Porque eu amo pegar a estrada

Em meados de 2008, meus pais se divorciaram. Coisa de dois anos depois, meu pai acabou se casando novamente e indo morar em outra cidade, próxima à São Paulo. De lá pra cá, toda vez que quero ver o velho, preciso encarar cerca de uma hora de estrada.

Até hoje, toda vez que tenho um problema, parto de encontro a ele. Não só pra poder passar um tempo com um dos homens que mais admiro, mas também para por as minhas ideias no lugar enquanto estou na estrada.

Poucas situações me acalmam tanto e fazem me encontrar, do que quando estou eu, meu carro e a estrada. E este texto é sobre isso.

O segredo para pegar a estrada

“A vida é mais bonita quando você está na estrada a caminho de algum lugar.” – Orhan Pamuk

Comecei a pegar a estrada com mais frequência durante os anos de 2009 e 2010, enquanto organizava eventos. Em busca de lugares para receber nossos jogos e festas, visitei diversas cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais.

Tinha dias que chegava a passar mais de 8 horas dirigindo. Nunca me incomodei. O segredo está na companhia e na escolha da trilha sonora.

Um bom copiloto do seu lado é aquele que entende os momentos em que a viagem precisa de silêncio e quais são aquelas horas para puxar uma conversa do nada.

A paisagem ajuda muito também. Gosto dos relances que você tem do litoral quando desce a Serra, de avistar as plantações de laranja perto do lado norte do Estado de São Paulo e do tesão que é pegar uma estrada com trechos próximos do mar, como a Rio-Santos, entre Ubatuba e Paraty.

Porém, às vezes você tem a infelicidade de viajar com uma companhia merda do seu lado e nem as mais bela das paisagens parece ajudar.

Para esses momentos, recomendo aumentar o som e abrir a janela, porque a música é uma capítulo quando você cai na estrada.

O som da estrada

Tudo que eu já fui, carrego comigo. Tudo aquilo que serei me espera na estrada adianta – Ma Jian

Entre meus três CDs favoritos para ouvir na estrada estão “Definitely Maybe”, do Oasis; a trilha sonora do filme “Tron Legacy”, feita pelo Daft Punk; e “Come Away with Me”, da Norah Jones. Cada um tem um momento certo.

Acelerar a caminho do mar ou para passar o final de semana na chácara com os amigos pede um rock. Voltar a noite de um evento em outra cidade, pede um jazz ou um sambinha bom.

Cada música tem seu momento e flow da caixa de som parece se misturar com a paisagem pintada nas janelas do carro, fazendo uma arte moderna musicada. Até mesmo o silêncio tem seu espaço.

Às vezes é bom só abaixar o som e curtir o barulho do carro e dos outros veículos passando ao seu lado. É bom para por os pensamentos no lugar ou até mesmo para não pensar em nada.

Dirigir na estrada sozinho é quase que um momento de meditação.

Você está preso naquele veículo indo do ponto A para o ponto B, porém não pode se distrair perdendo tempo no Facebook ou vendo vídeos idiotas no Youtube. É só você com você mesmo e suas ideias.

Às vezes, quando problema é maior, pego o carro simplesmente vou até praia ver o mar. Como alguma coisa, tomo uma água de coco e volto para casa com a cabeça fresca ou pouco mais perto de estar no lugar. Mas não existe um jeito certo de cair na estrada.

Você pode ir rápido ou com calma. Pode parar no caminho para curtir um mirante ou fazer uma jornada de horas sem sair do carro. Pode fazer um bate-volta ou pode nunca mais voltar.  A escolha é sua.

A estrada é como uma folha em branco. Aceita tudo.