A gente cresce com aquela ideia formada e carimbada de que mulher gosta de cafajeste. Crescemos achando que mulher não se apaixona pelo cara bonzinho, pelo amigo sempre presente, pelo bom rapaz.
Quando eu era adolescente, costumava dizer isso para as minhas amigas: “você só gosta dos caras que não prestam”. Em alguns momentos, eu até achei que isso também acontecia comigo, achei que eu só conseguia realmente me interessar pelos garotos quando eles não ligavam pra mim.
Um dia, depois de ficar horas sentada na frente do computador esperando um garoto entrar no MSN na hora combinada – pois é, em meados de 2006 a gente marcava encontro pelo MSN – eu entendi a razão pela qual o mito de que “tem que pisar pra conquistar” se espalhava com tanta facilidade.
Quando alguém simplesmente não liga, consequentemente não sente.
Aquele garoto não entrou no MSN naquele horário porque, pra ele, o encontro que eu fantasiei na minha cabeça não existia. Ele não via como algo importante. Eu, sim.
Então, na minha cabeça, eu fiquei com a ideia de que ele não prestava e eu estava gostando de alguém que pisava em mim. Na cabeça dele, entretanto, eu sequer fiz diferença.
Então, ele provavelmente não se lembra da garota que ficou esperando ele entrar no MSN, mas com certeza se lembra da garota que, provavelmente naquela mesma época, fez o mesmo com ele.
Conclusão: eu estava apaixonada por um garoto que pisou em mim, e ele apaixonado por uma garota que pisou nele quando, na verdade, ninguém pisou em ninguém.
O interesse simplesmente não foi mútuo.
A gente espalha essa afirmação acreditando que ela é verdade porque, na nossa perspectiva, ela é. Na nossa perspectiva, a outra pessoa tem a obrigação de sentir o mesmo e, além disso, adivinhar o que sentimos.
Quando criamos essa expectativa e ela não é atendida, ficamos frustrados, colocamos a culpa na outra pessoa e esquecemos que sentimento não se pede.
É claro que algumas pessoas sabem o que a outra sente. É claro que algumas pessoas gostam de ver a outra se desdobrando e bajulando.
Quem precisa cultivar essa atenção alimentando um sentimento puro de terceiros provavelmente vai se sentir atacado quando for ignorado. Mas será que essa pessoa vale a pena?
Na verdade, será que vale a pena tratar alguém mal apenas pelo jogo da conquista? Será que, ao tomar essa atitude, você não está se tornando o tipo de pessoa que pisa nos outros apenas para alimentar o seu ego?
O grande questionamento, então, não é a veracidade desse mito, é, na verdade, qual tipo de pessoa você quer ser dentro de um relacionamento.
Quando você achar que vale a pena pisar em alguém, repense.
Talvez esse alguém simplesmente não goste de você e isso não faz dele uma pessoa ruim e, se esse alguém estiver propositalmente te mantendo por perto apenas para alimentar o próprio ego, será que vale a pena ter esse alguém por perto?