O Ex-Apaixonado

Nesta crônica, você descobre como é viver a vida em vôo solo

O Ex-Apaixonado

Isso te deixa completamente abobalhado. Isso, esse negócio de estar apaixonado. É uma anestesia em tempo integral. Não tem tempo ruim, cara. Um ser nesse estado com duração imprevisível constroi uma bolha semi-transparente ao redor de si e do objeto de adoração, e vê/ouve/fala tudo meio distorcido.

Ah, a vida é bela, quentinha, dormir de conchinha. Um blues, nesse momento, pode não fazer muito sentido, e passa a gostar até de músicas que antes achava cafona demais. Jura de pé junto que não mudou nadinha em relação a quando estava solteiro.

Um ex-apaixonado, depois que passa o luto, a desilusão e aquele apego sufocante, percebe de forma abrupta (e às vezes dolorosa), que em algum momento essa bolha se rompeu. Não dá para especificar em que ponto isso acontece, mas é tiro e queda. Nessa etapa, é fato interagir mais nas festas, ainda que não esteja à procura de ninguém.

Aliás, quando não se está com outras intenções, é bem curioso: Dança-se livremente, sem medo de soar ridículo (e quase sempre se é). Faz amizade mais facilmente, pois percebe que o mundo é feito disso mesmo. Porque o apaixonado, coitado, acha que o amor é autossuficiente e os atores ao redor, coadjuvantes.

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Estar em vôo solo permite ser um espectador do tipo Full HD, 4K, ou alguma próxima tecnologia visual que ainda vão inventar, mas que permite ver cada pé de galinha e sorriso amarelo, com uma desconfiança realista, daquela que permite saber melhor quando está sendo enganado. Alguns seres apaixonados, infelizmente, acabam achando que tudo é – atenção para palavra da moda – recalque.

Verão neste texto uma pura extensão da amargura. Tudo bem, está perdoado. Mas não é nada disso, quem vê de fora enxerga, inclusive, a beleza que é um casal em estado de graça. E também vê além da linha do Equador, onde se pode sentir todas as dores do mundo.

Contempla a situação como um todo, quase a capa de “The dark side of the moon”, do Pink Floyd: a escuridão, o prisma, a luz e o efeito que a mesma provoca. E não é que, às vezes, dá vontade de estar do lado do arco-íris?

Texto escrito por Marco Sá, dono do Em Sá Maior. carioca, músico e poeta de poucas métricas. Administrador por formação e redator por vocação. Adora essas coisas de internet e só não joga nas onze porque é baixinho.

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Colaboradores MHM
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