Concordo que cada pessoa tem seu direito de desejar, acreditar e sonhar com o que quiser, mas, depois da conversa, percebi que talvez, analisando friamente as entrelinhas, casar não seja mesmo tão grande coisa.
Mas, calma lá, logo eu dizendo isso? Sim. Logo eu. O grande entusiasta das cerimônias. Pois realmente não é algo essencial para vida. Para quem é ávido do casamento isso pode até soar um pouco ofensivo ou como pura besteira. Ou inveja dos casados. Mas, chega pra cá e vamos analisar alguns pontos de vista e, caso isso não faça diferença alguma, vá em frente e prepare seu traje de gala -e contate o melhor e mais caríssimo Buffet, que todos irão reclamar- e seja feliz.
Percebi que por estar incansavelmente em busca de uma relação duradoura, perdi centenas de pequenos momentos. Perdi sorrisos despretensiosos e tímidos enquanto buscava por um sorriso emocionado após o tão sonhado “sim”. Perdi pequenas peças de um quebra cabeça que sempre estará incompleto. Peças quais, talvez, com muita sorte, estarão escondidas dentro de um bolso falso no vestido de noivas da minha futura esposa.
Hoje vejo -e admito que faço- tudo planejado, com rótulos que fazem o simples perder a fluidez e entrar em um ciclo turbulento. Com os aplicativos de relacionamentos, saímos de casa tendo um primeiro encontro agendado. Nada é surpresa. Você sabe que estarei de camiseta vermelha. E sabe que vamos nos beijar em frente à sua casa. Três encontros depois, aplicamos a lei da exclusividade para mostrar que queremos algo sério e com fidelidade. Depois, dentro de um e três meses, estaremos namorando.
O namoro é a virada de ampulheta para os apressados, onde todas atitudes serão pensadas em preparar o terreno para dar o próximo passo: o noivado. Não estou dizendo que você não deve ter planos, longe disso, mas traçar metas de vida para os próximos cinquenta anos com alguém que você conhece há um, parece extrema loucura.
Sair, ficar, namorar, noivar, casar e todos os outros nomes que indicam relação entre duas pessoas são apenas status e mais nada. É como um jogo de RPG, repleto de fases, testes e missões.
Ficamos viciados na evolução e planejamos estrategicamente o avanço pelo o caminho mais curto. Não sei vocês, mas eu quero estar em um relacionamento para compartilhar momentos, dividir fardos, ser feliz e conquistar -ou construir um- mundo ao lado de alguém especial, não para evoluir de nível ou passar fases parecendo estar em uma eterna disputa de ego, muitas vezes motivada por um casal conhecido que acaba se tornando rival. Não quero ser como um lutador em busca da faixa preta. Sempre preferi viajar ao lado da janela, admirando os incríveis detalhes do caminho até o destino final.
Por que não podemos simplesmente aproveitar a vida a dois sem a pressão dos holofotes das redes sociais, status e nomenclaturas? Um papel cheio de carimbos e assinaturas de testemunhas, um par de alianças, o status do Facebook ou um sobrenome diferente não irão diminuir uma gota de todo mar de amor que sentirei em meu peito.
A melhor terapia para curar um amor é amar. Mas estou falando de amor genuíno, que não termina ou enfraquece após uma mensagem não lida rapidamente.
Aquela história de “crise no relacionamento” só existe quando passamos tempo demais tentando arrumar as coisas para ficar tudo bem, tentando trazer uma felicidade que já estava ali, mas foi encoberta pelos problemas que reviramos.
Podemos viver muito bem sem papel passado, cerimônia, véu, buquê ou até mesmo sem as fotos ou filmagens que muitas vezes só servem para reunir momentos engraçados em reuniões familiares aos domingos. E isso você pode muito bem fazer assistindo ao programa do Faustão.
E, por mais que possa parecer, não estou cravando uma bandeira em prol dos solteiros e dos que acham que a vida a dois é pura balela. Apenas quero que este texto te faça abrir os olhos para um assunto que sim, deve sempre ser levado em conta e a sério, mas, não tão a sério a ponto de perder noites em claro. Aprenda que um casamento é apenas um casamento. Um evento.
Do que adianta comemorar bodas de ouro se a felicidade ficou esquecida nas bodas de papel?
Eu valorizo, quero viver e quero também que você viva experiências intensas, junto ao aprendizado cotidiano, doação, prazer, cumplicidade e encorajamento. Quero que o sentimento de “na saúde e na doença” apareça antes mesmo de eu ter que jurar isso na frente de uma plateia.
Deixem os celulares de lado, troquem carinhos e sintam a conexão sincera que, sinceramente, dificilmente veremos nas fotos daquele casal maneiro do Instagram, que rodam o mundo fazendo poses e registrando sorrisos amarelos. Sentimentos reais não precisam ser capturados em fotos e muito menos serem expostos em cerimônias. Sejam felizes hoje, agora, já; e não esperem por datas marcadas e nenhum convite no mundo para amarem com toda intensidade a pessoa ao seu lado.
O amor é simples.
E sua felicidade não precisa de contrato.
► Texto escrito por Felipe Rocha, criador do @tipobilhete . Engenheiro Civil que, entre os cálculos e cronogramas, escreve frases e pequenos textos em sua página. Apaixonado por coisas simples, cozinha, livros e filmes.
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