejo de um agarrar o outro. E nenhum de nós dois quer tomar remédios para induzir o desejo”.

Iris Krasnow também revela outro problema na hora de pesquisar e entender comportamentos sexuais: as pessoas mentem, e muito. Estudiosos da área não conseguem traçar estatísticas precisas sobre a frequência em que os casais realmente fazem sexo justamente por causa disso.

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Porém, se você acha que a redução do libido é característica apenas das pessoas mais velhas, está enganado.

Uma pesquisa divulgada em maio de 2015 apontou que os jovens nascidos a partir de 1980, ao contrário do que o senso comum acredita, estão fazendo menos sexo do que seus pais faziam com a mesma idade.

O estudo, liderado pela professora Jean M. Twenge, do departamento de Psicologia da Universidade Estadual de San Diego, foi compartilhado pelo Jornal Folha de S.Paulo e entrevistou mais de 33 mil pessoas.

As pessoas da geração “baby-boomer”, nascidas entre 1950 e 1960, e da primeira fase da “geração X”, tiveram em média 11 parceiros sexuais quando adultas; já os adultos da segunda fase da “geração X” – nascidos nos anos 1970 – tiveram 10. Porém, quem nasceu depois teve ainda menos parceiros. A “geração Y” ou “geração do milênio”, segue uma média de oito parceiros sexuais na vida adulta.

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No Japão, por exemplo, cada vez menos japoneses praticam sexo. As jornadas cansativas de trabalho podem influenciar esse tipo de comportamento, mas muitos jovens declararam estar praticando o celibato voluntário.

Um recente estudo da Associação Japonesa de Planejamento Familiar, divulgado em 2015, analisou o comportamento de 3.000 japoneses e descobriu que 20% dos homens jovens entre 25 e 29 simplesmente não enxergam o sexo como algo interessante mas, mesmo assim, seguem em relacionamentos afetivos e demonstram carinho e amor pelas parceiras.

Nesse cenário, a Personal Sex trainer Fátima Mourah afirma que a ausência total de sexo é impossível porque o sexo é uma necessidade do corpo. O Psicólogo e Especialista em Relacionamentos Alexandre Bez também acha que o sexo é importantíssimo para uma vida saudável entre o casal. Para ele, “relacionamento sem sexo é totalmente inviável e destrutivo do ponto de vista psicológico e orgânico”.

Porém, seguindo a linha de raciocínio de Alexandre Bez, como os casais que completam 20 ou 30 anos juntos – entrevistados por Iris Krasnow – conseguem demonstrar e sentir tanta felicidade?

Como sempre, a resposta para essa pergunta seria encontrar o equilíbrio e não se sentir desconfortável quando o tesão simplesmente não aparecer. Sexo não é a base para um relacionamento duradouro, é apenas um complemento: fazê-lo por obrigação pode incentivar outros comportamentos nocivos e prejudiciais ao casal, como um estresse gerado por uma transa sem libido e sentimentos de rejeição e insegurança quando o homem não consegue atingir o orgasmo e nem fazer a mulher gozar.

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Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

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