Marina Abramovic reencontra Ulay e a complexidade daquele silêncio

Vocês já devem ter visto pelas redes sociais um vídeo em que a artista performática Marina Abramovic reencontra Ulay, seu ex-companheiro, que aconteceu durante a exposição “The Artist is Present” (“A artista está presente”), no MoMa, em Nova York (2010). O momento registrado em vídeo foi a performance inédita na qual a artista pediu que […]

Apresentamos a história que está por trás do vídeo de encontro do casal

Vocês já devem ter visto pelas redes sociais um vídeo em que a artista performática Marina Abramovic reencontra Ulay, seu ex-companheiro, que aconteceu durante a exposição “The Artist is Present” (“A artista está presente”), no MoMa, em Nova York (2010).

O momento registrado em vídeo foi a performance inédita na qual a artista pediu que se instalasse uma mesa e duas cadeiras pra que as pessoas sentassem a sua frente compartilhasse alguns minutos de silêncio. Ela permaneceu muda durante toda a exposição, que durou três meses ou exatamente 736.030 minutos, de acordo com as contas dela. Muitas pessoas choravam só com o contato e uma pessoa chegou a ficar sete horas na sua frente.

Marina Abramovic e Ulay viveram e trabalharam juntos por 12 anos e se separaram em 1988. Ele apareceu sem avisar no evento e o registro é realmente tocante, pois foi o primeiro encontro deles desde a separação. Ela não se conteve em lágrimas e esse momento foi o único em que Marina esboçou emoção.

O que boa parte não sabe é que aquela cena foi somente à ponta do iceberg de uma história longa e intensa, com alegrias e tristezas é que ficou eternizada no silêncio daqueles minutos entre os dois. Qualquer coisa dita naquele instante seria infinitamente menor do que os pensamentos que consumiam os dois e que não foram revertidos em fala.

Eu tive acesso a esse vídeo quando fiz um curso de história da arte. Com um pouco de pesquisa na web e uma baita ajuda de um texto traduzido do The New Yorker pela Bravo, tento aprofundar o encontro, mostrando o que os dois passaram até chegar naquele momento.

A história por trás do vídeo
Marina Abramovic reencontra Ulay e o poder do silêncio 4

Marina era filha de católicos e heróis da Segunda Guerra Mundial. Ulay era filho de um soldado nazista. Eles se encontraram em 1975. A química entre eles foi imediata, de acordo com o próprio relato da artista.

“Fomos diretamente para a casa dele e ficamos na cama durante dez dias. Quando voltei para casa, fiquei desesperada de amor e não conseguia andar ou falar”. Ela estava casada, naquela época, mas essa união era um tanto estranha. Cada um vivia com seus próprios pais, e Marina tinha um rígido toque de recolher: dez horas. (Eles se divorciaram em 1977.) A mãe de Marina chamou a polícia quando a filha “fugiu” alguns meses mais tarde, aos 29 anos, para reencontrar sua alma gêmea.

Juntos, produziram arte durante 12 anos nômades, entre 1976 e 1988, viajando em um trailer. Eles se diziam um só corpo (nascidos no mesmo dia, em anos diferentes), feito de duas cabeças, mas com o mesmo propósito artístico.

Ulay participou de algumas das maiores obras da carreira da artista, como “Imponderabilia”, de 1977, que marcou a história da arte performática e produziram imagens clássicas.

Marina e Ulay permaneceram juntos até 1988, quando ele resolveu terminar devido à entrega de Marina por sua carreira artística e a não vontade de formar uma família com filhos. O fim provocou revolta da artista que desabafou. “Todos se esforçam tanto para começar um relacionamento e tão pouco para acabar com ele”.

Mas nem tudo foram flores no relacionamento deles. Em 2003, Marina revelou que o término aconteceu também por causa de uma traição de Ulay e que ele ficou com todas as obras depois da separação, tornando sua vida um inferno.

Segundo Marina, ela só conseguiu recuperar as obras comprando tudo de Ulay de novo. E assim, depois deste término doloroso, eles ficaram sem se ver durante 22 anos. Até o momento da preparação para a exposição no MoMa, relatado no vídeo.

Marina Abramovic reencontra Ulay e o poder do silêncio 2

Depois de conhecer a história toda, agora você pode dizer que entende um pouquinho melhor a complexidade daquele silêncio.

Queremos saber: você já passou por uma situação assim, onde o silêncio era a melhor e mais dura resposta a dar ou receber de alguém?

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Leonardo Filomeno
Leonardo Filomeno

Jornalista, Sommelier de Cervejas, fã de esportes e um camarada que vive dando pitacos na vida alheia

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