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Chegamos ao Outubro Rosa e muitos de vocês devem estar se perguntando: Qual o papel do homem na campanha? Apesar do protagonismo feminino, o homem pode desenvolver um papel muito importante com as mulheres de sua vida. O de conscientização e acolhimento.
Infelizmente, não são todos os homens que desempenham esse papel. Muitas mulheres ainda têm que lidar com o abandono, após o diagnóstico de câncer de mama. Por isso, trouxemos alguns dados importantes sobre o impacto do câncer de mama na vida de uma mulher. Caso você esteja passando por essa situação com sua mãe, esposa, irmã, amiga ou filha, poderá entender melhor como é a situação para elas e como você pode ajudá-las.
Caso seja a esposa, a Sociedade Brasileira de Mastologia fez um artigo sobre a importância do homem no tratamento da mulher com câncer de mama. Nele, a mastologista Dra. Solange Moraes Sanches, explica qual o papel do homem durante esse tratamento.
O companheiro tem um papel imprescindível. Ele vai ser a pessoa que estará em todas as fases, desde o diagnóstico. Muitas vezes, até assumindo um protagonismo de mostrar que essa mulher é muito mais do que uma mama, do que um cabelo., explica a Dra É importante que a paciente se sinta amada, admirada e aceita. O companheiro é quem pode dar o suporte e o reforço na autoestima e na confiança que ela precisa para enfrentar todo o tratamento, completa a Dra.
Apenas o fato de descobrir que possui um câncer que é responsável por uma alta taxa de mortalidade entre as mulheres já é suficiente para impactar a vida de alguém. No entanto, além da doença, há diversos outros fatores que são impactados na vida dessas mulheres. Os efeitos do tratamento de um câncer de mama podem, por exemplo, afetar negativamente a vida familiar, profissional e sexual da mulher.
Existem estudos que mostram como a volta ao trabalho pode ser um processo extremamente difícil para mulheres após o tratamento de câncer. Principalmente para as que passam por mastectomia (retirada total da mama), dissecção de linfonodo axilar, ou recebem um tratamento mais intenso. Estas, têm maiores chances de nem voltar ao trabalho.
Na vida familiar, também sofre um impacto. Isso porque muitas das vezes a família se torna responsável pelos cuidados. Podendo causar impacto em duas situações complicadas: a primeira, é a influência direta na vida do familiar que tomou a responsabilidade de cuidador e a segunda, a sensação de impotência por parte da pessoa que está recebendo cuidados.
A vida sexual também tende a ser afetada. Não só pelas questões psicológicas envolvendo a doença, mas também pelos efeitos do tratamento. Isso porque alguns tratamentos podem causar secura vaginal. Tornando o sexo com penetração desconfortável para as mulheres. Ainda há os casos onde existe uma dificuldade na excitação, falta do desejo sexual e até mesmo dificuldades em atingir o orgasmo.
Ou seja, a vida da mulher é impactada ao ponto onde ela pode perder o parceiro, o emprego e até mesmo a boa relação familiar.
São muitos os relatos de abandono após o diagnóstico do câncer de mama. Independente do estágio da doença, sendo necessária ou não a realização da mastectomia, muitas mulheres se veem na situação de lidar, ainda, com o abandono por parte de seus cônjuges. Segundo a mastologista Fernanda Torras, em entrevista realizada pela rádio CBN em 2019, cerca de 70% das mulheres diagnosticadas com câncer na mama passam pelo abandono.
Já uma pesquisa de 2015, realizada no Hospital de Câncer de Barretos (SP), mostrou que 40% das mulheres que faziam tratamento com radioterapia ou quimioterapia foram abandonadas pelos maridos. A descoberta da doença por si só já causa diversos impactos.
Lidar com o abandono pode causar impactos ainda mais intensos. Segundo um estudo realizado pelo Observatório de Oncologia, pacientes com câncer de mama têm de 10% a 25% de chances de desenvolver um quadro depressivo.
Em 2009, uma pesquisa realizada pelas Universidades de Stanford e Utah e pelo centro de pesquisa Seattle Cancer Care Alliance, nos Estados Unidos, mostrou que as mulheres têm até 6 vezes mais chances de serem abandonadas quando diagnosticadas com uma doença grave. De acordo com o artigo, enquanto 3% dos homens que participaram do estudo passaram por um divórcio, 20,8% das mulheres sofreram com o fim do matrimônio.
O gênero feminino foi o indicador mais forte de separação ou divórcio em cada um dos grupos de pacientes que estudamos, disse Marc Chamberlain , co-autor do estudo.
Segundo o estudo, a possível causa para o abandono dessas mulheres parte do princípio de que os homens não se sentem tão capazes de cuidar de outra pessoa, quanto as mulheres.
Isso pode ser parcialmente explicada pela falta de capacidade do homem, em comparação com as mulheres, de assumir mais rápidos o compromisso de ser cuidador de um parceiro doente.
Essa ideia pode ser reforçada por diversos comportamentos frequentes na sociedade. Por exemplo, o fato de uma mulher crescer sendo educada para cuidar dos outros é um deles. Segundo os autores do estudo, os abandonos podem ser amenizados com psicoterapia para o casal assim que o diagnóstico é feito.
Recomendamos que os profissionais de saúde sejam especialmente sensíveis às sugestões iniciais de discórdia conjugal em casais afetados pela ocorrência de uma doença grave, especialmente quando a mulher é o cônjuge afetado e ocorre no início do casamento. A identificação precoce e a intervenção psicossocial podem reduzir a frequência de divórcio e separação e, por sua vez, melhora a qualidade de vida e a qualidade do atendimento.
Estudos mostram que os homens sofrem calados quando suas esposas são diagnosticadas com câncer de mama. O que nos leva novamente à questão da psicoterapia.
É importante que os parceiros entendam bem a situação, para saber melhor como lidar com ela. Por isso, o primeiro passo é estar junto com a esposa nas consultas. No entanto, caso não se sinta confortável em fazer perguntas na frente dela, converse de forma reservada com o médico. Afinal, ter todas as informações é extremamente necessário.
É necessário estar atento aos cuidados médicos da esposa, bem como a relação conjugal. Tentar, na medida do possível, manter a relação tranquila. Fazer do relacionamento um local de conforto e acolhimento. Bem como é necessário estar aberto a buscar ajuda profissional quando a situação ficar complicada.
Em 2016, o psicólogo Leonardo Yoshimochi realizou um estudo sobre os impactos do diagnóstico do câncer de mama na vida dos parceiros de mulheres acometidas com a doença. E em entrevista ao site da USP, o psicólogo relata:
É necessário que a relação do casal seja bem cuidada, caso contrário, acaba se tornando uma situação ainda mais traumática, e com isso o tempo para melhora emocional deles pode ser estendido e levar anos.
Existem cada vez mais os hospitais especializados no em pacientes com Câncer buscando formas de apoiar os cuidadores (forma como o familiar que cuida do paciente é chamado). É importante entender seu papel dentro dessa situação. O cuidador também precisa de cuidado. Por isso, é importante que você busque ajuda profissional.
No entanto, caso o hospital onde a paciente está se tratando não tenha esse tipo de ajuda direcionada ao cuidador, você pode buscar outro tipo de ajuda. O Instituto Oncoguia montou um Guia para o familiar de um paciente com câncer. Lá você consegue informações necessárias para cuidar do paciente e de si.
Você não será considerado egoísta por precisar de um tempo para si. Então, tente manter uma prática esportiva, meditação ou mesmo psicoterapia. Algo que você tenha um momento seu, onde pode organizar seus pensamentos e sentimentos.
No entanto, é sempre necessário lembrar que a mulher é a pessoa adoentada. É preciso ter empatia com o misto de sentimentos que a mulher com câncer de mama passa. Vão ter muitos dias difíceis, mas ela precisa do seu apoio para passar por isso.